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segunda-feira, 16 de maio de 2016

EU SOU A LUZ DO MUNDO

Por Francivaldo da S. Sousa (Vavá)
Comunidade Remidos no Senhor

Resultado de imagem para imagem luz domundoA Bíblia inteira deve ser lida tendo como chave de leitura o mistério pascal de Cristo. Nenhuma palavra, quer do Antigo quer do Novo Testamento, pode ser desvinculada deste acontecimento histórico-salvífico. Assim sendo, a paixão, morte e ressurreição de Jesus é o princípio hermenêutico de toda a Escritura.

Para ilustrar essa afirmativa, basta recordar algumas palavras de Cristo que, confrontando-as com o seu mistério pascal, evidenciam sua intrínseca vinculação. Por exemplo: “Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida por suas ovelhas” (Jo 10,11); “Isto é o meu corpo, que é dado por vós” (Lc 22,19); ou ainda: “Se o grão de trigo, caído na terra, não morrer, fica só; se morrer, produz muito fruto” (Jo 15,45). São expressões que, explicitamente, encontram eco no mistério da Redenção.

Mas há uma afirmação de Jesus acerca de si mesmo que, à primeira vista, nada tem haver com a sua páscoa. Trata-se da seguinte asserção: “Eu sou a luz do mundo” (Jo 8,12). Em outro contexto, Ele havia dito que não se acende uma lâmpada para colocá-la debaixo do alqueire, mas sobre o candeeiro (cf. Mt 5,15).

Essas palavras, que aparentemente nada dizem a respeito do mistério pascal de Cristo, têm, contudo, forte ligação com a sua morte. O evangelista Mateus, descreve um episódio anterior à este momento que é muito sugestivo. Diz ele: “Desde a hora sexta até a hora nona [do meio dia até às três horas da tarde], houve treva em toda a terra” (27,45).

Ora, a condenação e crucifixão de Jesus não foi uma tentativa de extinguir a Luz do mundo? E, no entanto, sem que se dessem conta, aqueles que agiram assim, erguendo-o na cruz, não fizeram outra coisa senão expor, no lugar mais alto, a luz que ilumina todo homem (cf. Jo 1,9).

Durante aquelas três horas em que houve trevas em toda a terra, apenas uma única luz permaneceu acesa: Jesus. O astro luminoso como que se escondeu, entrando novamente no seu quarto (cf. Sl 18,6) em reverência ao Sol da justiça. A noite se antecipou para que a lâmpada por excelência irradiasse o seu brilho e a sua luz sobre o mundo e sobre os homens.

Mas o que aconteceu com a Luz do mundo depois de sua morte? Apagou-se? Extinguiu-se? Não! Como o sol que, em virtude do movimento da terra, deixa de brilhar em uma parte do planeta para iluminar a outra, assim se deu com o Salvador. Depois de sua morte, o Sol Nascente foi iluminar os que jaziam entre as trevas e na sombra da morte estavam sentados (cf. Lc 1,78-79). Desde então, já não haverá um só espaço que não tenha sido invadido por sua luz.

Na morte de Jesus a noite se antecipou. Na sua ressureição, ao contrário, ele mesmo precede o dia, pois quando as mulheres vão ao sepulcro e já não o encontram mais, “mal o sol havia despontado” (Mc 16,2). Depois que este novo Sol ressurgiu, quem haveria de conter a força penetrante de seus raios? Ou quem escaparia ao seu calor?

Davi, como numa espécie de profecia, afirmou com toda convicção: “As próprias trevas não são escuras para vós, a noite vos é transparente como o dia e a escuridão, clara como a luz” (Sl 138,12). Eis a proclamação que devemos fazer depois que os acontecimentos pascais foram consumados!  

Email do autor: vavasilvaremido@hotmail.com

sexta-feira, 13 de maio de 2016

NÃO É POR ACASO QUE CASUALIDADE E CAUSALIDADE SÃO PALAVRAS TÃO PARECIDAS

Transcrevo, abaixo, uma crônica bem interessante e inusitada do Pe. Jose Antonio Fortea, exorcista da Arquidiocese de Madri, na Espanha.


Ontem caiu um pacote de iogurte natural da esteira do caixa do supermercado. Os iogurtes caíram quando a moça do caixa apertou o botão para que as mercadorias avançassem na esteira. A culpa foi da cliente, de meia idade, que não tinha grandes conhecimentos de arquitetura nem certo senso comum para saber a quantidade de caixas que poderia ser empilhada.

Desafortunadamente, os iogurtes caíram de uma forma muito concreta que fez com que eles se abrissem. Normalmente não se abrem. Se amassam, mas não na se abrem. Mas, desta vez, sim. Eu, neste exato momento, estava agachado desenganchando uma cesta de compras que estava dentro de outra. Os iogurtes salpicaram em toda perna da minha calça, chegando as manchas brancas até minha camisa.

O iogurte era natural. As manchas brancas sobre minha batina preta não deixavam de ter uma certa beleza por conta do contraste. Por mais que me dessem primeiro papel para me limpar e depois lenços umedecidos, ainda continuei sujo. Não apenas estava manchado, mas que, além disso, me sentia sujo.


