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domingo, 14 de fevereiro de 2010

A cultura de Pentecostes

O corpo de João XXIII está intacto ainda hoje. Houve uma reportagem que afirmou estar intacto por causa dos produtos colocados nele. Mas o médico, que o embalsamou, diz que era para ele estar se deteriorando, mas que o examinou depois e, de fato, estava intacto. Para nós, este corpo é um sinal. É um sinal para toda a Igreja, pois ele convocou o Concílio Vaticano II justamente para que toda a Igreja retomasse o Pentecostes.

O Papa Leão XIII consagrou o século 20 ao Espírito Santo, mas infelizmente, nós, Igreja, não estávamos prontos. Depois na tarde do outro dia, um grupo de evangélicos pentecostais, em sua maioria negros, receberam o Pentecostes, e a partir daí começaram os Cenáculos. Houve falhas, mas os pentecostais são lindos e santos. Isso não só gerou homens santos, mas com eles também retornaram o Pentecostes e os Cenáculos. Essa graça aconteceu, mas quantos preconceitos e quantas lutas – até de nós católicos – os pentecostais passaram.

O Papa João XX mal tinha acabado o Concílio de 1965, e em 1966 já aconteceu o derramamento do Espírito Santo. E daí surgiram nos finais de semana grupos de oração. A Renovação Carismática Católica é a efusão do Espírito; depois do Concílio, Deus viu que o “odre” estava novo e colocou o “vinho novo”, que é o Espírito Santo.Ano passado, quando padre Rufus esteve aqui mais uma vez, ele disse, com muita simplicidade na mesa da minha casa, que se nós levássemos a sério a efusão do Espírito não teríamos essa globalização que tem aí. A falha é nossa, e ele acrescentou que nós precisamos reinflamar a chama do carisma que Deus nos deu, e nós, Igreja, podemos renovar a face da terra.Cultura da RCC, para mim, é o Pentecostes, que todos devem ter.

No Documento de Aparecida, número 150, cujo título é “Cuidados pelo Espírito Santo”, o qual já começa com Jesus, quando o Senhor saiu do Batismo e foi conduzido pelo Espírito Santo a um deserto, este mesmo Espírito O acompanhou durante toda sua vida. A partir de Pentecostes a Igreja expressa vitalidade divina, que se expressa com os dons dos carismas. Nós precisamos desta vitalidade divina. É a realização da profecia de Ezequiel que vê primeiramente ossos ressequidos, mas o Senhor lhe diz que profira um oráculo sobre eles, faça entrar o sopro da vida e profetize ao espírito, e assim por diante (confira Ezequiel 37, 1-14).

A Palavra diz que se levanta um grande exército desses ossos. Este é desejo de Deus: transformar-nos em um grande exército. É isso que o Senhor quer e nós também precisamos querer. Mas ainda é tempo de levarmos a sério o novo Pentecostes, Deus é irrevogável nos dons d’Ele e este é o grande dom para a Igreja. Não fiquemos parados nas águas passadas, águas sujas, águas putrefatas. Agora cabe a nós tomarmos posse dessa graça, é agora, é o tempo de Kairós que está sobre nós. Se olhamos para o passado vemos a decepção de muitos, nós não podemos frustrar os sonhos de Deus. Não é à toa que você está vivendo este Renasem, mesmo se um dia você venha a ser um leigo, você não pode frustrar os sonhos de Deus.

Precisamos instalar a cultura do Pentecostes, precisamos dessa aldeia global. Através destes dons de Deus, a Igreja propaga o ministério do salvífico do Senhor. A salvação vai se propagar até que Jesus volte a segunda vez. O Espírito da Igreja forma missionários decididos e valentes como os grandes apóstolos Pedro e Paulo.O Espírito Santo indica os lugares que precisam ser evangelizados e quem deve realizar essa missão. Agora isso é ordem da Igreja na América Latina. Isso está no Documento [de Aparecida] da Igreja, foi o Papa Bento XVI que assinou, ou nós o realizamos ou nós o realizamos, porque caso contrário, frustramos a Deus. Quero me desgastar para que o Espírito Santo vá a todo canto. O que for necessário dar eu darei; darei tudo, quero me desgastar, desgastar por inteiro. Aqui obedeço e os meus me guardam, eu sou obediente. Eu quero me gastar no que é essencial, fazendo com que os desígnios divinos aconteçam. Padre Paulo Ricardo, que é um profeta, fala coisas que têm de ser ditas, ele não se omite, o ministério é esse. E eu digo a você: seja um profeta como é o padre Paulo. A Igreja tem dupla dimensão: hierárquica e carismática.

Um exemplo da carismática sãos profetas e da hierárquica são aqueles que são bispos e têm seus mistérios que precisam exercer. Deus constituiu uns com ministério de cura, como padre Rufus, e todos, que tem ministério, sofrem e sofrem muito. E muitos já disseram: “Senhor, afasta de mim este cálice”, mas daí Deus lhes diz: “Agüenta firme porque Eu te constituí e os meus dons são irrevogáveis”.Em I Coríntios, capítulo 1, versículos de 4 ao 7, está escrito: “ Não cesso de agradecer a Deus por vós, pela graça divina que vos foi dada em Jesus Cristo. Nele fostes ricamente contemplados com todos os dons, com os da palavra e os da ciência, tão solidamente foi confirmado em vós o testemunho de Cristo. Assim, enquanto aguardais a manifestação de nosso Senhor Jesus Cristo, não vos falta dom algum”.

