Por Francivaldo da
S. Sousa (Vavá)
Comunidade Remidos no
Senhor
A
Bíblia inteira deve ser lida tendo como chave de leitura o mistério pascal de
Cristo. Nenhuma palavra, quer do Antigo quer do Novo Testamento, pode ser
desvinculada deste acontecimento histórico-salvífico. Assim sendo, a paixão,
morte e ressurreição de Jesus é o princípio hermenêutico de toda a Escritura.
Para
ilustrar essa afirmativa, basta recordar algumas palavras de Cristo que,
confrontando-as com o seu mistério pascal, evidenciam sua intrínseca vinculação.
Por exemplo: “Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida por suas ovelhas” (Jo
10,11); “Isto é o meu corpo, que é dado por vós” (Lc 22,19); ou ainda: “Se o
grão de trigo, caído na terra, não morrer, fica só; se morrer, produz muito
fruto” (Jo 15,45). São expressões que, explicitamente, encontram eco no
mistério da Redenção.
Mas
há uma afirmação de Jesus acerca de si mesmo que, à primeira vista, nada tem
haver com a sua páscoa. Trata-se da seguinte asserção: “Eu sou a luz do mundo”
(Jo 8,12). Em outro contexto, Ele havia dito que não se acende uma lâmpada para
colocá-la debaixo do alqueire, mas sobre o candeeiro (cf. Mt 5,15).
Essas
palavras, que aparentemente nada dizem a respeito do mistério pascal de Cristo,
têm, contudo, forte ligação com a sua morte. O evangelista Mateus, descreve um
episódio anterior à este momento que é muito sugestivo. Diz ele: “Desde a hora
sexta até a hora nona [do meio dia até às três horas da tarde], houve treva em toda a terra” (27,45).
Ora,
a condenação e crucifixão de Jesus não foi uma tentativa de extinguir a Luz do
mundo? E, no entanto, sem que se dessem conta, aqueles que agiram assim,
erguendo-o na cruz, não fizeram outra coisa senão expor, no lugar mais alto, a
luz que ilumina todo homem (cf. Jo 1,9).
Durante
aquelas três horas em que houve trevas em toda a terra, apenas uma única luz
permaneceu acesa: Jesus. O astro luminoso como que se escondeu, entrando novamente
no seu quarto (cf. Sl 18,6) em reverência ao Sol da justiça. A noite se
antecipou para que a lâmpada por excelência irradiasse o seu brilho e a sua luz
sobre o mundo e sobre os homens.
Mas
o que aconteceu com a Luz do mundo depois de sua morte? Apagou-se?
Extinguiu-se? Não! Como o sol que, em virtude do movimento da terra, deixa de
brilhar em uma parte do planeta para iluminar a outra, assim se deu com o
Salvador. Depois de sua morte, o Sol Nascente foi iluminar os que jaziam entre
as trevas e na sombra da morte estavam sentados (cf. Lc 1,78-79). Desde então, já
não haverá um só espaço que não tenha sido invadido por sua luz.
Na
morte de Jesus a noite se antecipou. Na sua ressureição, ao contrário, ele
mesmo precede o dia, pois quando as mulheres vão ao sepulcro e já não o
encontram mais, “mal o sol havia despontado” (Mc 16,2). Depois que este novo
Sol ressurgiu, quem haveria de conter a força penetrante de seus raios? Ou quem
escaparia ao seu calor?
Davi,
como numa espécie de profecia, afirmou com toda convicção: “As próprias trevas
não são escuras para vós, a noite vos é transparente como o dia e a escuridão,
clara como a luz” (Sl 138,12). Eis a proclamação que devemos fazer depois que os
acontecimentos pascais foram consumados!
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do autor: vavasilvaremido@hotmail.com
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