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terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Como surgiu o Carnaval?


Na vida, as coisas parecem já existir desde sempre e para sempre, e se acaba por viver tudo o que acontece ou que aparece na moda, no “auge”. Porém, cada coisa tem seu princípio e seus momentos de transformação. É sempre bom que as perguntas surjam, como aquelas da criança que está descobrindo o mundo: Quem criou isso?, por que isso existe? E que tal, como se diz na era da informação, navegar um pouco e descobrir como surgiu o carnaval?

História
Sua origem vem de uma manifestação popular anterior à era cristã, tendo se iniciado na Itália com o nome de saturnálias, festa em homenagem a Saturno, divindade da mitologia greco-romana, Baco (deus do vinho) e Momo (deus da graciosidade). Esses dividiam as honras dos festejos, que aconteciam nos meses de novembro e dezembro.

Em Roma, era marcada por uma aparente quebra de hierarquia da sociedade, já que escravos, filósofos e tribunos se misturavam em praça pública. Na época ocorriam verdadeiros bacanais. Com o advento do cristianismo, esses festejos foram remanejados para antes quaresma.

Por que Carnaval?
Uma das versões mais aceitas para a origem do termo carnaval está no Dicionário de Frei Domingos Vieira, que define a palavra carnaval como provinda do italiano carne e vale. No dialeto milanês tem carnelevale, do baixo latim, e Carnelevamen de carne e levamen ação de tirar, assim, tempo em que se tira o uso da carne, pois a festa do carnaval é exatamente um dia antes da quarta-feira de cinzas.
A origem no Brasil

Rio de janeiro

No Rio de Janeiro colonial existia uma festa chamada congada do rosário, organizada pelos negros da Igreja Nossa Senhora do Rosário, para homenagear os príncipes do Congo que tornaram-se escravos, ocorria próximo ao Natal, sendo proibida no ano de 1820 pela polícia, pois o desfile acabava em sérios conflitos entre os negros e os capoeiras. Os negros, não se deixando abater, foram-se misturando nos ranchos de reis (festa religiosa em que se celebra a adoração dos reis magos a Jesus Menino), transplantados de Portugal. No final do século XIX, passaram do Natal para o carnaval. É o princípio do carnaval carioca. Aí, se desdobraram em ranchos tradicionais e escolas de samba, sobrevindo o rei e a rainha do Congo, sempre com seus trajes de antigas eras, o que se chama hoje de mestre-sala e porta-bandeira. Os embaixadores e os capoeiras e a música, formaram a bateria, que ainda consta do mesmo instrumental de percussão de origem Anglo-Congolesa.

Na Bahia
O primeiro carnaval de rua de Salvador aconteceu cinco anos antes da Proclamação da República. Era uma festa com grande influência européia, como quase tudo o que existia no Brasil naquela época, com muito luxo, requinte. O ano de 1884 é considerado o primeiro carnaval no estilo de hoje, inclusive com o forte apoio da publicidade utilizada pelos comerciantes da época.
Entre 1895 e 1896 surgem os primeiros AFOXÉS, organizados por negros. Representavam casas de culto de herança africana e saíam às ruas cantando e recitando seqüências de músicas e letras.

Em 1938 surgiu a idéia do trio elétrico, quando Dodô (rádio-técnico, músico e estudioso de eletrônica) e Osmar (inventor e músico), se conheceram tocando em programas de rádio, ao lado de Dorival Caymmi, entre outros nomes já famosos na época. Em 1939, em um Ford – o fobica – equipado com dois alto-falantes, eles se apresentaram nas ruas da cidade como a “dupla elétrica”.
Em Recife
Os festejos, sobretudo a festa de reis, eram organizados pelas chamadas Companhias de Carregadores de Açúcar e as Companhias de Carregadores de Mercadorias, isso no século XVII, que constava de cortejos com caixões e bandeiras.

O frevo, que significa ferver, provém das antigas marchas, maxixes e dobrados; as bandas militares do século passado, bem como as quadrilhas de origem européia.