A Igreja de coríntios foi agraciada com todos os dons. E todas as Igrejas precisam ser contempladas com todos os dons.No capítulo 2, versículos 6 a 7, de I Coríntios, está escrito: “Entretanto, o que pregamos entre os perfeitos é uma sabedoria, porém não a sabedoria deste mundo nem a dos grandes deste mundo, que são, aos olhos daquela, desqualificados. Pregamos a sabedoria de Deus, misteriosa e secreta, que Deus predeterminou antes de existir o tempo, para a nossa glória”.Sabedoria que nenhuma autoridade deste mundo conheceu (pois se a tivessem conhecido, não teriam crucificado o Senhor da Glória). Aqui Paulo diz dos dons do Espírito Santo; estes foram o meio que Deus nos deu. Os dons do Espírito Santo foram reservados para nós, por isso devemos ser apóstolos do uso dos dons, pois quem tem o Espírito tem os dons d’Ele. Da mesma forma que você é inseparável dos seus defeitos e qualidades, assim é o Espírito Santo e os seus dons. Você precisa crer que para Deus nada é impossível.

Não podemos nos basear no intelectual dos homens, mas na sabedoria de Deus. Deus quer que sejamos apóstolos dos dons do Espírito. Não tem como uma pessoa que recebeu a efusão d’Ele não usar os dons. Deus pode nos dar um carisma especial e aí se transforma em ministério, como o ministério de cura, de milagres, entre outros; também o de governar, porque governar é um ministério. No Livro dos Atos dos Apóstolos, capítulo 11, versículo 26, está escrito que: “Durante um ano inteiro eles tomaram parte nas reuniões da comunidade e instruíram grande multidão, de maneira que em Antioquia é que os discípulos, pela primeira vez, foram chamados pelo nome de cristãos”. Ser chamados de cristãos é o mesmo que hoje ser chamado de carismático. Eles os chamaram assim porque viram os efeitos dos carismas. Cristão e carismático são sinônimos. Pois a Igreja de hoje não pode ser diferente da Igreja primitiva, pois precisamos ser modelados nesta [Igreja primitiva].

Em Atos, capítulo 11, versículos 19 a 25, está escrito:“Entretanto, aqueles que foram dispersados pela perseguição que houve no tempo de Estêvão chegaram até a Fenícia, Chipre e Antioquia, pregando a Palavra só aos judeus.Alguns deles, porém, que eram de Chipre e de Cirene, entrando em Antioquia, dirigiram-se também aos gregos, anunciando-lhes o Evangelho do Senhor Jesus. A mão do Senhor estava com eles e grande foi o número dos que receberam a fé e se converteram ao Senhor. A notícia dessas coisas chegou aos ouvidos da Igreja de Jerusalém. Enviaram então Barnabé até Antioquia. Ao chegar lá, alegrou-se, vendo a graça de Deus, e a todos exortava a perseverar no Senhor com firmeza de coração, pois era um homem de bem e cheio do Espírito Santo e de fé. Assim uma grande multidão uniu-se ao Senhor. Em seguida, partiu Barnabé para Tarso, à procura de Saulo. Achou-o e levou-o para Antioquia. Durante um ano inteiro eles tomaram parte nas reuniões da comunidade e instruíram grande multidão, de maneira que em Antioquia é que os discípulos, pela primeira vez, foram chamados pelo nome de cristãos”. Eles foram os primeiros a ter a ousadia de levar o Evangelho aos judeus e a outros povos; e como o levaram! Levaram-no por meio dos dons, dos carismas.

É preciso usar a metodologia do ESPÍRITO. Era mais fácil levar o Evangelho para os pagãos do que para os judeus, mas eles entraram no coração dos judeus pelo poder do Espírito Santo. É preciso começar a pedir o derramamento do Espírito de Deus como o grande apóstolo Paulo o fez, para evangelizar o mundo pagão em que estamos. É só com a metodologia de Paulo e Barnabé que conseguiremos ter êxito, ou seja, na metodologia do Espírito Santo. Eles conseguiram discípulos de raça e assim se tornaram missionários. E o que a Igreja precisa é de um novo Pentescotes, que nos livre do cansaço e do comodismo.

