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quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

A Beleza e a Verdade de Cristo





Por Joseph Ratzinger

Por um lado, a arte cristã deve opor-se ao culto da feiúra, que diz que tudo o que é belo é uma ilusão; por outro, deve contrapor-se à beleza fraudulenta, que faz com que o ser humano se rebaixe ao invés de fazê-lo grande.


A VERDADE DE CRISTO: O HOMEM DAS DORES, BELO DENTRE OS HOMENS
Todos os anos, na Liturgia das Horas prevista para o Tempo da Quaresma, volto a assombrar-me com um paradoxo presente nas vésperas da segunda-feira da Segunda Semana do Saltério. Aqui, lado a lado, estão duas antífonas, uma para o Tempo da Quaresma, a outra para a Semana Santa. Ambas reproduzem o Salmo 44 [45], mas apresentam interpretações surpreendentemente contraditórias. O salmo descreve o casamento do rei, a sua beleza, as suas virtudes, a sua missão, e volta-se a seguir para a exaltação da sua esposa. No Tempo da Quaresma, o Salmo 44 vem emoldurado pela mesma antífona usada no restante do ano. O terceiro verso do salmo diz: Tu és o mais belo dentro os filhos dos homens, e a graça é derramada sobre os teus lábios.
Naturalmente, a Igreja vê nesse salmo uma representação poético-profética da relação esponsal de Cristo com a sua Igreja. Ela reconhece Cristo como o mais belo dentre os homens, e a graça derramada sobre os seus lábios aponta para a beleza intrínseca das suas palavras, a glória da sua pregação. Assim, não é meramente a beleza externa da aparência do Redentor que é glorificada; antes, transparece nele a própria beleza da Verdade, a beleza do próprio Deus que nos atrai a si e ao mesmo tempo nos captura pela ferida do Amor, a santa paixão (eros) que nos permite seguir adiante juntos – com e na Igreja, a sua Esposa – para encontrar o Amor que nos chama.
Na segunda-feira da Semana Santa, porém, a Igreja modifica essa antífona e nos convida a interpretar o Salmo à luz de Isaías 53, 2: Não há nele nenhuma formosura, nenhuma majestade, nada que atraia os olhares, nenhuma graça que nos agrade. Como podemos reconciliar uma coisa com a outra? A aparência do mais belo dentro os filhos dos homens está tão desfigurada que ninguém deseja olhá-lo. Pilatos apresentou-o à multidão dizendo: “Eis o homem”, para suscitar a simpatia deles pelo Homem esmagado e espancado, no qual não havia mais nenhuma beleza exterior.

DUAS TROMBETAS DO MESMO ESPÍRITO
Agostinho, que na sua juventude escreveu um livro sobre A beleza e o harmônico [De pulchro et apto] e que apreciava a beleza nas palavras, na música, nas artes figurativas, tinha uma aguda consciência desse paradoxo. Descobriu que, sob essa perspectiva, a grande filosofia grega sobre a beleza não era pura e simplesmente rejeitada, mas ao menos tinha de ser posta em dúvida dramaticamente; era preciso rediscutir e tornar a submeter-se às questões sobre o que vinha a se o belo, o que significava a beleza?
Referindo-se ao paradoxo contido nos textos que mencionamos, falava do toque contrastante de “duas trombetas”, mas produzido por um mesmo sopro, um mesmo Espírito. Sabia que um paradoxo significa contraste, não contradição. Ambas os versículos vêm do mesmo Espírito que inspira toda a Escritura, mas toca notas diferentes nela. É deste modo que ele nos põe diante da totalidade da verdadeira Beleza, da própria Verdade.
Em primeiro lugar, o texto de Isaías levantava uma questão que interessou os Padres da Igreja: se Cristo era ou não belo. Está implícita aqui a questão mais radical de saber se a beleza é verdadeira, ou se pelo contrário é a feiúra o que nos leva à verdade mais profunda da realidade. Quem quer que creia em Deus, no Deus que se manifestou precisamente na aparência desfigurada de Cristo crucificado como amor até o fim (Jo 13, 1), sabe que beleza é verdade e verdade, beleza; mas em Cristo sofredor também aprende que a beleza da verdade acolhe igualmente a ofensa, a dor e mesmo o sombrio mistério da morte, e que ela só pode ser encontrada quando se aceita o sofrimento, não quando se procura ignorá-lo.

PLATÃO MOSTRA QUE A BELEZA TRAZ CONSIGO A DOR DO DESCONTENTAMENTO
Sem dúvida, a consciência de que a beleza tem algo a ver com a dor já estava presente no mundo grego. A título de exemplo, vejamos o Fedro de Platão. Platão contempla o encontro com a beleza como o choque emocional salutar que faz o homem sair da sua concha e acende o seu “entusiasmo”, atraindo-o para algo que é diferente dele mesmo – o outro. O homem, diz Platão, perdeu a perfeição original que havia sido concebida para ele. Agora está perpetuamente à procura da primitiva forma que o curaria. A nostalgia e a ânsia impelem-no a continuar essa busca; a beleza impede que se contente apenas com o dia-a-dia, fá-lo sofrer. Num sentido platônico, poderíamos dizer que a flecha da nostalgia penetra o homem, fere-o e desta forma dá-lhe asas, eleva-o em direção ao transcendente. No seu discurso no Banquete, Aristófanes afirma que os amantes não sabem o que realmente querem um do outro. A busca por algo que é mais do que o seu prazer torna evidente que as almas de ambos têm sede de alguma coisa que vai além da fruição amorosa. Mas o coração não pode expressar essa “outra” coisa, “só tem uma vaga idéia do que ele realmente quer e pondera-o como um enigma”.

NICOLAU CABASILAS: A FERIDA DA BELEZA DA ESPOSA
No século XIV, no livro A vida em Cristo do teólogo bizantino Nicolau Cabasilas, redescobrimos essa experiência de Platão em que o objeto último da nostalgia, transformado pela nova experiência cristã, continua a ser algo inominado. Cabasilas diz: “Quando os homens têm uma ânsia tão grande que ultrapassa a natureza humana, quando desejam avidamente e são capazes de empreender coisas que vão além da mente humana, foi o Esposo que os feriu com essa ânsia. Foi Ele que mandou um raio da sua beleza diretamente aos seus olhos. Se a extensão da ferida mostra que a flecha chegou ao seu alvo, a ânsia mostra quem foi que infligiu a ferida” 1.------------------------------------(1) Cf. “A vida em Cristo”, livro II, 15.------------------------------------
O belo fere, mas é exatamente dessa forma que convoca o homem para o seu destino final. Aquilo que disse Platão e, mais de 1.500 anos depois, aquilo que disse Cabasilas não têm nada que ver com um esteticismo superficial ou um irracionalismo, ou com a fuga da clareza e do peso da razão. O belo é certamente conhecimento, mas numa forma superior, já que desperta o homem para a real grandeza da verdade. Aqui, Cabasilas permaneceu totalmente grego, pois atribui o primeiro lugar ao conhecimento quando diz: “Na realidade, é o conhecimento que causa o amor e o gera... Uma vez que esse conhecimento ora é muito amplo e completo, ora imperfeito, segue-se que a poção do amor tem o mesmo efeito” 2.------------------------------------(2) Cf. ibid.------------------------------------
Ele não se contenta em deixar essa afirmação em termos gerais. No seu pensamento tipicamente rigoroso, traça uma distinção entre dois tipos de conhecimento. Um é o conhecimento por instrução, que permanece, por assim dizer, como algo “de segunda mão” e não implica um contato direto com a própria realidade. O outro é aquele que surge através da experiência pessoal, de uma relação direta com a realidade.
[Do primeiro, diz:] “Portanto, não o amamos na medida em que é um digno objeto de amor, e como não percebemos a própria forma, não experimentamos o seu efeito próprio”. Já o verdadeiro conhecimento é ser atingido pela flecha da Beleza que fere o homem, movido pela realidade: “pois é Cristo ele mesmo que está presente e de um modo inefável dispõe e forma as almas dos homens” 3.------------------------------------(3) Cf. ibid.------------------------------------
Ser atingido e dominado pela beleza de Cristo constitui um conhecimento mais real, mais profundo, do que a mera dedução racional. É claro que não devemos subestimar a importância da reflexão teológica, do pensamento teológico exato e preciso; ele continua absolutamente necessário. Mas daí a desdenhar ou rejeitar o impacto produzido pela resposta do coração no encontro com a beleza, considerada como uma autêntica forma de conhecimento, seria empobrecer-nos, ressecar a nossa fé e a nossa teologia. Precisamos redescobrir esse modo de conhecer, e essa é uma necessidade urgente nos nossos dias.