Uma forte característica do carnaval pernambucano é o Maracatu, que surgiu por volta do século XVIII, dito Maracatus de Baque Virado ou Maracatus de Nação Africana. Entre os clubes que eram a expressão carnavalesca no período de 1904 a 1912, destacam-se os seguintes: Cavalheiros de Satanás, Caras Duras, Filhos da Candinha e U.P.M., o último como piada aos homens que não tinham mais virilidade.
No mundo
O atual carnaval é uma mescla entre o carnaval de Veneza e da cidade francesa de Nice, onde ocorrem desfiles de pessoas fantasiadas sobre carros enfeitados, exibindo-se para a platéia, enfeita-se a cidade toda por grandes painéis luminosos com temas carnavalescos; à beira do mar, ocorre o desfile mais importante e diferente: a Parada das Flores. Cerca de vinte carros alegóricos, repletos de flores frescas formando arranjos e mosaicos variados, passam pela avenida e são saudados pela platéia. Todas essas comemorações duram até o mardi gras – a “terça-feira gorda”.

O nome francês da data serviu para batizar uma comemoração americana que só acontece nesse dia, na cidade de Nova Orleans. A festa começou no século XVIII, quando a cidade ainda estava sob o domínio da França. Mantendo muitas de suas características originais, como o desfile de mascarados em carros alegóricos. No entanto, à semelhança do que ocorreu no Rio de Janeiro, ela se contagiou com elementos da cultura negra, muito forte na região. Outra presença da festa são os krewe, blocos de mascarados que dançam a pé pelas ruas.
 
Personagens do carnaval
MÁSCARAS: O uso das máscaras vem desde o tempo em que se pensava que elas protegiam os foliões de maus espíritos ou transformavam as pessoas em personagens diferentes. Já em Veneza, na Itália, o uso de fantasias no Carnaval surgiu por causa de uma proibição. No século XIII era comum as pessoas andarem mascaradas o tempo todo, aproveitando para fazer o que quisessem, inclusive crimes, sem serem reconhecidas. Por isso, foi decretado que o uso de máscaras seria permitido apenas durante o Carnaval. Se alguém fosse pego fantasiado em qualquer outro dia, seria punido com prisão e chicotadas.

MOMO: Segundo a Mitologia Greco-Romana, o Filho do Sono e da Noite, ocupava-se unicamente em examinar as ações dos deuses e dos homens, e chegava mesmo a repreendê-los. Considerado como deus da Graciosidade, tinha caráter muito jocoso. Era representado com uma máscara numa mão e na outra uma figura ridícula para dar a entender que tira a máscara aos vícios dos homens e ri da sua loucura. Foi eleito juiz das obras de Netuno, de Vulcano e de Minerva: nenhuma achou perfeita. Vituperou Netuno porque, compondo um touro, não lhe pôs chavelhos. Criticou o homem forjado por Vulcano, por não lhe ter feito uma janela no coração para lhe ver os seus secretos pensamentos. Censurou a casa que Minerva edificou, porque a não podia mudar de um lugar para outro.
Segundo a História da Arte: Ator que representava nas farsas populares do antigo teatro. Originário dos bobos encarregados de divertir os amos e senhores portugueses que habitavam os paços reais e as residências nobres com mímicas e farsas populares.

ARLEQUIM: Personagem da antiga comédia italiana (commedia dell'arte) de traje multicor, feito em geral de losangos, que tinha a função de divertir o público, nos intervalos, com chistes e bufonadas, foi posteriormente incorporado como um dos personagens nas peripécias das comédias, transformando-se numa de suas mais importantes personagens. Amante da Colombina. Farsante, truão, fanfarrão, brigão, amante, cínico.

COLOMBINA: Principal personagem feminina da commedia dell'arte (comédia de arte), amante do Arlequim e companheira do Pierrô. Namoradeira, alegre, fútil, bela, esperta, sedutora e volúvel. Vestia-se de seda ou cetim branco, saia curta e usava um bonezinho.

PIERRÔ: Personagem também originário da commédia dell'arte, ingênuo e sentimental. Usava como indumentária calça e casaco muito amplos, ornada com pompons e de grande gola franzida.

Gigliola Martins de Sena

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Como fazer uma leitura orante da Bíblia?

A utilização da Escritura para oração remonta os tempos das primeiras comunidades cristãs, que se reuniam em assembleia para ler, escutar, meditar e interpretar os textos à luz da morte e ressurreição de Jesus, ansiando também a compreensão desse evento e sua incidência nas próprias vidas.