Monsenhor Jonas Abib

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

MENSAGEM DE SUA SANTIDADE O PAPA BENTO XVI PARA A QUARESMA DE 2010

A justiça de Deus está manifestada mediante a fé em Jesus Cristo (Cf. Rm 3, 21–22 )
Queridos irmãos e irmãs,
Todos os anos, por ocasião da Quaresma, a Igreja convida-nos a uma revisão sincera da nossa vida á luz dos ensinamentos evangélicos. Este ano desejaria propor-vos algumas reflexões sobre o tema vasto da justiça, partindo da afirmação Paulina: A justiça de Deus está manifestada mediante a fé em Jesus Cristo (Cf. Rm 3, 21 – 22 ).
Justiça: “dare cuique suum”
Detenho-me em primeiro lugar sobre o significado da palavra “justiça” que na linguagem comum implica “dar a cada um o que é seu – dare cuique suum”, segundo a conhecida expressão de Ulpiano, jurista romana do século III. Porém, na realidade, tal definição clássica não precisa em que é que consiste aquele “suo” que se deve assegurar a cada um. Aquilo de que o homem mais precisa não lhe pode ser garantido por lei. Para gozar de uma existência em plenitude, precisa de algo mais intimo que lhe pode ser concedido somente gratuitamente: poderíamos dizer que o homem vive daquele amor que só Deus lhe pode comunicar, tendo-o criado á sua imagem e semelhança. São certamente úteis e necessários os bens materiais – no fim de contas o próprio Jesus se preocupou com a cura dos doentes, em matar a fome das multidões que o seguiam e certamente condena a indiferença que também hoje condena centenas de milhões de seres humanos á morte por falta de alimentos, de água e de medicamentos - , mas a justiça distributiva não restitui ao ser humano todo o “suo” que lhe é devido. Como e mais do que o pão ele de fato precisa de Deus. Nora Santo Agostinho: se “ a justiça é a virtude que distribui a cada um o que é seu…não é justiça do homem aquela que subtrai o homem ao verdadeiro Deus” (De civitate Dei, XIX, 21).
De onde vem a injustiça?
O evangelista Marcos refere as seguintes palavras de Jesus, que se inserem no debate de então acerca do que é puro e impuro: “Nada há fora do homem que, entrando nele, o possa tornar impuro. Mas o que sai do homem, isso é que o torna impuro. Porque é do interior do coração dos homens, que saem os maus pensamentos” (Mc 7,14-15.20-21). Para além da questão imediata relativo ao alimento, podemos entrever nas reações dos fariseus uma tentação permanente do homem: individuar a origem do mal numa causa exterior. Muitas das ideologias modernas, a bem ver, têm este pressuposto: visto que a injustiça vem “de fora”, para que reine a justiça é suficiente remover as causas externas que impedem a sua atuação: Esta maneira de pensar - admoesta Jesus – é ingênua e míope. A injustiça, fruto do mal, não tem raízes exclusivamente externas; tem origem no coração do homem, onde se encontram os germes de uma misteriosa conivência com o mal. Reconhece-o com amargura o Salmista: “Eis que eu nasci na culpa, e a minha mãe concebeu-se no pecado” (Sl 51,7). Sim, o homem torna-se frágil por um impulso profundo, que o mortifica na capacidade de entrar em comunhão com o outro. Aberto por natureza ao fluxo livre da partilha adverte dentro de si uma força de gravidade estranha que o leva a dobrar-se sobre si mesmo, a afirmar-se acima e contra os outros: é o egoísmo, consequência do pecado original. Adão e Eva, seduzidos pela mentira de Satanás, pegando no fruto misterioso contra a vontade divina, substituíram a lógica de confiar no Amor aquela da suspeita e da competição; a lógica do receber, da espera confiante do Outro, aquela ansiosa do agarrar, do fazer sozinho (Cf. Gn 3, 1-6) experimentando como resultado uma sensação de inquietação e de incerteza. Como pode o homem libertar-se deste impulso egoísta e abrir-se ao amor?
Justiça e Sedaqah
No coração da sabedoria de Israel encontramos um laço profundo entre fé em Deus que “levanta do pó o indigente (Sl 113,7) e justiça em relação ao próximo. A própria palavra com a qual em hebraico se indica a virtude da justiça, sedaqah, exprime-o bem. De fato sedaqah significa, dum lado a aceitação plena da vontade do Deus de Israel; do outro, equidade em relação ao próximo (Cf. Ex 29, 12-17), de maneira especial ao pobre, ao estrangeiro, ao órfão e á viúva (Cf. Dt 10, 18-19). Mas os dois significados estão ligados, porque o dar ao pobre, para o israelita nada mais é senão a retribuição que se deve a Deus, que teve piedade da miséria do seu povo. Não é por acaso que o dom das tábuas da Lei a Moisés, no monte Sinai, se verifica depois da passagem do Mar Vermelho. Isto é, a escuta da Lei, pressupõe a fé no Deus que foi o primeiro a ouvir o lamento do seu povo e desceu para o libertar do poder do Egito (Cf. Ex 5, 8). Deus está atento ao grito do pobre e em resposta pede para ser ouvido: pede justiça para o pobre (Cf. Ecle 4, 4-5.8-9), o estrangeiro (Cf. Ex 22, 20), o escravo (Cf. Dt 15, 12-18). Para entrar na justiça é portanto necessário sair daquela ilusão de auto – suficiência , daquele estado profundo de fecho, que á a própria origem da injustiça. Por outras palavras, é necessário um “êxodo” mais profundo do que aquele que Deus efetuou com Moisés, uma libertação do coração, que a palavra da Lei, sozinha, é impotente a realizar. Existe portanto para o homem esperança de justiça?
Cristo, justiça de Deus
O anúncio cristão responde positivamente á sede de justiça do homem, como afirma o apóstolo Paulo na Carta aos Romanos: “Mas agora, é sem a lei que está manifestada a justiça de Deus… mediante a fé em Jesus Cristo, para todos os crentes. De fato não há distinção, porque todos pecaram e estão privados da glória de Deus, sendo justificados gratuitamente pela Sua graça, por meio da redenção que se realiza em Jesus Cristo, que Deus apresentou como vitima de propiciação pelo Seu próprio sangue, mediante a fé” (3, 21-25).
Qual é, portanto, a justiça de Cristo? É antes de mais a justiça que vem da graça, onde não é o homem que repara, que cura si mesmo e os outros. O fato de que a “expiação” se verifique no “sangue” de Jesus significa que não são os sacrifícios do homem a libertá-lo do peso das suas culpas, mas o gesto do amor de Deus que se abre até ao extremo, até fazer passar em si “ a maldição” que toca ao homem, para lhe transmitir em troca a “bênção” que toca a Deus (Cf. Gal 3, 13-14). Mas isto levanta imediatamente uma objeção: que justiça existe lá onde o justo morre pelo culpado e o culpado recebe em troca a bênção que toca ao justo? Desta maneira cada um não recebe o contrário do que é “seu”? Na realidade, aqui se manifesta a justiça divina, profundamente diferente da justiça humana. Deus pagou por nós no seu Filho o preço do resgate, um preço verdadeiramente exorbitante. Perante a justiça da Cruz o homem pode revoltar-se, porque ele põe em evidencia que o homem não é um ser autárquico, mas precisa de um Outro para ser plenamente si mesmo. Converter-se a Cristo, acreditar no Evangelho, no fundo significa precisamente isto: sair da ilusão da auto-suficiência para descobrir e aceitar a própria indigência – indigência dos outros e de Deus, exigência do seu perdão e da sua amizade.
Compreende-se então como a fé não é um fato natural, cômodo, óbvio: é necessário humildade para aceitar que se precisa que um Outro me liberte do “meu”, para me dar gratuitamente o “seu”. Isto acontece particularmente nos sacramentos da Penitencia e da Eucaristia. Graças a ação de Cristo, nós podemos entrar na justiça “maior”, que é aquela do amor (Cf. Rm 13, 8-10), a justiça de quem se sente em todo o caso sempre mais devedor do que credor, porque recebeu mais do que aquilo que poderia esperar.
Precisamente fortalecido por esta experiência, o cristão é levado a contribuir para a formação de sociedades justas, onde todos recebem o necessário para viver segundo a própria dignidade de homem e onde a justiça é vivificada pelo amor.
Queridos irmãos e irmãs, a Quaresma culmina no Tríduo Pascal, no qual também este ano celebraremos a justiça divina, que é plenitude de caridade, de dom, de salvação. Que este tempo penitencial seja para cada cristão tempo de autentica conversão e de conhecimento intenso do mistério de Cristo, que veio para realizar a justiça. Com estes sentimentos, a todos concedo de coração, a Bênção Apostólica.
Vaticano, 30 de Outubro de 2009