A NECESSIDADE PASTORAL DA ESTÉTICA TEOLÓGICA
Partindo desse conceito, Hans Urs von Balthasar construiu o seu Opus magnum de Estética Teológica. Muitos dos seus detalhes secundários foram acolhidos no trabalho teológico, mas a sua abordagem fundamental, na verdade o elemento essencial de toda a sua obra, não foi tão prontamente acolhido. Obviamente não se trata apenas, nem principalmente, de um problema teológico, mas de um problema da vida pastoral, que precisa encorajar o encontro da pessoa humana com a beleza da fé. Com demasiada freqüência, os argumentos racionais encontram ouvidos surdos porque no nosso mundo muitas afirmações contraditórias competem entre si, a tal ponto que nos lembramos da descrição feita pelos teólogos medievais da razão, que teria “um nariz de cera”: em outras palavras, pode-se apontá-la em qualquer direção se se for suficientemente esperto. Tudo faz sentido, tudo é tão convincente; em quem devemos confiar?

A FLECHA DO BELO PODE GUIAR A MENTE PARA A BELEZA: BACH, RUBLEV
O encontro com o belo pode tornar-se a ferida da flecha que atinge o coração e desta forma abre os nossos olhos, de modo que, mais tarde, possamos tirar dessa experiência os critérios de juízo e avaliemos corretamente os argumentos. Para mim uma experiência inesquecível foi o concerto de Bach que Leonard Bernstein conduziu em Munique depois da súbita morte de Karl Richter. Eu estava sentado ao lado do bispo luterano Hanselmann. Quando a última nota de uma das maiores cantatas de Thomas Kantor se dissipou triunfante, nós nos entreolhamos espontaneamente e dissemos de imediato: “Quem quer que tenha ouvido isso sabe que a fé é verdadeira”.
A música tinha uma força tão extraordinária de realidade que percebemos, não por dedução, mas pelo impacto sobre os nossos corações, que a realidade não podia ter-se originado do nada, que só podia ter chegado a ser pelo poder da Verdade que se tinham tornado real na inspiração do compositor. E a mesma coisa não fica evidente quando deixamos comover pelo ícone da Trindade de Rublev? Na arte dos ícones, como nas grandes pinturas ocidentais do período Gótico e Românico, a experiência descrita por Cabasilas, a começar pela interioridade, é retratada de um modo visível e pode ser compartilhada.
A BELEZA DO ÍCONE: JEJUM DA VISTA
Pavel Evdokimov mostrou de modo muito rico o caminho interior que um ícone estabelece. Um ícone não reproduz simplesmente o que se pode perceber pelos sentidos, mas antes pressupõe, como ele diz, “um jejum da vista”. A percepção interior deve libertar-se da mera impressão sensível e, por meio da oração e do esforço ascético, adquirir uma nova e mais profunda capacidade de ver, de realizar a passagem daquilo que é meramente exterior para as profundezas da realidade; assim, o artista pode ver o que os sentidos em si não podem, o que realmente transparece naquilo que pode ser percebido: o esplendor da glória de Deus, a glória de Deus brilhando na face de Cristo (2 Cor 4, 6).
Admirar os ícones e as grandes obras-primas da arte cristã em geral conduz-nos por um caminho interior, um modo de nos superarmos; nessa purificação do olhar que é uma purificação do coração, revela-se-nos a beleza, ou ao menos um brilho dela. Dessa forma, entramos em contato com o poder da verdade. Muitas vezes afirmei a minha convicção de que a verdadeira apologia da fé cristã, a demonstração mais convincente da sua verdade contra qualquer negação, são os santos e a beleza que a fé gerou. Hoje, para que a fé cresça, devemos levar-nos e às pessoas que conhecemos a um encontro com os santos e a um contato com o belo.
Agora, porém, ainda temos de responder a uma objeção. Já rejeitamos a noção de que o que foi dito constitui um vôo em direção ao irracional, ao mero esteticismo. Na verdade, o oposto é que verdade: esta é exatamente a maneira pela qual a razão se liberta do embotamento e se torna pronta para agir.

A CONTRAFAÇÃO DA BELEZA: FALSIDADE, SEDUÇÃO, MAL
Hoje, outra objeção tem um peso ainda maior: a mensagem da beleza é posta em dúvida inteiramente pelo poder da falsidade, da sedução, da violência e do mal. A beleza pode ser genuína, ou, afinal, é apenas uma ilusão? A realidade não será basicamente má? O medo de que no fim das contas a flecha da beleza não nos leve à verdade, mas de que seja a falsidade, tudo o que é feio e vulgar, o que constitua a verdadeira “realidade”, sempre causou angústia nas pessoas.
Na atualidade, isso foi expresso na afirmação de que, depois de Auschwitz, não seria mais possível escrever poesia; depois de Auschwitz, não seria mais possível falar de um Deus que fosse bom. As pessoas se perguntavam: onde estava Deus quando a câmara de gás estava funcionando? Esta objeção, que parecia bastante razoável já antes de Auschwitz, quando se tomava consciência de todas as atrocidades perpetradas ao longo da história, mostra que um conceito puramente harmônico da beleza não é suficiente. Ele não suportaria o confronto com a gravidade da questão a respeito de Deus, da verdade e da beleza. Apolo, que para o Sócrates de Platão era “o Deus” e o protetor da beleza imaculada como “a verdadeiramente divina”, absolutamente já não basta.

A VERDADEIRA BELEZA DE CRISTO QUE NOS AMA ATÉ O FIM
Voltamos assim às “duas trombetas” de que fala a Bíblia e com as quais começamos esta meditação, ao paradoxo de se poder dizer de Cristo: Tu és o mais belo dentro os filhos dos homens e Não há nele nenhuma formosura, nenhuma majestade, nada que atraia os olhares, nenhuma graça que nos agrade. Na Paixão de Cristo, a estética grega, que merece admiração por ter percebido o contato com o divino, mas não conseguiu exprimi-lo, não é deixada de lado, mas superada.
A experiência do belo recebeu uma nova profundidade e um novo realismo. Aquele que é a própria Beleza deixou que o esbofeteassem no rosto, que cuspissem nEle e o coroassem de espinhos; o Sudário de Turim pode ajudar-nos a imaginá-lo de um modo realista. Entretanto, nesta Face tão desfigurada é que aparece a genuína, a extrema beleza: a beleza do amor que vai até o fim, e que por essa razão se manifesta como maior do que a falsidade e a violência.
Quem quer que tenha percebido essa beleza sabe que a verdade, e não a falsidade, é a real aspiração do mundo. Não é o falso que é o “verdadeiro”, mas sim a Verdade. O falso usa, por assim dizer, o novo truque de se apresentar como “verdade” e de dizer-nos: “além e acima de mim, basicamente não há nada; pare de procurar ou até de amar a verdade; ao fazê-lo, você está no caminho errado”.
O ícone de Cristo crucificado liberta-nos desse engano que está tão difundido nos dias de hoje. Entretanto, impõe-nos uma condição: que nos deixemos ferir por ele e que creiamos no Amor daquele que pôde correr o risco de deixar de lado a sua beleza exterior a fim de proclamar, precisamente desta forma, a verdade do belo.