Eu que havia sido testemunha daquela cena, ainda não podia encontrar ninguém para pôr a culpa. Apenas cabia a mim culpar o azar ou a uma conjunção premeditada de causalidades baseada na existência de um Motor Imóvel. A partir de uma visão neoplatônica do acontecido, tudo era pura aparência. Vistas deste âmbito supralunar das almas das esferas, essas manchas tinham pouca entidade. Mas aquelas condenadas manchas resistiam, apesar das atenções das operadoras de caixa com suas toalhinhas.

Fonte: http://blogdelpadrefortea.blogspot.com.br/2016/05/no-fue-el-azar-el-que-hizo-que.html

quinta-feira, 28 de abril de 2016

“TUA PALAVRA É LÂMPADA PARA OS MEUS PÉS E LUZ PARA O MEU CAMINHO” (Sl 119,105)

Francivaldo da S. Sousa (Vavá)
Comunidade Remidos no Senhor

            Eis aqui um dos axiomas bíblicos mais belos, profundos e, provavelmente, mais conhecidos. Mas o que o salmista tinha em mente ao associar a Palavra de Deus a uma luz, uma lâmpada? É possível compreendê-lo pelo menos de duas maneiras.

            Em primeiro lugar, dizer que a Palavra de Deus é “luz” pode ter o seguinte significado: ela ilumina todas as realidades da vida humana, ou seja, traz respostas para cada uma delas. E isto é uma grande verdade, testemunhada, sobretudo, por quem mantém uma relação íntima e diária com as Sagradas Escrituras.

            Essa experiência, em alguns casos, foi motivo até de riso. Como por exemplo, o sujeito que era extremamente feio, e que perguntava a Deus se havia remédio para a sua feiura. Dirigindo-se ao livro sagrado, pedia ao Senhor que lhe respondesse ainda que fosse mediante um único versículo. Para sua surpresa, deparou-se com a expressão dirigida por Jesus a Nicodemos: “Necessário vos é nascer de novo” (Jo 3,5).

            Em outro caso, um pouco mais promissor que o primeiro, um gordinho, que há muito tempo tentava emagrecer, também pediu ao Senhor uma palavra. Ao abrir a Bíblia no livro do profeta Isaías, encontrou a seguinte passagem: “Naquele dia o peso de Jacó diminuirá e a sua gordura se mudará em magreza” (17,4 - TEB).

            A Bíblia também possui respostas para aquelas questões que, aparentemente, nada tem a ver com a fé, por exemplo: como comportar-se nos ambientes de festas (cf. Eclo 31,17.21), sobre o modo correto de se fazer amigos (cf. Eclo 6,7) e, ainda, para os viciados em estudo (Ecle 12,12b).

            Há, contudo, um segundo sentido para a metáfora empregada pelo salmista que, acredito, esteja mais de acordo com a sua intenção. Antes de afirmar que a Palavra de Deus é “lâmpada”, ele usa a seguinte expressão: “Com teus preceitos sou capaz de discernir” (119,104). E aqui está o verbo que melhor define o significado dos termos “luz” e “lâmpada”: discernir. Ou seja, distinguir com clareza, perceber facilmente, diferenciar. Com isso o salmista está dizendo que, sem as Sagradas Escrituras em sua vida, ele é incapaz de ver, de enxergar adequadamente. Quer dizer ainda que ele não saberia discernir corretamente, proceder a um exame minucioso diante daquelas situações mais delicadas, que dizem respeito à própria vida e a de outrem. Sem a Palavra, tudo fica escuro e, por conseguinte, confuso.

            Mas não custa recordar que para chegar a uma medida razoavelmente madura de discernimento não basta decorar versículos bíblicos, muito menos tratar a Bíblia como se fosse um amuleto, um guru, ou coisa semelhante. Trata-se, antes de mais, de uma relação profunda, de intimidade. Isso se faz, sobretudo, mediante a Leitura Orante da Bíblia, estabelecida como um compromisso diário e insubstituível.

            Através deste contato cotidiano e pessoal com a Palavra de Deus, a nossa vida vai sendo plasmada e os nossos pensamentos e sentimentos se conformando aos de Cristo. De tal maneira que, nas mais variadas circunstâncias, nos perguntaremos: “Como Ele agiria nesta hora?”. É então o momento em que aquele trecho bíblico, que já estava no coração, voltará ao pensamento, à memória, com toda a sua pureza e verdade e nos mostrará como agir ou reagir frente àquela situação.

            Quem é guiado pelos ensinamentos do Senhor, estabelecendo-os como critério primordial de discernimento e decisão, tem a garantia de que dificilmente vacilará. Ao contrário, quanto mais distante da Palavra de Deus, mais privado da luz o homem estará. E o resultado disso, o próprio Jesus já profetizava: “Se alguém anda de noite, tropeça, porque a luz não está nele” (Jo 11,10).
             

Email do autor: vavasilvaremido@hotmail.com
Campina Grande-PB


quinta-feira, 24 de março de 2016

TRANSFIGURAR-SE OU DESFIGURAR-SE?