BENEDICTUS PP. XVI

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

PNDH e equívocos

O 3º Programa Nacional de Direitos Humanos tem sido objeto de análises e reações por parte da Igreja Católica e de muitos setores da sociedade civil e do âmbito político por ferir a sensatez - em razão dos seus equívocos arriscados e prejudiciais - quanto a questões que incluem a descriminalização do aborto, o casamento entre pessoas do mesmo sexo, o direito de adoção de crianças por casais homoafetivos, cerceamento da liberdade de imprensa e os mecanismos para impedir a ostentação de símbolos religiosos. A seriedade e gravidade dessas questões não permitem uma abordagem e consideração simplesmente no bojo de uma ideologização partidária. Esta, seja governista ou de oposição, não é suficiente para tratar adequadamente os entendimentos de temáticas que tocam as raízes do que é a vida, seu sentido e as responsabilidades cidadãs.

A ideologia partidária como incremento na discussão de questões na vida da sociedade tem o seu lugar próprio, garantido pelo sentido de uma democracia. Tende, no entanto, a absolutismos totalitários quando se arvora a parâmetro de medição e determinação de princípios norteadores da consideração exata e justa da vida e dos seus desdobramentos todos. Portanto, o Programa Nacional de Direitos Humanos não pode nortear-se por uma determinada perspectiva partidária. É insuficiente a argumentação de que essa é a garantia de uma sociedade democrática. A identidade democrática há de evocar raízes para os princípios que guiam a liberdade, a autonomia, a legislação e normatividades no funcionamento da sociedade. Não pode ancorar-se apenas no que mantém hoje, podendo desaparecer amanhã, ser forte no presente ou no passado, e cair no fracasso num futuro, como ocorre com trajetórias partidárias - valendo uma análise do momento político atual.

