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sábado, 17 de janeiro de 2009

Você acredita em Milagres?

Dom Redovino Rizzardo, cs - Bispo Diocesano de Dourados

Suponhamos que haja alguém doente, e essa doença esteja atrapalhando sua caminhada. O Senhor, que ama essa pessoa e quer tirá-la dessa situação dolorosa, usa de alguém repleto do Espírito Santo: quem cura não é a pessoa em quem o Espírito se manifesta, mas o próprio Espírito, por meio dela [pessoa]. Alguém desorientado precisa da condução de Deus. O Senhor ama essa pessoa, quer vir em seu auxílio, então se manifesta em alguém repleto do Divino Amigo, para comunicar a palavra de sabedoria, de discernimento, para resolver a situação de ansiedade.
A eletricidade, por exemplo, se manifesta de diversas maneiras, gerando luz, som, calo, gelo… Mas ela não anda sozinha por aí; são necessários fios condutores. Se desligarmos a tomada, acabará a energia elétrica. Acontece o mesmo com o Espírito Santo, que se utiliza de uma rede de pessoas repletas d’Ele, que manifestam os dons: ora é uma palavra de sabedoria, ora de profecia; ora é uma cura; ora é um milagre; ora é discernimento; ora é ciência…. de acordo com a vontade do Senhor e a necessidade do povo d’Ele.
Nunca estive nos Estados Unidos. Por isso, não posso provar o que passo a relatar. Contudo, pelas inúmeras fotos que me foram apresentadas, algo de estranho realmente aconteceu em Santa Fé, no Estado do Novo México, há aproximadamente 130 anos, por volta de 1880. Aliás, se 250.000 pessoas visitam o local todos os anos, não será por nada!
Vamos aos fatos. Naquela cidade, há um colégio dirigido por religiosas. No final do século XIX, elas quiseram enriquecer seu educandário com uma nova e bonita capela. Mas, ao terminarem os trabalhos da construção, perceberam que havia sido esquecido… um detalhe: para chegar ao coro, colocado no alto da porta principal da igreja, os cantores não sabiam por onde subir, já que ninguém pensara na escada!
E agora, o que fazer para não prejudicar a arte e o estilo da capela? Para não cometer uma nova gafe, as religiosas, muito devotas, pensaram, antes de tudo, em rezar. Fizeram uma novena a São José, já que o Evangelho o apresenta como carpinteiro. No último dia, um desconhecido bateu à porta do convento. Dizendo-se entendido em marcenaria, prometeu resolver o problema. No final de uma semana, sem a ajuda de ninguém, ele entregou a escada, por todos considerada um prodígio da carpintaria e uma obra de arte. Desde logo, o fato suscitou inúmeras dúvidas e perguntas.
Primeiramente, ninguém sabe como a escada ficou e continua de pé até hoje, já que não dispõe de nenhum suporte central. Arquitetos, engenheiros e cientistas não entendem como se mantenha em equilíbrio. O construtor não usou pregos nem cola, mas cada pedaço de madeira está encaixado no outro. Por falar em madeira, não se sabe donde veio. Foram feitas inúmeras análises e não se descobriu nada parecido em toda a região. De sua parte, mal terminou a obra, o carpinteiro sumiu, sem deixar vestígios e sem esperar pelo pagamento. Por fim, um último “enigma”: a escada tem 33 degraus, a idade com que Cristo findou a sua jornada terrena.
Tantas coisas estranhas levaram as religiosas e o povo a pensar num milagre. O misterioso carpinteiro seria o próprio São José, que tivera compaixão das irmãs, não muito entendidas na arte da construção. Desde então, a escada passou a ser objeto de veneração, vista como um sinal do imenso amor com que Deus vem em socorro de seus filhos.
Mas não é apenas Santa Fé que se orgulha de apresentar fatos inexplicáveis. São centenas as cidades que alardeiam casos semelhantes – e não apenas dentro da Igreja Católica. Quem não ouviu falar dos milagres Eucarísticos de Lanciano ou do Pe. Cícero, para citar apenas dois exemplos? Pode ser que até mesmo na vida de alguns dos leitores aconteçam, ou tenham acontecido, coisas anormais – ou paranormais!
Mas, tais fatos, serão sempre milagres? E se o forem, por que acontecem? A esse respeito, o Catecismo da Igreja Católica tenta uma explicação: «Os milagres fortificam a fé naquele que realiza as obras de seu Pai; testemunham que Ele é o Filho de Deus. Não se destinam a satisfazer a curiosidade e os desejos mágicos. Ao libertar certas pessoas dos males terrestres da fome, da injustiça, da doença e da morte, Jesus operou sinais messiânicos; não veio, no entanto, para abolir todos os males da terra, mas para libertar os homens da mais grave das escravidões, a do pecado, que os entrava em sua vocação de filhos de Deus e causa todas as suas escravidões humanas».
Foi exatamente isso que Cristo quis ensinar ao atender pessoas em busca de milagres e prodígios. Sempre me impressionou um fato narrado pelo evangelista Mateus. Um grupo de amigos leva um paralítico a Jesus para que o cure. O Senhor, porém, “finge” não entender e oferece ao doente a liberdade e a paz, por meio do perdão dos pecados, coisa que ninguém havia pedido. Para Deus, a saúde física tem sentido se existe a saúde espiritual: «Para que se saiba que o Filho do Homem tem autoridade na terra para perdoar pecados – disse, então, ao paralítico –, levanta-te, toma a tua maca e vai para casa!» (Mt 96).
Os milagres visam sempre o amadurecimento na fé, o crescimento na santidade e a decisão de fazer da própria vida um serviço aos irmãos. Foi o que fez a sogra de Pedro: ao ser curada por Jesus, «ela se levantou e se pôs a servir» (Mc 1,31). Não se trata de milagres, ou seja, de intervenções divinas, se o que se tem em vista são apenas caprichos e vaidades. Aliás, mesmo que Deus atendesse a todos os pedidos que o homem lhe dirige, este nunca se sentiria saciado, teria sempre uma queixa a fazer e, na melhor das hipóteses, no final da vida – como diz o salmo 49 – «seria semelhante ao gado gordo pronto para o matadouro».
Se Jesus apresentou a sua morte e ressurreição como o maior sinal para quantos desejam acreditar n’Ele (Cf. Mt 12,40), converter-se, mudar de atitudes e ficar de pé nas tempestades da vida é sempre o grande milagre operado por Deus em quantos o buscam de coração sincero.