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quinta-feira, 28 de abril de 2016

“TUA PALAVRA É LÂMPADA PARA OS MEUS PÉS E LUZ PARA O MEU CAMINHO” (Sl 119,105)

Francivaldo da S. Sousa (Vavá)
Comunidade Remidos no Senhor

            Eis aqui um dos axiomas bíblicos mais belos, profundos e, provavelmente, mais conhecidos. Mas o que o salmista tinha em mente ao associar a Palavra de Deus a uma luz, uma lâmpada? É possível compreendê-lo pelo menos de duas maneiras.

            Em primeiro lugar, dizer que a Palavra de Deus é “luz” pode ter o seguinte significado: ela ilumina todas as realidades da vida humana, ou seja, traz respostas para cada uma delas. E isto é uma grande verdade, testemunhada, sobretudo, por quem mantém uma relação íntima e diária com as Sagradas Escrituras.

            Essa experiência, em alguns casos, foi motivo até de riso. Como por exemplo, o sujeito que era extremamente feio, e que perguntava a Deus se havia remédio para a sua feiura. Dirigindo-se ao livro sagrado, pedia ao Senhor que lhe respondesse ainda que fosse mediante um único versículo. Para sua surpresa, deparou-se com a expressão dirigida por Jesus a Nicodemos: “Necessário vos é nascer de novo” (Jo 3,5).

            Em outro caso, um pouco mais promissor que o primeiro, um gordinho, que há muito tempo tentava emagrecer, também pediu ao Senhor uma palavra. Ao abrir a Bíblia no livro do profeta Isaías, encontrou a seguinte passagem: “Naquele dia o peso de Jacó diminuirá e a sua gordura se mudará em magreza” (17,4 - TEB).

            A Bíblia também possui respostas para aquelas questões que, aparentemente, nada tem a ver com a fé, por exemplo: como comportar-se nos ambientes de festas (cf. Eclo 31,17.21), sobre o modo correto de se fazer amigos (cf. Eclo 6,7) e, ainda, para os viciados em estudo (Ecle 12,12b).

            Há, contudo, um segundo sentido para a metáfora empregada pelo salmista que, acredito, esteja mais de acordo com a sua intenção. Antes de afirmar que a Palavra de Deus é “lâmpada”, ele usa a seguinte expressão: “Com teus preceitos sou capaz de discernir” (119,104). E aqui está o verbo que melhor define o significado dos termos “luz” e “lâmpada”: discernir. Ou seja, distinguir com clareza, perceber facilmente, diferenciar. Com isso o salmista está dizendo que, sem as Sagradas Escrituras em sua vida, ele é incapaz de ver, de enxergar adequadamente. Quer dizer ainda que ele não saberia discernir corretamente, proceder a um exame minucioso diante daquelas situações mais delicadas, que dizem respeito à própria vida e a de outrem. Sem a Palavra, tudo fica escuro e, por conseguinte, confuso.

            Mas não custa recordar que para chegar a uma medida razoavelmente madura de discernimento não basta decorar versículos bíblicos, muito menos tratar a Bíblia como se fosse um amuleto, um guru, ou coisa semelhante. Trata-se, antes de mais, de uma relação profunda, de intimidade. Isso se faz, sobretudo, mediante a Leitura Orante da Bíblia, estabelecida como um compromisso diário e insubstituível.

            Através deste contato cotidiano e pessoal com a Palavra de Deus, a nossa vida vai sendo plasmada e os nossos pensamentos e sentimentos se conformando aos de Cristo. De tal maneira que, nas mais variadas circunstâncias, nos perguntaremos: “Como Ele agiria nesta hora?”. É então o momento em que aquele trecho bíblico, que já estava no coração, voltará ao pensamento, à memória, com toda a sua pureza e verdade e nos mostrará como agir ou reagir frente àquela situação.

            Quem é guiado pelos ensinamentos do Senhor, estabelecendo-os como critério primordial de discernimento e decisão, tem a garantia de que dificilmente vacilará. Ao contrário, quanto mais distante da Palavra de Deus, mais privado da luz o homem estará. E o resultado disso, o próprio Jesus já profetizava: “Se alguém anda de noite, tropeça, porque a luz não está nele” (Jo 11,10).
             

Email do autor: vavasilvaremido@hotmail.com
Campina Grande-PB