A configuração ideológica de um partido é insuficiente para abordar, por si mesma, decidir e escolher a normatividade que tenha autoridade incontestável no cenário de uma sociedade. Tanto é verdade que, com exemplos muitos simples, pode se constatar o tratamento tendencioso de assuntos e interesses diversificados, bem como os entendimentos autoritários no exercício do poder que estão se configurando no horizonte político-partidário da América Latina, e a adoção de procedimentos sociais que se tornam força eleitoreira, revelando mediocridades e fragilidades muitas. Quando, então, a Igreja Católica se posiciona, não o faz pelas mesmas razões e circunstâncias meramente ideológicas. A contestação e o convite a um diálogo sério se ancoram em bases e fundamentos do indispensável entendimento de caráter antropológico que define a compreensão da pessoa, da vida, do homem e da mulher, da sociedade, da justiça. É um risco quando a ideologia, que dá substrato a partidos e funcionamentos de instituições da sociedade, carece de consistente argumentação antropológica, corrompendo princípios e manipulando em prol do atendimento de interesses de grupos que negociam valores inegociáveis.

Lamentável é que o chamamento ao diálogo para a conferência desses princípios que antecedem o momento da ideologia é entendido apenas como pressão de uma instituição ou como atendimento de perspectiva inadequadamente adjetivada. É, pois, indispensável ler o que se propõe. Uma leitura que deve ser conferência não apenas do que agrada a estes ou àqueles. Uma conferência e ajustamento de princípios que ultrapassam apenas uma caneta que chancela ou uma compreensão comprometida nos seus fundamentos. Na verdade, a questão de fundo e principal, com força de correção e necessários ajustamentos, é o adequado entendimento acerca da compreensão do que é o homem. Ora, a orientação que se dá à existência, à convivência social e à história depende das respostas dadas às perguntas que tratam sobre a vida, seu sentido, sua defesa e promoção.

A humanidade está enfrentando o desafio diante da verdade mesma do ser-homem. Como a natureza e a técnica, também a moral tem interpelações que tocam responsabilidades pessoais e coletivas em vista dos comportamentos. Um Programa Nacional de Direitos Humanos escorrega na direção de equívocos em razão dos comprometimentos de princípios. A voz da Igreja se levanta, de modo absoluto e inegociável, contra tudo o que compromete os princípios e valores com os quais os Direitos Humanos devem ser lidos e conferidos.

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Para maiores informações, veja abaixo um podcast com Pe. Paulo Ricardo comentando sobre o NOVO PLANO DE DIREITOS HUMANOS.

“Propomos uma escola que tenha como centro a pessoa”

XXII Congresso Interamericano de Educação Católica, em Santo Domingo

SANTO DOMINGO, sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010 (ZENIT.org). – Quase mil educadores de 23 países das Américas reuniram-se, entre os dias 25 e 28 de janeiro, em Santo Domingo, capital da República Dominicana, para celebrar o XXII Congresso Interamericano de Educação Católica, cujo tema deste ano era “A qualidade de nossa educação a partir de sua identidade”. O evento foi promovido pela Confederação Interamericana de Educação Católica (CIEC) e pela União Nacional de Escolas Católicas do país.
Os debates enfocaram dois temas fundamentais: a identidade da escola católica, por um lado; e por outro, a qualidade de seu ensino.
Em suas mensagens, tanto o cardeal Nicolás de Jesús López Rodríguez, arcebispo de Santo Domingo, quanto Melanio Paredes, Ministro da Educação da República Dominicana, enfatizaram que a escola católica constitui um modelo de educação, no qual as demais podem se espelhar.
As estratégias para uma educação de qualidade, disseram, passam sempre pela capacitação e atualização contínua dos professores, que devem também estar preparados para atuarem como agentes da pastoral educativa, quando a escola for uma escola pastoral.
Ao final do congresso, foram enunciados uma série de compromissos assumidos conjuntamente pelas diversas federações nacionais filiadas à CIEC.
Dom Juan Vicente Córdoba expressou, em nome do Diretório do Conselho Episcopal Latino-americano (CELAM), sua grande satisfação pelo êxito do evento em estabelecer compromissos comuns, e abençoou as resoluções de todos, desejando "um futuro pleno" às diversas delegações.
Em sua declaração final, os educadores afirmam: “Desejamos e propomos uma escola que tenha como seu centro e objetivo a pessoa, que participe da comunidade eclesial, que esteja aberta às instâncias sociais e comprometida com as culturas emergentes, que integre a família aos processos educativos e seja um sinal profético dos valores do Reino”.
Para atingir estes objetivos, propõem:
1. Situar de forma clara e consistente Cristo no centro do projeto educativo-pastoral das instituições;
2. Integrar a família nos processos educativo-evangelizadores;
3. Avaliar e revisar de forma contínua e sistemática os projetos educativos-pastorais das instituições;
4. Integrar as diversas instâncias para constituir uma autêntica comunidade educativa;
5. Promover e acompanhar o processo de formação continuada dos professores em seus aspectos pedagógicos e profissionais, bem como naqueles relativos à sua fé.
6. Estabelecer redes de colaboração inter-institucionais e inter-congregacionais para o exercício das atividades educativas;
7. Desenvolver juntos, leigos e religiosos, os processos de formação compartilhada: formação, integração e vivência;
8. Aproximar-se dos jovens e responder prioritariamente às necessidades dos pobres e suas novas pobrezas;
9. Apoiar solidamente as federações nacionais e a escola católica do Haiti em sua reconstrução;
10. Que estas conclusões cheguem a todas as confederações e centros educacionais com o compromisso de executá-las e avaliá-las periodicamente, para gerar ações que propiciem uma educação na liberdade.
Para concluir, reiteram “compartilhar da dor que estão sofrendo nossos irmãos no Haiti”, convidando todos os educadores das Américas à “solidariedade efetiva”, expressa no “trabalho de reconstrução futura da educação haitiana, unindo-se aos programas conduzidos pelas diversas organizações educativas nacionais e internacionais” atuantes no país.


