"APASCENTA AS MINHAS OVELHAS" (Jo 21, 17)
Tema da RCC 2012
Para este ano de 2012 a Renovação Carismática
Católica tem como inspiração a passagem do Evangelho de João, capítulo 21,
versículo 17: “Apascenta as minhas ovelhas”. De início, podemos perceber o que
o Senhor quer dizer ao movimento para este ano. Trata-se sobre do carisma do
cuidado, do pastoreio, do zelo apostólico que cada cristão é chamado a
desenvolver.
De um modo particular, para nós que fazemos
este curso de liderança, esta passagem nos diz muito. Podemos tomar toda a
narrativa bíblica para esclarecermos melhor esta passagem:
“Tendo eles comido,
Jesus perguntou a Simão Pedro: Simão, filho de João, amas-me mais do que estes?
Respondeu ele: Sim, Senhor, tu sabes que te amo. Disse-lhe Jesus: Apascenta os
meus cordeiros. Perguntou-lhe outra vez: Simão, filho de João, amas-me?
Respondeu-lhe: Sim, Senhor, tu sabes que te amo. Disse-lhe Jesus: Apascenta os
meus cordeiros. Perguntou-lhe pela terceira vez: Simão, filho de João, amas-me?
Pedro entristeceu-se porque lhe perguntou pela terceira vez: Amas-me?, e
respondeu-lhe: Senhor, sabes tudo, tu sabes que te amo. Disse-lhe Jesus:
Apascenta as minhas ovelhas” (Jo,15-17).
Esta passagem costuma ser interpretada – e acertadamente
– como sendo a “remissão” de Pedro. Ou seja, Jesus pergunta três vezes a Pedro
em virtude da tripla negação que este fizera anteriormente ao ser perguntado se
era discípulo de Jesus (Cf. Mt 26,69-75; Mc 14,66-72; Lc 22,31-37). No entanto,
gostaria de dar aqui uma outra interpretação feita pelo então Cardeal
Ratzinger, Papa Bento XVI, no livro Os
apóstolos.
Se tomássemos o texto no seu original grego,
na realidade, veríamos um jogo de palavras que Jesus faz neste diálogo com
Pedro. Além de Pedro retratar-se com o Mestre, esta passagem nos mostra Jesus
ensinando o apóstolo a medida correta do amor e do pastoreio deseja por Ele.
Quando da primeira pergunta feita a Pedro se
ele amava a Jesus, o Mestre utilizou o verbo grego agapâs-me, que significa o amor incondicional, totalizante. Ao que
Pedro responde: filô-se. Portanto, o
amor imperfeito, condicional, meramente humano. “Te amo, com meu pobre amor humano”[1].
Jesus, uma vez mais pergunta a Pedro se ele O
amava (agapâs-me?) e Pedro, na
tentativa de alcançar a exigência de amor a qual Nosso Senhor o chamava
responde “Kyrie, filô-se” (“Senhor,
te quero como sei querer”[2]).
Jesus, ao perceber que Pedro ainda não estava
pronto para responder à medida exigida por Ele, como que aceita este pobre amor
humano e o torna suficiente para conferir o ministério petrino ao apóstolo.
Jesus muda o verbo para Pedro “caber” no amor divino. Ele pergunta uma terceira
vez: “Fileis-me?”. Por isso Pedro
ficou triste, por não corresponder à medida do Senhor.
Jesus sabe de nossas fraquezas e limites.
Embora nos coloque como meta o seu amor incondicional (Ágape), se rebaixa ao nosso Filia,
aceitando-o e transformando-o.
Assim deveria ser o nosso pastoreio. O líder
deve saber impor metas ousadas aos seus, mas ao mesmo tempo, saber esperar o
tempo de cada um em responder a este apelo. O líder deve constantemente “mudar
o verbo” a fim de não perder as pessoas a quem o Senhor nos confiou.
Evidente que no fim da vida, Pedro mostrou
que havia aprendido a lição e amou Nosso Senhor até o fim, ao ser martirizado e
crucificado.