MANIPULAÇÃO ATRAVÉS DE UMA BELEZA FALSA E ENGANOSA
Mas a falsidade ainda tem outro estratagema: uma beleza que é enganosa e falsa, uma beleza deslumbrante que não tira as pessoas de si mesmas para as abrir ao êxtase de subir às alturas, mas pelo contrário as fecha dentro de si mesmas. Tal beleza não desperta o desejo do Inefável, a prontidão para o sacrifício, o abandono de si, mas ao contrário instiga o desejo, a vontade de poder, de posse e de prazer.
É desse tipo de experiência da beleza que o Gênesis fala na narrativa do pecado original. Eva notou que a fruta da árvore era “bela” para se comer, e que era aprazível aos olhos. O belo, como ela o experimentou, despertou nela um desejo de posse, fazendo-a por assim dizer voltar-se para si mesma. Quem não reconheceria, por exemplo, na publicidade as imagens feitas com extrema habilidade, criadas para tentar irresistivelmente o ser humano, para fazê-lo querer possuir todas as coisas e procurar uma satisfação passageira, ao invés de abrir-se para os outros?

EVITAR O CULTO DO FEIO E O MEDO DO ENGANO COM A BELEZA REDENTORA DE CRISTO NOS SANTOS E NA ARTE CRISTÃ
A arte cristã, hoje, está entre a cruz e a espada (como talvez sempre tenha estado): por um lado, deve opor-se ao culto da feiúra, que diz que tudo o que é belo é uma ilusão e que só a representação do cruel, baixo e vulgar é a verdade, a verdadeira luz do conhecimento. Por outro, deve contrapor-se à beleza fraudulenta, que faz com que o ser humano se rebaixe ao invés de fazê-lo grande, e que por essa razão é falsa.
Existe alguém que não conheça a frase tão citada de Dostoievsky: “O belo nos salvará”? Entretanto, as pessoas normalmente se esquecem de que Dostoievsky se refere aqui à Beleza redentora de Cristo. Precisamos aprender a vê-Lo. Se nós O conhecermos, não apenas nas palavras, mas se formos trespassados pela flecha da sua beleza paradoxal, só então O conheceremos verdadeiramente, e não apenas porque ouvimos outras pessoas falando a seu respeito. E então teremos encontrado a beleza da Verdade, da Verdade que redime. Nada pode pôr-nos em contato tão próximo com a beleza do próprio Cristo como o mundo de beleza criado pela fé e a luz que brilha na face dos santos, através dos quais a própria luz do Senhor se torna visível.
Fonte: Osservatore Romano

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Pregações

PREGAÇÕES DE FREI RANIERO CANTALAMESSA:
(Excelentes pregações ministradas pelo pregador oficial da Casa Pontifícia)

- Fino alla morte, e alla morte di croce
http://www.4shared.com/file/159192002/9cade797/Fino_alla_morte_e_alla_morte_d.html


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“Spe gaudentes” lieti nella speranza

http://www.4shared.com/file/159142660/d8e4993e/Spe_gaudentes_lieti_nella_sper.html


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Osserviamo la regola che abbiamo promesso
http://www.4shared.com/file/159191965/49f741d3/Osserviamo_la_regola_che_abbia.html
Outro dia, ao chegar em casa percebi que o condomínio onde moro estava todo sinalizado com placas de limite de velocidade, locais proibidos de estacionar; placas indicando para não jogar lixo no chão, não buzinar, proibido som e assim por diante. Tudo com o intuito de estabelecer um melhor ordenamento entre os condôminos e comunicar bem as regras de boa conduta interna. Contudo, qual foi minha surpresa ao ver, logo na entrada da portaria, o seguinte aviso: “Cuidado! Crianças no condomínio!”. Inevitavelmente pensei comigo: “Nossa! Elas devem mesmo ser muito perigosas!”
Brincadeiras à parte e fazendo uma analogia com este ocorrido, podemos analisar o fato e tentar aplicá-lo ao nosso ministério de pregadores da Palavra de Deus. Ou seja, como é importante nos comunicarmos bem e transmitir a mensagem do Senhor de tal forma que ela consiga chegar em sua inteireza àqueles a quem ela se destina, a fim de evitar desvios e interpretações distorcidas do anúncio proclamado.
No exemplo acima, a intenção da placa era informar aos motoristas quanto à presença de crianças no condomínio alertando-os, assim, a trafegarem com cuidado nas dependências do mesmo, a fim de evitar acidentes com as crianças que, porventura, estivessem nestes espaços. No entanto, esta mensagem – originalmente bem intencionada – deixou margem para outras interpretações diferentes da que se desejava. Desse modo, a mensagem correu o risco de não comunicar o que se propunha, ou comunicar com ineficiência e ineficácia.
Não podemos correr o mesmo risco quando a mensagem que desejamos transmitir e comunicar é a Palavra de Deus. Evidente que por si mesma ela já comunica e fala aos corações, mas Deus se faz precisar dos nossos lábios para ser anunciado. Portanto, naquilo que competir aos pregadores, precisamos fazer com que a palavra anunciada seja palavra recebida. Esta, por sua vez e com a graça de Deus, se tornará palavra vivida.
Podemos, então, nos perguntar se existe algum método para fazer com que isto aconteça. Ora, a pregação da Palavra de Deus, embora essencialmente deva ser inspirada e conduzida pelo Espírito Santo, também é um método de elocução. Desse modo, o Espírito age por meio das faculdades humanas, com todos os seus limites e potencialidades. Como método, esta forma de elocução (oratória sacra ou homilética) também pode ser composta de alguns recursos e técnicas que auxiliam no momento em que a mensagem é verbalizada.
Como técnica de comunicação, a oratória sacra também trilha um caminho. Sabemos que toda comunicação tem seu ponto de partida no chamado “agente emissor”. Existe, ainda, o “agente receptor”, ou seja, a quem se destina a mensagem. Entre o primeiro e este último existe um espaço intermédio que se poderia chamar de “canal transmissor”. Isto implica dizer que a comunicação para acontecer precisa, fundamentalmente, de três elementos: 1) agente emissor: canal de onde se origina a mensagem (pode ser um quadro, um cartaz, vídeo, música, texto e, no nosso caso, o(a) pregador(a). 2) canal transmissor: o meio pelo qual será enviada, transmitida a mensagem (rádio, televisão, exposição visual ou oral, etc). 3) agente receptor: o objeto de destino da mensagem (no caso da pregação, a assembléia para a qual nos dirigimos). Assim, a comunicação só poderá acontecer se estes três elementos estiverem presentes. A ausência de um deles indica que não houve comunicação.
Não adianta ter um canal de transmissão disponível e um público pronto para receber a mensagem se esta não for comunicada, ou seja, se faltar o transmissor da mensagem. Do mesmo modo, se houver o agente transmissor para enviar a mensagem e um público que a receba, mas se faltar o canal por onde ela seja transmitida – ou se o mesmo não for adequado – a mensagem não chegaria ao destino ou chegaria incompleta, incompreensível e inacessível. Portanto, ainda não haveria se estabelecido uma comunicação.
Se, por fim, houvesse um agente emissor pronto a enviar a mensagem e meios para transmiti-la, mas se faltar quem receba a mensagem, de igual forma, a comunicação seria ausente, pois não haveria um para quem (caráter teleológico da pregação), o destino final da mensagem e início da comunicação. Digo início da comunicação porque, como veremos, a comunicação exige reciprocidade. Ela vai, mas também retorna.
Destes três elementos, apenas um pode ser controlado e trabalhado diretamente pelo pregador. O outro pode ser administrado conforme as circunstâncias, mas ainda foge de seu controle. Por fim, o último elemento não está sob o controle do pregador, tornando-se mesmo imprevisível, mas pode, em contrapartida, influenciar diretamente o pregador no seu anúncio.
O elemento sobre o qual o pregador possui algum tipo de controle e pode realizar algum trabalho para melhorar a comunicação é ele mesmo, ou seja, o transmissor da mensagem. Pode melhorar sua transmissão de inúmeros modos, sobretudo, a vida de oração e abertura ao Espírito Santo. Mas também pode trabalhar sua dicção, a concatenação de suas idéias, a lógica da exposição, a maneira como se relaciona com a assembléia, a projeção de sua voz, o conteúdo de sua pregação, sua postura e etc. Desse modo, se não se tem controle sobre a transmissão da mensagem nem da assembléia que a recebe, o pregador precisa desenvolver ao máximo aquilo que lhe compete e pode melhorar: ele mesmo.
O segundo elemento que se apresenta e sobre o qual não se tem um total controle é o canal de transmissão. Isto se deve ao fato de agentes exteriores que interferem positiva e negativamente na pregação da palavra. Por exemplo, se o local onde acontece a pregação for muito quente, barulhento, dispersivo, o som do microfone não for o adequado, distração, entre outros. Tudo isto pode comprometer a recepção da mensagem, pois o canal por onde ela passa, podemos dizer, não distribui integralmente a mensagem. Um local barulhento, por exemplo, pode impedir a assembléia de escutar tudo que o pregador anunciou. Um local muito dispersivo pode desviar a atenção da assembléia para outras coisas que não a Palavra de Deus anunciada, o que também comprometeria a chegada e acolhida da mensagem.
Por fim, poderíamos dizer que sobre a assembléia não se teria algum tipo de controle no sentido de antecipar sua reação à recepção positiva ou negativa do anúncio proclamado. E, neste sentido, cada pregação reserva uma novidade, pois cada assembléia receberá de um jeito próprio a Palavra que vai ser pregada. Esta resposta da assembléia àquilo que é pregado vai influenciar o pregador durante sua proclamação.
Com estas observações fica-nos evidente dizer que uma vez que não temos como controlar ou prever as condições em que a Palavra será anunciada (barulhos, distrações, interferências) e, tampouco, como a Palavra será acolhida (reação da assembléia), compete a nós – os pregadores – desenvolver, moldar e formar aquilo que nos restou para trabalhar: nós mesmos. Neste sentido, nós somos e precisamos ser cada vez mais a matéria-prima de onde Deus se faz utilizar para anunciar sua Palavra. Somos o barro de onde Deus nos faz novos homens e mulheres. Somos a argila da qual o divino oleiro vai moldando e conformando à sua santa vontade.