Fonte: http://www.zenit.org/article-24015?l=portuguese

Vida consagrada: valorizar vocação de irmão leigo

O cardeal Rodè anuncia dois novos documentos

ROMA, quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010 (ZENIT.org).- A figura dos irmãos leigos “deve ser valorizada na Igreja”, declarou o cardeal Rodè, que destacou também “a absoluta necessidade da oração” e da “formação litúrgica”.
A Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica está preparando dois novos documentos sobre estes temas, anunciou hoje seu prefeito à Rádio Vaticano.
O cardeal Rodè explicou que um dos documentos trata sobre os irmãos leigos e sua publicação está prevista para o próximo outono boreal; o outro fala da oração e da formação litúrgica dos religiosos e religiosas.
“Ultimamente, temos refletido sobre a figura do irmão leigo nas congregações religiosas de irmãos e nas congregações mistas de sacerdotes e irmãos”, indicou no Dia Mundial da Vida Consagrada, celebrado ontem.
“Constatamos que, nas últimas décadas, o número de irmãos leigos diminuiu muito”, disse.
“E isso afeta igualmente as congregações mistas de sacerdotes e de irmãos: o número de irmãos diminuiu muito mais que o de sacerdotes. Existe um problema e é preciso fazer alguma coisa.”
O chamado a ser irmão leigo
O cardeal Rodè destacou a ausência de documentos sobre esta vocação. “Pensamos que uma das razões desta diminuição de vocações de irmãos leigos é justamente certa falta de atenção, por parte da Igreja, a esta figura de cristão consagrado, de irmão leigo”, disse.
“Queremos fazer um documento dedicado especificamente a esta figura do irmão leigo, que é uma figura autônoma, uma figura que tem sentido em si mesma, que tem uma identidade própria”, afirmou.
O cardeal Rodè destacou a especificidade deste chamado de Deus: “Um irmão leigo não é – como se pensa frequentemente e como as pessoas acham – alguém que não pôde ou não quis, por algum motivo, ser sacerdote”.
“Trata-se de uma vocação que tem uma lógica em si mesma, que tem uma missão particular na Igreja – acrescentou – e a história demonstra isso.”

A importância da oração
Com relação ao outro documento, sobre a importância da oração, o cardeal indicou que “alguns dizem que os religiosos e religiosas de hoje rezam muito pouco” e destacou que “hoje, em um mundo tão agitado, a oração se torna, sem dúvida, mais difícil”.
“Devemos acentuar a absoluta necessidade da oração na vida espiritual de um consagrado e de uma consagrada”, acrescentou.

Colaborar com o dicastério encarregado da liturgia
O prelado explicou que o prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, cardeal Antonio Cañizares, sugeriu-lhe elaborar um documento “interdicasterial”.
Uma primeira parte estaria confiada ao dicastério para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica; e uma segunda, ao Dicastério para o Culto Divino, sobre a formação litúrgica de religiosos e religiosas.
O cardeal Rodè considerou isso “de uma grande importância, porque, por um lado, há certa ignorância, certa falta de conhecimento e de formação litúrgica dos jovens religiosos e religiosas”.
“Por outro lado – continuou –, também existem fantasias litúrgicas que nem sempre são de bom gosto e que não correspondem ao desejo e à vontade da Igreja e ao próprio espírito da liturgia.”

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

BISPOS DO HAITI: "NOSSA DESOLAÇÃO NÃO É UMA MALDIÇÃO DIVINA"

Em reação à opinião recentemente difundida de que o Haiti teria sido devastado por uma “punição divina”, um bispo do país manifestou-se destacando o amor e a misericórdia oferecidos por Deus à população do país em meio a esta gravíssima crise.

Em uma mensagem dirigida às vítimas do terremoto e a todo o povo haitiano, Dom Guy Poulard, bispo de Les Cayes, reafirmou que o desastre foi provocado por um fenômeno natural.

Diz ainda que "não vivemos mais o tempo do Antigo Testamento", e que a mensagem do Novo Testamento não é a de um Deus punitivo, mas do Deus que, conforme escrito no Evangelho de São João, “amou tanto a ponto de entregar seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele creia não morra, mas receba a vida eterna”.

“Nossa desolação não é uma maldição divina”, continuou. “A ciência mostra que a natureza tem suas leis, cuja força está além das capacidades do intelecto humano”.

Destacando que o desastre não poderia ser previsto, louvou os esforços nacionais e internacionais para socorrer as vítimas, em especial os esforços de resgate das tantas pessoas soterradas.

Refletindo sobre a reconstrução do país, reconheceu que será “um caminho longo e difícil”.

