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terça-feira, 20 de novembro de 2012

SANDY ATRAPALHA ENCONTRO AMOROSO DE MURILO BENÍCIO


Por Ronaldo José de Sousa*


O furacão Sandy foi mais um fenômeno natural que deixou várias pessoas mortas e outras feridas, além de estragos sem conta. Aliás, esse tipo de catástrofe tem acontecido com frequência, fato que, por si só, já questiona a capacidade humana de colocar o desenvolvimento tecnológico, realmente, a serviço do próprio homem. Será possível que o aparato científico que pretende alcançar a imortalidade não esteja em condições de pelo menos prever com mais antecedência uma ocorrência como essa?
Entretanto, o que mais me incomoda não é isso e sim o modo como alguns encaram esse tipo de acontecimento. Fiquei estupefato quando vi, numa rede nacional de televisão, uma manchete em que se destacava que o ciclone tropical havia impedido o encontro amoroso entre os atores globais Murilo Benício e Débora Falabella, que aconteceria em Nova Iorque.
Meu Deus! Ocorreu um desastre que deixou mais de cem mortos! Muitas pessoas perderam casas, móveis e outros bens. Árvores foram arrancadas pelo vento, ruas ficaram alagadas, estradas e pontes foram destruídas. Em Cuba, cerca de 180 mil edificações desmoronaram e mais de 1.000 km² de terras agrícolas foram afetadas. Diversas famílias precisam de abrigo, água e alimento. O transporte público parou de funcionar em muitos lugares. Com a falta de eletricidade, muita gente sofre com o frio. Isso tudo acontecendo e tem gente preocupada com o encontro desses atores!
Na mesma linha, a modelo Nana Gouvêa, conforme foi noticiado em vários sites e em revistas de grande circulação, andou fazendo poses fotográficas entre os destroços deixados pelo furacão, atitude que demonstra nítida indiferença em relação ao sofrimento das vítimas, pois ignora o que aquelas cenas significam para estas mesmas vítimas e privilegiam o culto à beleza.
Fico pensando aonde vamos chegar! Alguns veículos midiáticos agem como se não houvesse nada mais importante do que os romances, os ajustes e desajustes, a beleza e o sucesso dessas celebridades. Não basta que esses meios igualem os acontecimentos, fazendo parecer, por exemplo, que a queda de um grande time para a segunda divisão do campeonato brasileiro é tão grave quanto um desastre ecológico? Agora, não se importam de desviar a atenção das pessoas para suas futilidades em detrimento do que realmente está em questão?
A vida humana é sagrada. Ela ocupa um lugar privilegiado na pregação de Jesus que, ao apresentar o núcleo central de sua missão redentora, disse: “Eu vim para que todos tenham vida, e a tenham em abundância” (Jo 10,10). Conquanto ela só alcance plena realização na eternidade, desde já é condição basilar, momento inicial e parte integrante do processo global e unitário da existência. Hoje, este anúncio a respeito da sacralidade da vida torna-se particularmente urgente, dado a maneira impressionante como novas mentalidades ameaçam a integridade ética dos povos.
A vida – e os acontecimentos que a afetam – deve ser considerada com sentido de responsabilidade. A boniteza de alguém ou o namoro de outrem não podem a ela se sobrepor, sob pena de torná-los, tais acontecimentos (mesmo os trágicos, com pessoas comuns), banais e menos importantes do que os momentos triviais dos famosos.
Não há nada de romântico no sofrimento alheio. Peço a Deus que essa mentalidade não se espalhe ainda mais. Uma insensibilidade exacerbada poderia ser muito nefasta para todos nós. Até mesmo para os belos e para os namorados!


* Doutor em sociologia e co-fundador da Comunidade Católica Remidos No Senhor.