Francivaldo da S.
Sousa (Vavá)
Comunidade Remidos no Senhor
Eis aqui um dos axiomas bíblicos
mais belos, profundos e, provavelmente, mais conhecidos. Mas o que o salmista tinha
em mente ao associar a Palavra de Deus a uma luz, uma lâmpada? É possível
compreendê-lo pelo menos de duas maneiras.
Em primeiro lugar, dizer que a
Palavra de Deus é “luz” pode ter o seguinte significado: ela ilumina todas as realidades da vida
humana, ou seja, traz respostas para cada uma delas. E isto é uma grande
verdade, testemunhada, sobretudo, por quem mantém uma relação íntima e diária
com as Sagradas Escrituras.
Essa experiência, em alguns casos,
foi motivo até de riso. Como por exemplo, o sujeito que era extremamente feio,
e que perguntava a Deus se havia remédio para a sua feiura. Dirigindo-se ao
livro sagrado, pedia ao Senhor que lhe respondesse ainda que fosse mediante um
único versículo. Para sua surpresa, deparou-se com a expressão dirigida por
Jesus a Nicodemos: “Necessário vos é nascer de novo” (Jo 3,5).
Em outro caso, um pouco mais
promissor que o primeiro, um gordinho, que há muito tempo tentava emagrecer,
também pediu ao Senhor uma palavra. Ao abrir a Bíblia no livro do profeta
Isaías, encontrou a seguinte passagem: “Naquele dia o peso de Jacó diminuirá e
a sua gordura se mudará em magreza” (17,4 - TEB).
A Bíblia também possui respostas
para aquelas questões que, aparentemente, nada tem a ver com a fé, por exemplo:
como comportar-se nos ambientes de festas (cf. Eclo 31,17.21), sobre o modo
correto de se fazer amigos (cf. Eclo 6,7) e, ainda, para os viciados em estudo
(Ecle 12,12b).
Há, contudo, um segundo sentido para
a metáfora empregada pelo salmista que, acredito, esteja mais de acordo com a
sua intenção. Antes de afirmar que a Palavra de Deus é “lâmpada”, ele usa a
seguinte expressão: “Com teus preceitos sou capaz de discernir” (119,104). E aqui está o verbo que melhor define o
significado dos termos “luz” e “lâmpada”: discernir. Ou seja, distinguir com
clareza, perceber facilmente, diferenciar. Com isso o salmista está dizendo
que, sem as Sagradas Escrituras em sua vida, ele é incapaz de ver, de enxergar adequadamente.
Quer dizer ainda que ele não saberia discernir corretamente, proceder a um
exame minucioso diante daquelas situações mais delicadas, que dizem respeito à
própria vida e a de outrem. Sem a Palavra, tudo fica escuro e, por conseguinte,
confuso.
Mas não custa recordar que para
chegar a uma medida razoavelmente madura de discernimento
não basta decorar versículos bíblicos, muito menos tratar a Bíblia como se
fosse um amuleto, um guru, ou coisa semelhante. Trata-se, antes de mais, de uma
relação profunda, de intimidade. Isso se faz, sobretudo, mediante a Leitura
Orante da Bíblia, estabelecida como um compromisso diário e insubstituível.
Através deste contato cotidiano e
pessoal com a Palavra de Deus, a nossa vida vai sendo plasmada e os nossos
pensamentos e sentimentos se conformando aos de Cristo. De tal maneira que, nas
mais variadas circunstâncias, nos perguntaremos: “Como Ele agiria nesta hora?”.
É então o momento em que aquele trecho bíblico, que já estava no coração,
voltará ao pensamento, à memória, com toda a sua pureza e verdade e nos mostrará
como agir ou reagir frente àquela situação.
Quem é guiado pelos ensinamentos do
Senhor, estabelecendo-os como critério primordial de discernimento e decisão,
tem a garantia de que dificilmente vacilará. Ao contrário, quanto mais distante
da Palavra de Deus, mais privado da luz o homem estará. E o resultado disso, o
próprio Jesus já profetizava: “Se alguém anda de noite, tropeça, porque a luz
não está nele” (Jo 11,10).
Email do autor:
vavasilvaremido@hotmail.com
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