Francisco Elvis Rodrigues Oliveira
Coord. Ministério de Pregação
R.C.C. Fortaleza

Missão em Codó/MA




Irmãos!
Gostaria de partilhar a imensa glória de Deus que foi a missão realizada na Cidade de Codó, no Maranhão.
Nos dias 06, 07 e 08 de Novembro, nosso querido irmão e núcleo do ministério de pregação de Fortaleza, Marcelo Ricardo e eu fomos em missão pregar um encontro na cidade de Codó, no Maranhão.
O encontro chamado VINDE E VEDE está em sua 12º edição e teve por tema "Jesus é o Senhor".
Os irmãos daquela cidade nos acolheram muito bem e, mais do que isto, acolheram as graças e o fogo do Espírito derramado sobre todos os que estávamos presentes e sobre nossas casas. Deus operou muitos sinais, libertações, curas de vícios, relacionamentos familiares e outras maravilhas aos nossos olhos!
voltamos para nossa terra com a sensação de "missão cumprida" e com o desejo renovado de gastar nossa vida pelo anúncio da Palavra do Senhor!
Irmãos, o Senhor precisa ser cada mais anunciado e glorificado. Com nossas palavras e, sobretudo, com nossa vida.


Agradecemos a todos que ficaram em intercessão por esta missão.
Que nossos lábios possam sempre dizer ao Senhor: "Eis-me aqui, envia-me".

Abraços a todos.
Em Jesus e Maria.



Francisco Elvis Rodrigues Oliveira
(Coord. Ministério Pregação - RCC Fortaleza)

sábado, 3 de outubro de 2009

SOBRE A IMPORTÂNCIA DA FORMAÇÃO E CATEQUESE NO ANÚNCIO DA PALAVRA DE DEUS

Geralmente quando se fala em formação, inevitavelmente nos vem à mente um momento de aprendizado, recepção de conteúdo, estudo e assim por diante. Mas, dificilmente se espera que em momentos como este ocorram grandes conversões, alta emotividade, curas e mesmo outras manifestações mais efusivas. Ou seja, o se que espera, convencionalmente, é um momento mais racional, um ambiente de estudo e reflexivo.

Evidente que não pretendo encerrar aqui o Espírito Santo, pois ele sopra onde quer, nem tampouco desejo fechar os olhos para a ação da graça dentro de elementos e conteúdos formativos. Apenas o que evidencio é uma concepção ingênua, por assim dizer, que se tem concebido coletivamente onde o momento mais “favorável” de uma ação mais efusiva do Espírito Santo seria, por exemplo, durante uma pregação, um louvor animado ou em momentos intensos de oração. Desse modo, aos momentos formativo-catequéticos estariam reservadas expressões menos emotivas e mais lógico-intelectuais.

No entanto, isto não aparece como verdadeiro. E gostaria de partilhar, em especial com meus irmãos responsáveis pelo ministério de formação, que mesmo que o público que busca as formações se trate, em grande maioria, de pessoas evangelizadas, ainda neste contexto podemos ser surpreendidos com testemunhos que por vezes se assemelham aos daqueles que acabaram de ter seu primeiro encontro pessoal com Jesus. Daí a máxima “pregar formando e formar pregando”.

Este ano, A comunidade que participo (Comunidade Católica da Transfiguração) me enviou para assumir um compromisso na paróquia, a fim de ministrar um curso sobre doutrina católica, onde pretendemos estudar todo o Catecismo ao longo de um ano. Embora, o conteúdo seja essencialmente formativo, racional e pareça requerer apenas estudo, Deus tem realizado uma obra nova e maravilhosa aos nossos olhos. Veja que não se trata de uma pregação em um grande encontro, com a dinâmica que tem o anúncio querigmático, mas trata-se de conteúdo de formação, com uma pedagogia mais exigente, reflexiva, talvez menos dinâmica, etc. Contudo, gostaria de destacar dois testemunhos que me chamaram a atenção.

O primeiro se deu ao estudarmos a primeira parte do Catecismo onde tratávamos sobre o Credo, chegamos ao artigo que abordava as questões sobre a morte (são os artigos “creio na ressurreição da carne” e “creio na vida eterna”). Ao finalizar, uma das participantes disse aos prantos, que finalmente havia compreendido o significado da morte para o cristianismo e que Deus a havia libertado do sentimento depressivo com relação à morte de seu pai. A partir deste curso ela havia compreendido a morte cristã com esperança e não com sentimento de tristeza.

O segundo testemunho veio de um casal. No momento em que estudávamos os sacramentos (em especial, o matrimônio), a esposa tomou a palavra e disse que o curso tem colaborado para o engajamento de seu marido, pois ele não estava engajado em nenhum serviço dentro da igreja. Como o curso é ministrado no período da noite, o marido começou acompanhá-la. Ele passou a se interessar pelo curso e a conhecer as “coisas da Igreja” (palavras dele) e a partir de então, está engajado na pastoral do batismo. Conforme ele mesmo testemunhou “a única coisa que ele havia feito na igreja foi ter casado no religioso”. Mas com o curso ele havia adquirido uma nova visão sobre a igreja e passou a nutrir um amor por ela e o desejo de servir em algum movimento ou pastoral naturalmente surgiu em virtude do conhecimento adquirido. Mais uma vez outra máxima: “só se ama aquilo que se conhece”.