Mas afinal, qual a medida de amor? O próprio Jesus
nos dá esta resposta alguns capítulos antes:
“Eu sou o bom pastor.
O bom pastor expõe a sua vida pelas ovelhas. O mercenário, porém, que não é
pastor, a quem não pertencem as ovelhas, quando vê que o lobo vem vindo,
abandona as ovelhas e foge; o lobo rouba e dispersa as ovelhas. O mercenário,
porém, foge, porque é mercenário e não se importa com as ovelhas. Eu sou o bom
pastor. Conheço as minhas ovelhas e as minhas ovelhas conhecem a mim, como meu
Pai me conhece e eu conheço o Pai. Dou a minha vida pelas minhas ovelhas. Tenho
ainda outras ovelhas que não são deste aprisco. Preciso conduzi-las também, e
ouvirão a minha voz e haverá um só rebanho e um só pastor” (Jo 10,11-16).
Portanto, o bom o bom pastor dá a vida por
suas ovelhas. Esta é medida de amor que nós, enquanto lideres, precisamos ter
como meta. Mas, o que significa dar a vida? Não que necessariamente que seja o
caso derramar o sangue, mas dar a vida pode assumir formas as mais variadas em
nosso dia-a-dia: um simples olhar dirigido ao irmão que precisa, gastar um
pouco de tempo escutando e acolhendo o outro, uma ligação, visita a quem está
doente ou afastado, preparar bem a acolhida e todo o momento do grupo de
oração. Enfim, trata-se de ter o cuidado necessário para com as ovelhas do
Senhor.
Um outro aspecto que chama a atenção nesta
passagem é que Nosso Senhor chamar o pasto de bom. Se observarmos bem, são três as principais atividades
econômicas no tempo de Jesus e, ele mesmo, se vale delas para explicar sobre o
Reino de Deus: o pescador, o agricultor e o pastor.
Mas apenas no pastoreio Ele utilizada o
qualificativo bom. Naquele tempo,
tanto os pescadores quanto os agricultores gozavam de boa reputação perante a
comunidade. O que não acontecia com os pastores. Nem todos eles eram boas
pessoas. Muitos daqueles que exerciam tal função eram marginais e criminosos
que, fugidos, viviam nas montanhas e sobreviviam desta atividade. Jesus, então,
redime a função de pastor ao dizer que ele é bom. Sua intenção era, justamente, mostrar que o Evangelho é para
todos, sobretudo, os pecadores.
Ele se diz bom pastor ainda porque aqueles
maus pastores, por terem o único desejo de fugir das autoridades, ao verem o
lobo, imediatamente fugiam e deixam os rebanhos[3]
à mercê dos predadores. Este não era o pastor, mas mercenário. Em vez de olhar
o rebanho, dormia junto à porta e não saberia diferenciar a quem pertenciam as
ovelhas que deveria cuidar.
Jesus, ainda, se compara com a porta. Ou
seja, além de ser Ele o Bom Pastor, que expõe a vida pelas ovelhas e que as
conhece, ao dizer que é a porta, significa o mesmo que “eu defendo você”[4].
A porta oferece segurança. Esta comparação diz muito à liderança. A nossa
medida de amar é o amor de Deus, incondicional, Ágape, fruto do nosso amor a Deus.
Ao mesmo tempo, se quisermos ser bons
pastores, devermos ser como a porta do aprisco, defender nossas ovelhas.
Evidente que não significa não ver os erros dos irmãos e “passar a mão da
cabeça” deles. Significa protegê-los do lobo, do inimigo, do pecado e das
ocasiões de pecado, formando-os à luz da Palavra de Deus e do Magistério.
Significa, ainda, defender a Igreja e seus ensinamentos.
Por fim, ser o bom pastor é alguém que tem
zelo pelo ministério confiando por Deus. A palavra zelo vem do grego zelos e significa “chegar ao ponto de
ebulição”[5].
Em outras palavras, o pastor zeloso é alguém inflamado por aquilo que faz.
Francisco Elvis Rodrigues Oliveira