Dia desses recebi pelo
celular um “pedido de amizade” por meio de uma rede social. Confesso que nunca
havia percebido o que se seguia após a confirmação de tal pedido. Mas desta vez
foi diferente. Confirmei a solicitação e observei que apareceu uma mensagem a
seguir que dizia: “Vocês são amigos agora”.
Aquilo me chamou a atenção e me deixou intrigado, questionando se amizade era
assim mesmo algo tão rápido e imediatamente pronto de se conseguir. Afinal,
havia aprendido que um amigo é um tesouro (Cf. Eclo 6, 14) e que, justamente
por sê-lo, é algo raro, que leva um tempo para se encontrar e conquistar.
Essa ideia de que a
amizade leva um tempo para ser gestada já aparece entre os antigos filósofos,
tanto os gregos quanto os romanos. Por exemplo, Aristóteles afirma em sua Ética a Nicômaco que “não podemos
conhecer as pessoas enquanto elas não tiverem ‘consumido juntas o sal
proverbial’”[1].
Este mesmo princípio está também presente na obra A amizade, do político e filósofo romano Marco Túlio Cícero: “É preciso
comer muitos módios de sal com alguém para que a amizade se consolide
plenamente”[2].
Sobre esta questão do
sal, vem à mente um anedótico caso da vida de Lampião, o rei do cangaço: Diz-se
que, certa vez, Lampião pediu a uma senhora que preparasse comida para ele e
seus homens, ao que esta, pelo nervosismo da situação, esqueceu de colocar sal
no alimento. Um dos cangaceiros de Lampião começou a reclamar com a mulher pelo
insosso da comida que estava sem gosto. Lampião, então, despejou um quilo de
sal no prato do reclamante e o obrigou a comer toda aquela comida. Conta-se que
o cangaceiro morreu antes mesmo de terminar o prato.
Parece que a amizade deve
ser “salgada” aos poucos, em medidas. Tanto é temerária uma amizade surgida sem
que se coma o sal juntos por um tempo, quanto também é perigosa uma em que se
come todo o sal de um só golpe. Vemos, portanto, que a amizade é temperada pelo
tempo.
Por Francisco Elvis Rodrigues Oliveira
(elvisroliveira@hotmail.com)
[1] ARISTÓTELES. Ética a Nicômacos. [1985]. Trad. Port.
Mário da Gama Kury. 4. ed. Brasília: UnB, 2001, p. 157.
[2] CÍCERO, Marco Túlio. Da amizade. Trad. Gilson Cesar Cardoso de Souza. Col.
Breves encontros. São Paulo: Martins Fontes, 2001, p. 82. Em outra tradução
temos a seguinte fórmula: “É preciso ter
comido muito sal juntos antes de cumprir deveres de amizade” (Lélio ou A amizade. Trad. Port. Paulo
Neves. Col. L&PM Pocket. N.º 63. Porto Alegre: L&PM Pocket, 2010, p.
121).