            
Francivaldo da S. Sousa (Vavá Silva)
Comunidade Remidos no Senhor




            Entre o Tabor e o Gólgota existem profundas semelhanças, ao mesmo tempo em que há diferenças abissais. No primeiro se deu a Transfiguração, enquanto que no segundo, a desfiguração de Cristo. É preciso olhar calmamente para estes dois acontecimentos, procurando captar a mensagem que ainda hoje eles têm a nos dizer. No que concerne aos termos “transfiguração” e “desfiguração”, encontraremos mais elementos comuns do que, provavelmente, imaginamos. Com efeito, tanto um quanto o outro possuem basicamente os mesmos significados: alterar a figura ou aspecto de; mudar a feição. Assim sendo, uma abordagem meramente conceitual ou etimológica não nos esclareceria suficientemente o sentido subjacente aos dois adjetivos e, por conseguinte, sua diferenciação. Por esta razão, para não incorrermos no risco de ficarmos à margem do mistério contido nesses dois episódios da vida de Cristo, é necessário, portanto, uma análise de cunho teológico, e é isto que nos ariscaremos a fazer, ainda que de maneira sucinta. 

            Se Jesus mudou de fisionomia em ambos os momentos, é necessário indagar sobre que aspecto, então, o Cristo assumiu no Calvário e no monte Tabor. Quanto a este último, nos deparamos, ao que parece, com um progressivo interesse dos evangelistas sinóticos por esse detalhe. Marcos limita-se a dizer que Jesus “foi transfigurado diante deles”, ou seja, dos discípulos, sem nada referir quanto ao aspecto do seu rosto, senão à brancura das suas vestes (cf. 9,2b-3). Lucas vai um pouco mais longe, afirmando que “o aspecto de seu rosto se alterou” (9, 29), embora não nos esclareça no que consistiu tal alteração.

            É somente Mateus quem nos dá uma definição acerca da natureza desta mudança no semblante de Cristo. Depois de afirmar, como Lucas, que Jesus “foi transfigurado diante deles”, o mesmo evangelista acrescenta: “Seu rosto resplandeceu como o sol” (17,2), o que nos remete à mesma experiência de Moisés, quando, depois de falar com Deus, desce do monte com o rosto resplandecente (cf. Ex 34,29).

            Durante a Transfiguração de Cristo, ao mesmo tempo em que era reiterada a sua filiação divina (cf. Mt 17, 5b), o seu rosto brilhava, irradiando a glória de Deus. Disso se depreende o seguinte: o homem que se aproxima de Deus, de sua presença, experimenta, por assim dizer, uma verdadeira metamorfose, não apenas de caráter interior, subjetivo, como também externo, visual. Destarte, o homem em quem Deus se compraz (cf. Mt 17,5) expressa o brilho da glória divina não apenas em suas palavras e ações, mas também em seu rosto. Foi assim com Cristo, foi assim com Moisés, será também conosco.

Assim posto, passemos ao segundo termo, “desfiguração”. Na hora da Paixão, aquela mesma face que resplandeceu como o sol, muda novamente de fisionomia. Mas desta vez o efeito é contrário. Penso não haver descrição mais emblemática deste momento da vida de Cristo do que a de Isaías. O profeta veterotestamentário descreve-o da seguinte maneira: Ele “não tinha beleza nem esplendor que pudesse atrair o nosso olhar, como pessoa de quem todos escondem o rosto” (53, 2b. 3a). Mas qual foi a causa de tamanha mudança? O que tornou horripilante a face do mais belo dos filhos dos homens? (cf. Sl 45/44,3). “Eram os nossos sofrimentos que ele levava sobre si”; Ele foi “esmagado por causa das nossas iniquidades” (Is 53,4a.5a), responde-nos, categoricamente, o mesmo profeta. 

            E aqui chegamos a uma plausível conclusão: foi o pecado quem desfigurou o rosto de Cristo. Ou, para ser mais preciso, o meu, o teu pecado, pois este não existiria se não houvesse quem o praticasse. E assim como fez com Cristo, fá-lo também com todo homem que o comete. Aliás, a medida da desfiguração está ligada, ao que tudo indica, ao número e à gravidade do pecado. Talvez por isso a aparência de Jesus tenha abrigado tanta fealdade, considerando que Ele assumiu sobre si todos os pecados, quantitativa e qualitativamente falando. 

            A maldade produz também no ser humano uma mudança de aspecto, mas em sentido inverso. Enquanto que a proximidade de Deus torna o semblante do homem resplandecente, irradiante, a cercania do mal o deixa desfigurado, por vezes irreconhecível, em última análise, abatido, como Caim (cf. Gn 4,6).

            O Tabor e o Gólgota, portanto, vistos sob esta perspectiva, são protótipos de duas possibilidades existentes para o homem: transfigurar-se ou desfigurar-se. Contudo, qualquer que seja a experiência que ele vier a fazer, esta jamais ficará oculta, pois se refletirá também em seu rosto, atraindo ou repelindo os olhares de outros.


Email do autor: vavasilvaremido@hotmail.com
Campina Grande-PB