Irmãos formadores (incluo aqui os catequistas). Gostaria de deixar minha admiração e motivação para continuarmos neste trabalho de formar Cristo nos outros (bem como nos deixarmos formar por Ele). Não descuidem da espiritualidade em favor do conhecimento. Engana-se quem pensa que para formar bem precisa mais de estudo do que de oração. Ao contrário, nossas formações, cursos e catequeses precisam estar sobremaneira sob a graça de Deus, pois juntamente com a pregação, a formação compõe a complementaridade do anúncio da Palavra de Deus que se apresenta como amor e ao mesmo tempo nos convida para avançarmos para águas mais profundas.

Francisco Elvis Rodrigues Oliveira.

Coord. Ministério Pregação – RCC Fortaleza

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Pregação x Arco e Flecha

Muitas vezes e mesmo por questões de didática, lançamos mão de exemplos e comparações, na tentativa de explicar algo de conteúdo nem sempre definível ou de fácil compreensão. Isto ocorria com as parábolas que Jesus contava, no intuito de falar das coisas do céu a partir das realidades da terra (bom pastor, grão de mostarda, trigo e joio, o semeador, etc).
Isto também ocorre quando se pretende de algum modo, definir o que seja o ministério de pregação e os tipos de pregadores – se é que se poderia enquadrar o pregador dentro de algum perfil determinado, visto que não somente o pregador, mas o ser humano em geral, se apresenta muito mais complexo do que certos conceitos já postos. Mas, como no início [didaticamente], gostaria também de apresentar alguma contribuição na compreensão do exercício deste lindo ministério.
A visão que se me apresenta daquilo que poderia ser comparado o ministério de pregação e que bem o demonstra seria a da prática do arco-e-flecha. Esta imagem comparativa do arco-e-flecha com o ministério de pregação surgiu quando fiz uma leitura sobre esta atividade e no livro , o autor descrevia pormenorizadamente tudo que caracterizava tal atividade, bem como a composição de seus elementos (arco, flecha, alvo, etc).
A prática de arco-e-flecha requer alguns elementos que a componham. Não somente, mas a qualidade e uso destes elementos também influenciam o resultado desta atividade. Estes elementos são, essencialmente, o arco, a flecha, um alvo e, evidentemente, o arqueiro. Traçando um paralelo entre as atividades do tiro com arco e da pregação, podemos destacar os três elementos desta primeira, a saber: o arco, a flecha e o alvo.

O ARCO

Originalmente , o arco deve ser feito de um tipo de madeira que resista a grandes tensões, pois o melhor arco é aquele que tem a maior capacidade de envergadura, ou seja, a capacidade de se dobrar sem quebrar (resiliência), pois quanto maior a curvatura que o arco faz, tanto maior é a propulsão com que pode lançar a flecha.
O pregador é como este arco. A “madeira” da qual ele é constituído chama-se oração. É ela que confere a capacidade de resiliência. Ou seja, quanto mais o pregador se “dobra” ou, melhor dizendo, se deixa ser dobrado, tanto melhor é para ele e para seu ministério. Mas – podemos nos perguntar – como um pregador pode se dobrar ou ser dobrado? Respondemos à esta indagação dizendo que a resposta é a oração.
Tanto no sentido de dobrar-se conquanto significa dizer que o pregador é aquele que se dobra, que se coloca de joelhos diante de Deus, bem como ele deve ser dobrado por Ele – no que se refere a deixar-se lapidar, moldar, converter-se por Deus para uma vida de oração – mudando seus valores, conceitos, idéias e ideais, etc.
Então, do mesmo modo que a madeira quanto mais dobrada pode lançar a flecha com maior impulso e distância, assim também quanto mais vida de oração e escuta, portanto, quanto mais dobrado o pregador estiver, mais longe e com maior impulso poderá lançar sua flecha. A esta altura já podemos compreender que ela (a flecha) é a Palavra de Deus. Precisamos nos dobrar constantemente diante do Senhor.

A FLECHA

Como já pudemos indicar anteriormente, a flecha pode ser compreendida como a própria Palavra de Deus. A flecha é um instrumento pontiagudo, penetrante e quando atinge o alvo, não se pode retirá-la sem dificuldades. Ou seja, uma vez penetrada ela deixa marcas no alvo, profundas e quando se tenta retirá-la, somente imprimindo uma força tal que, mesmo se conseguindo arrancá-la, deixa seus vestígios da perfuração.
De modo semelhante se dá com a Palavra de Deus. São Paulo já se referia à Sagrada Escritura como sendo um instrumento pontiagudo, penetrante . Uma vez lançada esta “flecha” da Palavra de Deus e atingido o alvo, ela não pode ser retirada sem deixar de produzir seu efeito, pois penetra profundamente deixando marcas onde é lançada (anunciada). E, a exemplo da passagem do semeador, caso algo ou alguém venha a retirar a Palavra semeada, esta não sairá sem esforço ou sem dor, pois ela é penetrante deixando sempre seus vestígios .
Entretanto, assim como a flecha se não for lançada, portanto, se não tiver uma força propulsora se torna apenas um pedaço de madeira, sem efeito, não penetra nem fura, de igual modo, a Bíblia quando não anunciada com o poder do Espírito, pode continuar sendo vista pelo mundo como um mero livro que não causa efeito algum. É preciso, pois, lançar a flecha. É preciso anunciar!

O ALVO

O terceiro elemento componente da prática de tiro com arco é o alvo. Ele é o objetivo, o destino e fim último da flecha lançada pelo arqueiro. Geralmente é colocado a uma certa distância do arqueiro. Alguns são estáticos. Estão no mesmo lugar apenas “esperando” para serem flechados. Outros são colocados como alvos móveis. Mas uma coisa é comum entre ambos: a flecha precisa alcançá-los. Precisa chegar até eles penetrá-los.
Evidente que nesta comparação o alvo se assemelha ao povo de Deus. Seja ele enquanto assembléia reunida ou o indivíduo separadamente. Como foi dito, o destino e fim último de toda pregação (flecha) deve ser alcançar o coração (alvo) do povo de Deus. O pregador (arco) deve ter isso muito claro em sua mente e no seu coração. Sua pregação não é para a sua glória ou vaidade, mas tão-somente se deixar ser instrumento de Deus para tocar o Seu povo.
Isto exige uma sensibilidade do pregador. Um olhar diferente lançado para cada irmão. O arco não intui parar na flecha, mas se utiliza dela para cravá-la no alvo. Não a retém para si. Assim o pregador não deve calar diante dos irmãos. A flecha precisa ser lançada. Oportuna e inoportunamente, diria São Paulo.
Contudo, nem sempre o povo de Deus se comporta como o alvo estático que, passivamente espera a flecha tocar-lhe o centro. Nosso povo está cada vez mais dinâmico e, por vezes, distante da Palavra do Senhor, nem sempre desejando ou esperando ser tocado por ela. Ao contrário, muitas vezes a rejeita.