“Precisamos de oração, muita oração. Mas as orações que acusam Deus de ter punido nossas culpas não nos servem, assim como os serviços religiosos que se aproveitam do sofrimento de nosso povo, ou ainda aquela espécie de culto que explora o medo. Precisamos daquela oração que uma criança faz a seu Pai.”

“Temos um duro desafio: tantas pessoas mortas, tantos desaparecidos, as casas destruídas, os edifícios públicos reduzidos e escombros” - “mas nós permanecemos vivos. A chama da esperança permanece acesa! Trabalhemos juntos na reconstrução de nosso Haiti!”

A organização Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) doou, por intermédio do Núncio Apostólico do Haiti, 170.000 dólares para o fornecimento de comida, água potável, roupas e medicamentos para as vítimas da tragédia.

ROMA, segunda-feira, 1º de fevereiro de 2010.

(Fonte: http://www.zenit.org/article-23976?l=portuguese)

MENSAGEM DO PAPA BENTO XVI PARA O 44º DIA MUNDIAL DAS COMUNICAÇÕES SOCIAIS

[Domingo,16 de Maio de 2010]

«O sacerdote e a pastoral no mundo digital: os novos media ao serviço da Palavra»
Queridos irmãos e irmãs!
O tema do próximo Dia Mundial das Comunicações Sociais – «O sacerdote e a pastoral no mundo digital: os novos media ao serviço da Palavra» – insere-se perfeitamente no trajeto do Ano Sacerdotal e traz à ribalta a reflexão sobre um âmbito vasto e delicado da pastoral como é o da comunicação e do mundo digital, que oferece ao sacerdote novas possibilidades para exercer o seu serviço à Palavra e da Palavra. Os meios modernos de comunicação fazem parte, desde há muito tempo, dos instrumentos ordinários através dos quais as comunidades eclesiais se exprimem, entrando em contacto com o seu próprio território e estabelecendo, muito frequentemente, formas de diálogo mais abrangentes, mas a sua recente e incisiva difusão e a sua notável influência tornam cada vez mais importante e útil o seu uso no ministério sacerdotal.
A tarefa primária do sacerdote é anunciar Cristo, Palavra de Deus encarnada, e comunicar a multiforme graça divina portadora de salvação mediante os sacramentos. Convocada pela Palavra, a Igreja coloca-se como sinal e instrumento da comunhão que Deus realiza com o homem e que todo o sacerdote é chamado a edificar n’Ele e com Ele. Aqui reside a altíssima dignidade e beleza da missão sacerdotal, na qual se concretiza de modo privilegiado aquilo que afirma o apóstolo Paulo: «Na verdade, a Escritura diz: “Todo aquele que acreditar no Senhor não será confundido”. […] Portanto, todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. Mas como hão-de invocar Aquele em quem não acreditam? E como hão-de acreditar n’Aquele de quem não ouviram falar? E como hão-de ouvir falar, se não houver quem lhes pregue? E como hão-de pregar, se não forem enviados?» (Rm 10,11.13-15).

Hoje, para dar respostas adequadas a estas questões no âmbito das grandes mudanças culturais, particularmente sentidas no mundo juvenil, tornaram-se um instrumento útil as vias de comunicação abertas pelas conquistas tecnológicas. De fato, pondo à nossa disposição meios que permitem uma capacidade de expressão praticamente ilimitada, o mundo digital abre perspectivas e concretizações notáveis ao incitamento paulino: «Ai de mim se não anunciar o Evangelho!» (1 Cor 9,16). Por conseguinte, com a sua difusão, não só aumenta a responsabilidade do anúncio, mas esta torna-se também mais premente reclamando um compromisso mais motivado e eficaz. A este respeito, o sacerdote acaba por encontrar-se como que no limiar de uma «história nova», porque quanto mais intensas forem as relações criadas pelas modernas tecnologias e mais ampliadas forem as fronteiras pelo mundo digital, tanto mais será chamado o sacerdote a ocupar-se disso pastoralmente, multiplicando o seu empenho em colocar os media ao serviço da Palavra.

Contudo, a divulgação dos «multimídia» e o diversificado «espectro de funções» da própria comunicação podem comportar o risco de uma utilização determinada principalmente pela mera exigência de marcar presença e de considerar erroneamente a internet apenas como um espaço a ser ocupado. Ora, aos presbíteros é pedida a capacidade de estarem presentes no mundo digital em constante fidelidade à mensagem evangélica, para desempenharem o próprio papel de animadores de comunidades, que hoje se exprimem cada vez mais frequentemente através das muitas «vozes» que surgem do mundo digital, e anunciar o Evangelho recorrendo não só aos media tradicionais, mas também ao contributo da nova geração de audiovisuais (fotografia, vídeo, animações, blogues, páginas internet) que representam ocasiões inéditas de diálogo e meios úteis inclusive para a evangelização e a catequese.

Através dos meios modernos de comunicação, o sacerdote poderá dar a conhecer a vida da Igreja e ajudar os homens de hoje a descobrirem o rosto de Cristo, conjugando o uso oportuno e competente de tais meios – adquirido já no período de formação – com uma sólida preparação teológica e uma espiritualidade sacerdotal forte, alimentada pelo diálogo contínuo com o Senhor. No impacto com o mundo digital, mais do que a mão do operador dos media, o presbítero deve fazer transparecer o seu coração de consagrado, para dar uma alma não só ao seu serviço pastoral, mas também ao fluxo comunicativo ininterrupto da «rede».

