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domingo, 6 de maio de 2012


"APASCENTA AS MINHAS OVELHAS" (Jo 21, 17)


Tema da RCC 2012
Para este ano de 2012 a Renovação Carismática Católica tem como inspiração a passagem do Evangelho de João, capítulo 21, versículo 17: “Apascenta as minhas ovelhas”. De início, podemos perceber o que o Senhor quer dizer ao movimento para este ano. Trata-se sobre do carisma do cuidado, do pastoreio, do zelo apostólico que cada cristão é chamado a desenvolver.
De um modo particular, para nós que fazemos este curso de liderança, esta passagem nos diz muito. Podemos tomar toda a narrativa bíblica para esclarecermos melhor esta passagem:

“Tendo eles comido, Jesus perguntou a Simão Pedro: Simão, filho de João, amas-me mais do que estes? Respondeu ele: Sim, Senhor, tu sabes que te amo. Disse-lhe Jesus: Apascenta os meus cordeiros. Perguntou-lhe outra vez: Simão, filho de João, amas-me? Respondeu-lhe: Sim, Senhor, tu sabes que te amo. Disse-lhe Jesus: Apascenta os meus cordeiros. Perguntou-lhe pela terceira vez: Simão, filho de João, amas-me? Pedro entristeceu-se porque lhe perguntou pela terceira vez: Amas-me?, e respondeu-lhe: Senhor, sabes tudo, tu sabes que te amo. Disse-lhe Jesus: Apascenta as minhas ovelhas” (Jo,15-17).

Esta passagem costuma ser interpretada – e acertadamente – como sendo a “remissão” de Pedro. Ou seja, Jesus pergunta três vezes a Pedro em virtude da tripla negação que este fizera anteriormente ao ser perguntado se era discípulo de Jesus (Cf. Mt 26,69-75; Mc 14,66-72; Lc 22,31-37). No entanto, gostaria de dar aqui uma outra interpretação feita pelo então Cardeal Ratzinger, Papa Bento XVI, no livro Os apóstolos.
Se tomássemos o texto no seu original grego, na realidade, veríamos um jogo de palavras que Jesus faz neste diálogo com Pedro. Além de Pedro retratar-se com o Mestre, esta passagem nos mostra Jesus ensinando o apóstolo a medida correta do amor e do pastoreio deseja por Ele.
Quando da primeira pergunta feita a Pedro se ele amava a Jesus, o Mestre utilizou o verbo grego agapâs-me, que significa o amor incondicional, totalizante. Ao que Pedro responde: filô-se. Portanto, o amor imperfeito, condicional, meramente humano. “Te amo, com meu pobre amor humano[1].
Jesus, uma vez mais pergunta a Pedro se ele O amava (agapâs-me?) e Pedro, na tentativa de alcançar a exigência de amor a qual Nosso Senhor o chamava responde “Kyrie, filô-se” (“Senhor, te quero como sei querer”[2]).
Jesus, ao perceber que Pedro ainda não estava pronto para responder à medida exigida por Ele, como que aceita este pobre amor humano e o torna suficiente para conferir o ministério petrino ao apóstolo. Jesus muda o verbo para Pedro “caber” no amor divino. Ele pergunta uma terceira vez: “Fileis-me?”. Por isso Pedro ficou triste, por não corresponder à medida do Senhor.
Jesus sabe de nossas fraquezas e limites. Embora nos coloque como meta o seu amor incondicional (Ágape), se rebaixa ao nosso Filia, aceitando-o e transformando-o.
Assim deveria ser o nosso pastoreio. O líder deve saber impor metas ousadas aos seus, mas ao mesmo tempo, saber esperar o tempo de cada um em responder a este apelo. O líder deve constantemente “mudar o verbo” a fim de não perder as pessoas a quem o Senhor nos confiou.
Evidente que no fim da vida, Pedro mostrou que havia aprendido a lição e amou Nosso Senhor até o fim, ao ser martirizado e crucificado.
Mas afinal, qual a medida de amor? O próprio Jesus nos dá esta resposta alguns capítulos antes:

“Eu sou o bom pastor. O bom pastor expõe a sua vida pelas ovelhas. O mercenário, porém, que não é pastor, a quem não pertencem as ovelhas, quando vê que o lobo vem vindo, abandona as ovelhas e foge; o lobo rouba e dispersa as ovelhas. O mercenário, porém, foge, porque é mercenário e não se importa com as ovelhas. Eu sou o bom pastor. Conheço as minhas ovelhas e as minhas ovelhas conhecem a mim, como meu Pai me conhece e eu conheço o Pai. Dou a minha vida pelas minhas ovelhas. Tenho ainda outras ovelhas que não são deste aprisco. Preciso conduzi-las também, e ouvirão a minha voz e haverá um só rebanho e um só pastor” (Jo 10,11-16).

Portanto, o bom o bom pastor dá a vida por suas ovelhas. Esta é medida de amor que nós, enquanto lideres, precisamos ter como meta. Mas, o que significa dar a vida? Não que necessariamente que seja o caso derramar o sangue, mas dar a vida pode assumir formas as mais variadas em nosso dia-a-dia: um simples olhar dirigido ao irmão que precisa, gastar um pouco de tempo escutando e acolhendo o outro, uma ligação, visita a quem está doente ou afastado, preparar bem a acolhida e todo o momento do grupo de oração. Enfim, trata-se de ter o cuidado necessário para com as ovelhas do Senhor.
Um outro aspecto que chama a atenção nesta passagem é que Nosso Senhor chamar o pasto de bom. Se observarmos bem, são três as principais atividades econômicas no tempo de Jesus e, ele mesmo, se vale delas para explicar sobre o Reino de Deus: o pescador, o agricultor e o pastor.
Mas apenas no pastoreio Ele utilizada o qualificativo bom. Naquele tempo, tanto os pescadores quanto os agricultores gozavam de boa reputação perante a comunidade. O que não acontecia com os pastores. Nem todos eles eram boas pessoas. Muitos daqueles que exerciam tal função eram marginais e criminosos que, fugidos, viviam nas montanhas e sobreviviam desta atividade. Jesus, então, redime a função de pastor ao dizer que ele é bom. Sua intenção era, justamente, mostrar que o Evangelho é para todos, sobretudo, os pecadores.
Ele se diz bom pastor ainda porque aqueles maus pastores, por terem o único desejo de fugir das autoridades, ao verem o lobo, imediatamente fugiam e deixam os rebanhos[3] à mercê dos predadores. Este não era o pastor, mas mercenário. Em vez de olhar o rebanho, dormia junto à porta e não saberia diferenciar a quem pertenciam as ovelhas que deveria cuidar.
Jesus, ainda, se compara com a porta. Ou seja, além de ser Ele o Bom Pastor, que expõe a vida pelas ovelhas e que as conhece, ao dizer que é a porta, significa o mesmo que “eu defendo você”[4]. A porta oferece segurança. Esta comparação diz muito à liderança. A nossa medida de amar é o amor de Deus, incondicional, Ágape, fruto do nosso amor a Deus.
Ao mesmo tempo, se quisermos ser bons pastores, devermos ser como a porta do aprisco, defender nossas ovelhas. Evidente que não significa não ver os erros dos irmãos e “passar a mão da cabeça” deles. Significa protegê-los do lobo, do inimigo, do pecado e das ocasiões de pecado, formando-os à luz da Palavra de Deus e do Magistério. Significa, ainda, defender a Igreja e seus ensinamentos.
Por fim, ser o bom pastor é alguém que tem zelo pelo ministério confiando por Deus. A palavra zelo vem do grego zelos e significa “chegar ao ponto de ebulição”[5]. Em outras palavras, o pastor zeloso é alguém inflamado por aquilo que faz.


Francisco Elvis Rodrigues Oliveira


[1] BENTO XVI, Os apóstolos, p. 50.
[2] Ibidem.
[3] Utilizo rebanhos, no plural, pois naquele tempo, os pastores usavam um aprisco em comum e contratavam alguém para vigiá-los a noite (o mercenário).
[4] VELLA, Frei Elias. O líder de fé, p. 64.
[5] Ibidem, p. 21.