O ÚLTIMO E FUNDAMENTAL ELMENTO: O ARQUEIRO

Embora tenhamos destacado três elementos nesta prática de arco-e-flecha existe um quarto elemento que dá base e vida para os demais: o arqueiro. O arqueiro escolhe a madeira da qual será feita o seu arco. Trabalha seu arco para alcançar a máxima envergadura e, quando o arco não atinge o ideal, o arqueiro molda seu arco para que atinja tal meta, embora sempre respeitando os seus limites. É ainda o próprio arqueiro quem confecciona a sua flecha. Ele sabe do que ela é feita e para que foi feita.
Sua atenção sempre está voltada para o alvo. Nunca tira os olhos dele, pois sabe que se desviar seu olhar a flecha pode ter outro destino que não o que ele desejaria e, assim, desperdiçaria uma flecha lançada ao vento. O arqueiro sabe, ainda, que precisa forçar ao máximo seu arco para fazer a flecha chegar. Às vezes pode dar a impressão que está forçando muito os limites de seu instrumento, parecendo que irá quebrá-lo em virtude da tamanha força impressa sobre este.
Mas o arqueiro bem sabe que está apenas usando o potencial máximo de seu arco, pois ele o conhece muito bem e sabe até onde ele agüenta. O resultado final: depois de tanto dobrar o arco, o arqueiro lança às maiores distâncias a sua flecha, pois sabe que no fundo ela foi feita para ir o mais longe possível e se não imprimisse tal força no arco o potencial de sua flecha não alcançaria toda sua capacidade.
Talvez nem precisasse continuar a interpretação desta comparação, pois podemos já identificar que este “arqueiro” é Deus. É ele quem escolhe os seus pregadores, que os molda para que sejam melhores no seu ministério e em suas vidas. Trabalha em cada um deles para que a Sua Palavra seja mais e melhor anunciada, a fim de que ela alcance mais e mais pessoas e as conduzam no caminho da conversão, rumo à felicidade eterna.
Neste trabalho de modelagem do seu arco, que somos nós, os pregadores, podemos cair no risco de pensar que nossa carga está muito pesada, ou que Deus está sendo injusto, insensível às nossas dores e dificuldades. É neste momento que precisamos compreender pela fé que Deus está, nesta hora, envergando seu arco para que ganhe mais força. Pode parecer duro, dolorido, pesado, mas é neste momento que Deus prepara os seus profetas para atingirem metas maiores ou, como se diz, avançar para águas mais profundas. Pois, como vimos, o arqueiro (Deus) sempre exige o máximo do seu arco, mas respeita todos os seus limites.
Outro ponto ainda é o fato de Deus estar sempre com seu olhar voltado para seu povo. Seu olhar amoroso sempre o acompanha. Isto sugere e exorta os pregadores a perceberem-se apenas como instrumentos do lançamento da Palavra e não o seu fim. O objetivo de Deus ao vocacionar alguém para este serviço não é outro senão tocar o seu povo. Assim como a flecha parte do arqueiro para o alvo, a Palavra de Deus parte de Deus para seu povo.
E o arco? O arco apenas intermedia. O arqueiro poderia arremessar a flecha diretamente, mas sabe que se utilizar um arco dobrado a flecha chega mais longe. Os pregadores somos este arco dobrado. O Senhor poderia lançar sua Palavra diretamente, mas Ele deseja precisar de nós, porque sabe que um pregador “dobrado” por Deus pode alcançar muitos outros pelo seu testemunho.

CONCLUSÃO

Deus já é um excelente arqueiro, sempre com olhos sobre seu povo e desejoso de fazer com que Sua Palavra alcance todos os corações. O alvo – o povo de Deus – está aí para receber o toque da Palavra Sagrada. Embora, talvez, não se aperceba disso, mas o mundo tem fome e sede de Deus. Compete a nós, pregadores e a todos os batizados e evangelizados, nos tornarmos excelentes arcos. Nos deixarmos moldar por Deus, sem desanimar, mas trazer dentro de si o desejo ardente de cumprir o mandato que Jesus deixou a seus apóstolos e continuá-lo nestes tempos de hoje: “Ide por todo o mundo e anunciai o Evangelho a toda criatura” (Mc 16, 15).


Francisco Elvis Rodrigues Oliveira

Coord. Ministério Pregação - RCC Fprtaleza

quarta-feira, 10 de junho de 2009

domingo, 31 de maio de 2009

SER CRISTÃO É AMAR



Para muitos, nesta realidade moderna, Jesus se tornou apenas um profeta de seu tempo. Alguém que viveu á muitos anos atrás que não influencia em suas vidas.
Todavia, para nós cristãos, Jesus é alguém real. Ele viveu, morreu e ressuscitou. Na sua vida entre os homens ele chamou alguns para segui-lo.
Os discípulos tiveram uma experiência pessoal e comunitária com Jesus. Depois, eles foram enviados em missão. Após a experiência pós-pascal os discípulos saíram por todo o mundo á pregarem o Evangelho.
Com esta ação evangelizadora, a Igreja foi se expandindo entre os povos, criando diversas comunidades, organizando-se internamente e procurando cumprir sua missão de sacramento da salvação. “Êste mandamento solene de Cristo, de anunciar a verdade da salvação, recebe-o a Igreja dos Apóstolos para lhe dar cumprimento até os confins da terra ( cf. At 1,8 ); por isso faz suas as palavras do Apóstolo: “Ai de mim se não evangelizar!” ( 1Cor,16 ), e continua, sem descanso, a enviar arautos do Evangelho, até que as jovens igrejas fiquem perfeitamente estabelecidas, e continuem por si mesmo a obra da evangelização.
O Espírito Santo impele-a a cooperar na realização do propósito de Deus, que estabeleceu Cristo como princípio de salvação para o mundo inteiro.”
Neste sentido, podemos afirmar que ainda hoje Jesus continua a chamar pessoas para segui-lo. Jesus que ama o ser humano olha com compaixão para cada pessoa e quer levá-la a experimentar o seu amor que liberta de todas as cadeias. O Mestre chama, instrui e envia seus discípulos a pregarem a boa nova.
Jesus quer derramar a sua misericórdia sobre todas as pessoas. Quer que os homens conheçam e experimentem da sua imensa bondade. Por isso, ele convida homens e mulheres que tenham coragem de seguir seus passos, entregar-se incondicionalmente nas mãos do Pai para cumprir a sua vontade. Pois Deus quer que todos os homens se salvem ( cf. 1Tm 2,4 ).
Hoje há muitas pessoas que seguem Jesus Cristo. São crianças, jovens, casais, idosos que sentiram o amor de Deus em suas vidas e decidiram responder ao chamado de Cristo. Podemos ver isto através de tantas pastorais, grupos, movimentos e vocações que entregam suas vidas na edificação do reino de Deus. Porém, percebemos que nem todos continuam a caminhada.
Muitos desistem seja por perseguições, problemas internos da comunidade ou algo pessoal. O que fazer nesta situação? É preciso escutar a Palavra de Deus. Vê o que o Senhor nos revela.O que é ser cristão?
Ser cristão é ser um seguidor de Jesus Cristo. É aquele que acredita em Jesus como o Messias, o Enviado de Deus para salvar a humanidade. Sendo assim, podemos dizer que a fé na pessoa de Jesus é uma das principais características do ser cristão. Porém, o que é fé?A fé é antes de tudo um Dom de Deus. É o próprio Deus que atrai o homem a si.
A fé tem como fonte o próprio Deus. O homem é constantemente interpelado por Deus que o chama a partilhar da sua vida. Deus convida a entrar numa profunda intimidade com Ele. Neste sentido, a fé vai ser uma resposta do homem a Deus que o chama.
Todavia, estamos falando de fé não no sentido de crença (onde se acredita que Deus existe, mas não se compromete com a construção do Reino de Deus no mundo. Este tipo de fé é o que está muito presente em nossas comunidades), de acreditar que Deus existe e é um ser superior a nós. E sim, da adesão à pessoa de Jesus Cristo e do seu plano de amor. Uma fé que se compromete com Jesus e a instauração do Reino de Deus na terra.
Ora, se a fé é compromisso, isto implica em decisão pessoal. É escolha. É um arriscar-se em dispor toda a sua vida nas mãos de Deus. É uma entrega incondicional, é viver numa atitude de confiança no seu Senhor, é esperar contra toda esperança (cf. Rm 4,18). Enfim, fé é um convite de Deus para um relacionamento de amor. Para uma aliança onde o próprio Senhor toma a iniciativa e ambos se comprometem em serem fiéis.
Esta fé tem quer ser vivenciada na comunidade cristã. Os seguidores de Cristo formam uma família. Tanto que, São Paulo compara a Igreja como um corpo (1Cor 12, 12-27). Assim, cada membro é necessário, cada um tem a sua função, os membros se complementam. Cada membro precisa um do outro para que o corpo funcione. O cristão não deve ser uma ilha. Ele é um ser comunitário. Alias, é na comunidade, na vivência um com o outro que ele demonstra realmente ser um verdadeiro seguidor de Cristo.
Neste relacionamento Jesus deixou uma regra suprema que é o amor fraterno (Jo 15,11-17). Isto é tão forte que podemos dizer que ser cristão, quanto a prática, é amar. As atitudes do cristão devem expressar o amor. A vivência cristã deve ser uma manifestação do amor da Trindade Santa na terra. Daí, o cristão é alguém que se doa ao próximo. É um dedicar-se contínuo ao irmão. Esta dedicação passa pelo respeito, ou seja, o valorizar o irmão independente de cor, raça e religião, pois no outro há a imagem de Deus.
Este amar não é algo abstrato. Amar é ato. É fazer alguma coisa por aquele que você se compadece. Assim, como fez o bom samaritano (Lc 10,29-37). Ele viu, se compadeceu e agiu. Isto é importante, porque muitas vezes vemos e nos compadecemos do sofrimento do outro, mas não agimos, ou seja, o amar não é somente sentimento, deve-se fazer alguma coisa pelo outro.
O bom samaritano mesmo sem conhecer o homem, viu a situação em que ele se encontrava, se despojou de si para ajudá-lo. Diante disto, o cristão não deve fazer acepção de pessoas. Pois o amar cristão deve chegar até aos seus próprios inimigos (Mt 5, 43-48).
No entanto, o que leva o cristão a esta doação? Ora, sabemos que a fonte do amor é Deus. Ou melhor, o próprio Deus é amor (1Jo 4,8). Logo, o cristão é aquele que ama a Deus acima de tudo e se deixa amar por Ele. Este amor o impulsiona a ver nos irmãos a pessoa de Jesus Cristo. O próprio Jesus se identificou com aqueles que não tem nada, com os excluídos, com aqueles que passam por necessidade (Mt 25,31-46).
Daí, o próximo não deve ser visto como uma coisa e sim como um irmão amado por Jesus Cristo. Isto é de fundamental importância, porque no mundo em que vivemos é percebível a não preocupação com o outro.
O próximo é visto apenas como um objeto que posso usá-lo. É uma coisa descartável. Enquanto eu posso usá-lo para o meu bem prazer ele é algo útil. Mas a partir do momento em que não mais me serve posso descartá-lo Diante disto, o cristão não pode se adequar a tal mentalidade, pois estaria se afastando do mandamento do mestre que é “amar uns aos outros” (Jo 15,12; Lc 10,30-37).
O Bom Samaritano, para nós, deve ser um paradigma de solidariedade.
Portanto, tenho a convicção que ser cristão é ser uma pessoa de fé. Mas uma fé que se lança no compromisso com o outro. Não alguém que se afasta dos irmãos, com o pretexto de se acharem melhor do que os outros.
E sim, um cristão convicto que sabe que foi chamado por Jesus Cristo para ser sal e luz (Mt 5,13-16). O cristão é alguém que denuncia tudo aquilo que é injustiça e anuncia a Boa-Nova que é Jesus. Todavia, a maior obra que os cristãos podem e devem fazer para que as pessoas se envolvam também nesta dinâmica do Reino de Deus, é amar. Neste mundo onde prevalecem a violência, o ódio e o egoísmo, os cristãos devem ser profetas do amor, para que o mundo compreenda que o amor é o dom maior (1Cor 13).
“Eis o meu mandamento: amai-vos uns aos outros como eu vos amei. Ninguém tem maior amor do que aquele que se despoja da vida por aqueles a quem ama. Vós sereis meus amigos se fizerdes o que eu vos mando. Já não vos chamo servos, porque o servo permanece na ignorância do que faz o seu Senhor; chamo-vos amigos, porque tudo o que ouvi junto de meu Pai vo-lo fiz conhecer.
Não fostes vós que me escolhestes, mas eu que vos escolhi e designei para irdes produzir frutos e para que o vosso fruto permaneça, de modo que tudo o que pedirdes ao Pai em meu nome, ele vo-lo concederá. O que eu vos ordeno é que ameis uns aos outros” Jo 15,12-17.
Pe. Rogério de França Lopes, NJ.
(Padre Rogério é sacerdote do Instituto Religioso Nova Jerusalém)