Também no mundo digital deve ficar patente que a amorosa atenção de Deus em Cristo por nós não é algo do passado nem uma teoria erudita, mas uma realidade absolutamente concreta e atual. De fato, a pastoral no mundo digital há-de conseguir mostrar, aos homens do nosso tempo e à humanidade desorientada de hoje, que «Deus está próximo, que, em Cristo, somos todos parte uns dos outros» [Bento XVI, Discurso à Cúria Romana na apresentação dos votos de Natal: «L’Osservatore Romano» (21-22 de Dezembro de 2009) pág. 6].

Quem melhor do que um homem de Deus poderá desenvolver e pôr em prática, mediante as próprias competências no âmbito dos novos meios digitais, uma pastoral que torne Deus vivo e atual na realidade de hoje e apresente a sabedoria religiosa do passado como riqueza donde haurir para se viver dignamente o tempo presente e construir adequadamente o futuro? A tarefa de quem opera, como consagrado, nos media é aplanar a estrada para novos encontros, assegurando sempre a qualidade do contacto humano e a atenção às pessoas e às suas verdadeiras necessidades espirituais; oferecendo, às pessoas que vivem nesta nossa era «digital», os sinais necessários para reconhecerem o Senhor; dando-lhes a oportunidade de se educarem para a expectativa e a esperança, abeirando-se da Palavra de Deus que salva e favorece o desenvolvimento humano integral. A Palavra poderá assim fazer-se ao largo no meio das numerosas encruzilhadas criadas pelo denso emaranhado das auto-estradas que sulcam o ciberespaço e afirmar o direito de cidadania de Deus em todas as épocas, a fim de que, através das novas formas de comunicação, Ele possa passar pelas ruas das cidades e deter-se no limiar das casas e dos corações, fazendo ouvir de novo a sua voz: «Eu estou à porta e chamo. Se alguém ouvir a minha voz e Me abrir a porta, entrarei em sua casa, cearei com ele e ele comigo» (Ap 3, 20).

Na Mensagem do ano passado para idêntica ocasião, encorajei os responsáveis pelos processos de comunicação a promoverem uma cultura que respeite a dignidade e o valor da pessoa humana. Este é um dos caminhos onde a Igreja é chamada a exercer uma «diaconia da cultura» no atual «continente digital». Com o Evangelho nas mãos e no coração, é preciso reafirmar que é tempo também de continuar a preparar caminhos que conduzam à Palavra de Deus, não descurando uma atenção particular por quem se encontra em condição de busca, mas antes procurando mantê-la desperta como primeiro passo para a evangelização. Efetivamente, uma pastoral no mundo digital é chamada a ter em conta também aqueles que não acreditam, caíram no desânimo e cultivam no coração desejos de absoluto e de verdades não caducas, dado que os novos meios permitem entrar em contacto com crentes de todas as religiões, com não-crentes e pessoas de todas as culturas. Do mesmo modo que o profeta Isaías chegou a imaginar uma casa de oração para todos os povos (cf. Is 56,7), não se poderá porventura prever que a internet possa dar espaço – como o «pátio dos gentios» do Templo de Jerusalém – também àqueles para quem Deus é ainda um desconhecido?

O desenvolvimento das novas tecnologias e, na sua dimensão global, todo o mundo digital representam um grande recurso, tanto para a humanidade no seu todo como para o homem na singularidade do seu ser, e um estímulo para o confronto e o diálogo. Mas aquelas apresentam-se igualmente como uma grande oportunidade para os crentes. De fato nenhum caminho pode, nem deve, ser vedado a quem, em nome de Cristo ressuscitado, se empenha em tornar-se cada vez mais solidário com o homem. Por conseguinte e antes de mais nada, os novos media oferecem aos presbíteros perspectivas sempre novas e, pastoralmente, ilimitadas, que os solicitam a valorizar a dimensão universal da Igreja para uma comunhão ampla e concreta; a ser no mundo de hoje testemunhas da vida sempre nova, gerada pela escuta do Evangelho de Jesus, o Filho eterno que veio ao nosso meio para nos salvar. Mas, é preciso não esquecer que a fecundidade do ministério sacerdotal deriva primariamente de Cristo encontrado e escutado na oração, anunciado com a pregação e o testemunho da vida, conhecido, amado e celebrado nos sacramentos, sobretudo, da Santíssima Eucaristia e da Reconciliação.

A vós, queridos Sacerdotes, renovo o convite a que aproveiteis com sabedoria as singulares oportunidades oferecidas pela comunicação moderna. Que o Senhor vos torne apaixonados anunciadores da Boa Nova na «ágora» moderna criada pelos meios atuais de comunicação.
Com estes votos, invoco sobre vós a proteção da Mãe de Deus e do Santo Cura d’Ars e, com afeto, concedo a cada um a Bênção Apostólica.
Vaticano, 24 de Janeiro – Festa de São Francisco de Sales – de 2010.
BENEDICTUS PP. XVI