Material para formação

Irmãos.
Abaixo vai o link para download de alguns materiais de formação para pregadores.
Espero que sejam úteis para o crescimento de seus ministérios.

Abraços.

http://www.4shared.com/file/109003405/33d0023d/INTRODUO_DE_ENSINOS.html
http://www.4shared.com/file/109006848/17c9b2d2/OFICINA_VOZ_E_UNO.html
http://www.4shared.com/file/109006198/adb6f710/APLICAO_DA_ORATRIA_SACRA.html
http://www.4shared.com/file/109006196/4a0eda17/VERBALIZAO.html

quarta-feira, 27 de maio de 2009

domingo, 10 de maio de 2009

Reunião pregadores

Paz, irmãos!

Convidamos a todos nossos irmãos pregadores engajados nos grupos e comunidades da R.C.C. para reunião mensal dos pregadores em nível arquidiocesano:

LOCAL: COMUNIDADE SERVOS DO SENHOR
BAIRRO: MONTESE
FONE: 8801-4878 (Elvis)

Sua presença e participação é muito importante! Não deixe de comparecer!


MARCHEMOS!

Franciso Elvis Rodrigues Oliveira
(Coord. Ministério Pregação - R.C.C Fortaleza)

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Oficina para pregadores

Queridos irmãos e irmãs!
Conforme anunciamos na última reunião, este mês de abril realizaremos as oficinas de pregação.
Abordaremos os temas sobre roteirização (como elaborar um roteiro para auxiliar na pregação), verbalização (trabalharemos temas sobre a exposição oral e conceitos sobre oratória, retórica e etc), bem como outros temas para as oficinas.
É muito importante sua presença.
Não falte e convide outros irmãos a estarem conosco para juntos aprimorarmos nosso serviço ao Nosso Senhor, por meio da pregação e anúncio de sua Palavra!
DIAS
- Sábado: 18/04/09 (14hs às 17hs)
- Domingo: 19/04/09 (08hs às 12hs)
LOCAL
Comunidade Catótilica D.O.M. (Doce olhar de Maria)
Rua Cantos Carlos Augusto, 72 - Antônio Bezerra
Próximo à Rodoviária / Colégio São Vicente
FONES: 3235-2417 / 8881-0401 (Fred) / 8801-4878 (Elvis)

domingo, 22 de março de 2009

III Seminário para pregadores (Adiado)

Olá, irmãos!
Em virtude de problemas com o calendário, o III SEMINÁRIO PARA PREGADORES que seria realizado nos dia 18 e 19 de abril, será adiado e remarcada uma nova data.
Estamos definindo juntamente com pregador convidado (Lázaro Praxedes) o novo dia de realização do encontro.
Logo que tivermos mais detalhes informaremos a todos.
Desde já contamos com a orações de todos para que este encontro aconteça segundo o coração de Jesus.

MARCHEMOS!

Francisco Elvis Rodrigues Oliveira
(Coord. Ministério de pregação - R.C.C. Fortaleza)

domingo, 1 de março de 2009

III SEMINÁRIO PARA PREGADORES



VEM Aí!






Rezemos todos pelo III SEMINÁRIO PARA PREGADORES, que será realizado nos dia 18 e 19 de abril de 2009.



Já temos confirmada a presença de nosso irmão LÁZARO PRAXEDES (coordenador nacional do ministéro de pregação - RCC BRASIL).



Em breve postaremos e divulgaremos maiores detalhes sobre o encontro.
Desde já, contamos com suas orações.

Se desejar colaborar mais diretamente conosco, entrem em contato:
8801-4878 - Elvis Rodrigues
Enquanto esperamos o encontro deste ano, abaixo segue o link com algumas pregações do ano passado, onde contamos com a presença de RENATO RITTON (coordenador do ministério de pregação do estado do Rio de Janeiro):










MARCHEMOS!

Encontro Nacional de Formação 2009

Segue abaixo mais algumas das palestras ministradas no ENCONTRO NACIONAL DE FORMAÇÃO 2009, Renovação Carimática.
RONALDO JOSÉ DE SOUSA

R.C.C.: Uma estratégia de Deus




Olá, irmãos!



Após algum tempo sem publicar nenhuma nova postagem, retomamos nossos trabalhos no blog com a uma das conferência proferidas no ENCONTRO NACIONAL DE FORMAÇÃO, acontecido em janeiro de 2009, pelo nosso irmão REINADO BESERRA DOS REIS (ex-presidente do conselho da R.C.C. Brasil, ex-membro ICCRS e atual coordenador da R.C.C. São Paulo)

TEMA: A identidade da R.C.C.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Reunião MP

Atenção aos irmãos pregadores!
Em virtude do período de carnaval cair no 3º sábado deste mês de fevereiro, o ministério de pregação, será realizado, em caráter excepcional, no dia 14/02, na comunidade NOVA UNÇÃO.
Não deixe de participar. Esta reunião será muito importante, pois iremos partilhar as experiências do I ENCONTRO NACIONAL DE FORMAÇÃO, realizado nesta última semana no estado de Goiás.
COMUNIDADE NOVA UNÇÃO
Rua Cuiabá, 189 - João XXIII
Próximo ao terminal da Lagoa.
Os irmãos da comunidade ficaram encarregados de deixar uma equipe no terminal para direcionar os participantes até o local.
Maiores informações:
Elvis Rodrigues - 8801-4878
N Ã O P E R C A M ! ! !
Nesta ocasião iremos também dar os primeiros direcionamentos sobre o
III SEMINÁRIO PARA PREGADORES.

sábado, 17 de janeiro de 2009

Você acredita em Milagres?

Dom Redovino Rizzardo, cs - Bispo Diocesano de Dourados

Suponhamos que haja alguém doente, e essa doença esteja atrapalhando sua caminhada. O Senhor, que ama essa pessoa e quer tirá-la dessa situação dolorosa, usa de alguém repleto do Espírito Santo: quem cura não é a pessoa em quem o Espírito se manifesta, mas o próprio Espírito, por meio dela [pessoa]. Alguém desorientado precisa da condução de Deus. O Senhor ama essa pessoa, quer vir em seu auxílio, então se manifesta em alguém repleto do Divino Amigo, para comunicar a palavra de sabedoria, de discernimento, para resolver a situação de ansiedade.
A eletricidade, por exemplo, se manifesta de diversas maneiras, gerando luz, som, calo, gelo… Mas ela não anda sozinha por aí; são necessários fios condutores. Se desligarmos a tomada, acabará a energia elétrica. Acontece o mesmo com o Espírito Santo, que se utiliza de uma rede de pessoas repletas d’Ele, que manifestam os dons: ora é uma palavra de sabedoria, ora de profecia; ora é uma cura; ora é um milagre; ora é discernimento; ora é ciência…. de acordo com a vontade do Senhor e a necessidade do povo d’Ele.
Nunca estive nos Estados Unidos. Por isso, não posso provar o que passo a relatar. Contudo, pelas inúmeras fotos que me foram apresentadas, algo de estranho realmente aconteceu em Santa Fé, no Estado do Novo México, há aproximadamente 130 anos, por volta de 1880. Aliás, se 250.000 pessoas visitam o local todos os anos, não será por nada!
Vamos aos fatos. Naquela cidade, há um colégio dirigido por religiosas. No final do século XIX, elas quiseram enriquecer seu educandário com uma nova e bonita capela. Mas, ao terminarem os trabalhos da construção, perceberam que havia sido esquecido… um detalhe: para chegar ao coro, colocado no alto da porta principal da igreja, os cantores não sabiam por onde subir, já que ninguém pensara na escada!
E agora, o que fazer para não prejudicar a arte e o estilo da capela? Para não cometer uma nova gafe, as religiosas, muito devotas, pensaram, antes de tudo, em rezar. Fizeram uma novena a São José, já que o Evangelho o apresenta como carpinteiro. No último dia, um desconhecido bateu à porta do convento. Dizendo-se entendido em marcenaria, prometeu resolver o problema. No final de uma semana, sem a ajuda de ninguém, ele entregou a escada, por todos considerada um prodígio da carpintaria e uma obra de arte. Desde logo, o fato suscitou inúmeras dúvidas e perguntas.
Primeiramente, ninguém sabe como a escada ficou e continua de pé até hoje, já que não dispõe de nenhum suporte central. Arquitetos, engenheiros e cientistas não entendem como se mantenha em equilíbrio. O construtor não usou pregos nem cola, mas cada pedaço de madeira está encaixado no outro. Por falar em madeira, não se sabe donde veio. Foram feitas inúmeras análises e não se descobriu nada parecido em toda a região. De sua parte, mal terminou a obra, o carpinteiro sumiu, sem deixar vestígios e sem esperar pelo pagamento. Por fim, um último “enigma”: a escada tem 33 degraus, a idade com que Cristo findou a sua jornada terrena.
Tantas coisas estranhas levaram as religiosas e o povo a pensar num milagre. O misterioso carpinteiro seria o próprio São José, que tivera compaixão das irmãs, não muito entendidas na arte da construção. Desde então, a escada passou a ser objeto de veneração, vista como um sinal do imenso amor com que Deus vem em socorro de seus filhos.
Mas não é apenas Santa Fé que se orgulha de apresentar fatos inexplicáveis. São centenas as cidades que alardeiam casos semelhantes – e não apenas dentro da Igreja Católica. Quem não ouviu falar dos milagres Eucarísticos de Lanciano ou do Pe. Cícero, para citar apenas dois exemplos? Pode ser que até mesmo na vida de alguns dos leitores aconteçam, ou tenham acontecido, coisas anormais – ou paranormais!
Mas, tais fatos, serão sempre milagres? E se o forem, por que acontecem? A esse respeito, o Catecismo da Igreja Católica tenta uma explicação: «Os milagres fortificam a fé naquele que realiza as obras de seu Pai; testemunham que Ele é o Filho de Deus. Não se destinam a satisfazer a curiosidade e os desejos mágicos. Ao libertar certas pessoas dos males terrestres da fome, da injustiça, da doença e da morte, Jesus operou sinais messiânicos; não veio, no entanto, para abolir todos os males da terra, mas para libertar os homens da mais grave das escravidões, a do pecado, que os entrava em sua vocação de filhos de Deus e causa todas as suas escravidões humanas».
Foi exatamente isso que Cristo quis ensinar ao atender pessoas em busca de milagres e prodígios. Sempre me impressionou um fato narrado pelo evangelista Mateus. Um grupo de amigos leva um paralítico a Jesus para que o cure. O Senhor, porém, “finge” não entender e oferece ao doente a liberdade e a paz, por meio do perdão dos pecados, coisa que ninguém havia pedido. Para Deus, a saúde física tem sentido se existe a saúde espiritual: «Para que se saiba que o Filho do Homem tem autoridade na terra para perdoar pecados – disse, então, ao paralítico –, levanta-te, toma a tua maca e vai para casa!» (Mt 96).
Os milagres visam sempre o amadurecimento na fé, o crescimento na santidade e a decisão de fazer da própria vida um serviço aos irmãos. Foi o que fez a sogra de Pedro: ao ser curada por Jesus, «ela se levantou e se pôs a servir» (Mc 1,31). Não se trata de milagres, ou seja, de intervenções divinas, se o que se tem em vista são apenas caprichos e vaidades. Aliás, mesmo que Deus atendesse a todos os pedidos que o homem lhe dirige, este nunca se sentiria saciado, teria sempre uma queixa a fazer e, na melhor das hipóteses, no final da vida – como diz o salmo 49 – «seria semelhante ao gado gordo pronto para o matadouro».
Se Jesus apresentou a sua morte e ressurreição como o maior sinal para quantos desejam acreditar n’Ele (Cf. Mt 12,40), converter-se, mudar de atitudes e ficar de pé nas tempestades da vida é sempre o grande milagre operado por Deus em quantos o buscam de coração sincero.