Deus também deseja que você tenha a experiência que os primeiros cristãos tiveram e transmitiram. Jesus Cristo não é um simples personagem do passado, mas é alguém que vive hoje no nosso meio, ressuscitado e ressuscitante, que, como diz Ap 3,20, está a porta batendo para entrar e permanecer em comunhão como você. Se você aceita, sua vida será diferente, não se contentará em conhecer Deus só de ouvir falar, mas o experimentará pessoalmente (cf. Jó 42,5).

Primeiramente, crie condições para que esse encontro com Deus aconteça e seja bem proveitoso. Escolha um bom lugar, reservado, silencioso e tranquilo; poste-se de maneira a se mexer o mínimo possível; determine no seu dia um tempo (inicialmente, pelo menos 30 minutos) para encontra-se com Deus que te fala na Escritura. Com a Bíblia em mãos e essa predisposição para a oração, deve-se iniciar.

A leitura é o ponto de partida. Como se trata de um momento de oração, a leitura deve ser mais atenta, se quiser, em voz audível para ajudar a compreensão do trecho escolhido. Preocupe-se em perceber a mensagem do texto, verificando os personagens, os gestos e sentimentos que cada um transmite, o cenário do enredo, o porquê de cada expressão dos personagens, os possíveis paralelos com outros textos bíblicos e qual a mensagem do autor. Esse primeiro momento é para captar o que o texto diz.

Segue-se a meditação, momento no qual se confronta o texto sagrado com a sua vida. Se a Bíblia diz algo, é a alguém que ela o diz, esse alguém é você, que é um ouvinte da Palavra nesse momento. Então, acolha o que o texto provoca, destaque uma frase, ou versículo, ou gesto de algum personagem que mais toca seu íntimo, permita que a voz de Deus ressoe forte e repetidamente em ti. Deus fala a sua vida e isso deve ser percebido por você.

Quem fala, espera uma resposta e a oração é como respondemos ao que Deus inicia a relação. Ouvindo e sentido a voz de Deus, reagimos orando, dirigindo-se a Ele, guiados e interpelados por Ele. Não se trata de rezar uma fórmula comumente recitada (Pai-Nosso, Ave-Maria etc), mas de se expressar espontaneamente, conforme o Espírito Santo inspirar: agradecimento, súplica, pedido de perdão entre outros. Importante é que essa oração seja sincera e expresse a sua intimidade mais profunda, sem receios de Deus, pois Ele é amor.

Consequente à oração surge a experiência de contemplação. É um momento, no qual cessam as palavras e se sente, de maneira profunda, essa pessoa que lhe falou e a quem você correspondeu. Nossa atitude é de docilidade ao que Deus deseja realizar, fazendo em nós sua morada (cf. Jo 14,23).

Uma dificuldade que comumente aparece é a de silenciar. Estamos em constantes agitações e sem tempo para encontrar-se consigo mesmo, logo, um instante desses, percebemos o mar tempestuoso da nossa interioridade. O mais aconselhável é enfrentar nossas perturbações e tranquilizar-nos no Espírito Santo, conforme o Salmo 131, 2: “como uma criança desmamada no colo de sua mãe”.

Contemplação é uma passividade a Deus que age em nós, mas que também nos impulsiona a agir. Muitos têm uma incompreensão da contemplação como algo alienante e paralisante, entretanto, a autêntica contemplação cristã é verificável na práxis cristã, isto é, no amor e serviço aos irmãos a exemplo de Cristo que nos amou até o fim. A contemplação deve ser vivida cotidianamente e a vida cotidiana contemplada frequentemente como interação entre oração e vida.

O seguimento de Cristo só é possível a partir de uma experiência autêntica com amor de Deus, dessa forma, o serviço pastoral se torna uma derivação do encontro pessoal com Deus que atingimos nessa leitura orante da Bíblia. Que nossa vida seja como a Escritura, na qual se encontra a Deus vivo e verdadeiro.

Por Ir. Pe. Marcus Mariano, NJ
  (Graduado em Filosofia pela UECE e em Teologia pela FAJE, onde também cursou mestrado  em Teologia Bíblica. É recém-ordenado sacerdote do Instituto Religioso Nova Jerusalém, onde também exerce a função de mestre de noviços)

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Big Bang está em sintonia com história da criação, diz astrônomo

Foi apresentando no Vaticano na manhã desta sexta-feira, 3 de fevereiro, a mostra "Historia do outro mundo.
O universo dentro e fora de nós", o diretor do Observatório Astronômico do Vaticano, o argentino jesuíta padre José Gabriel Funes, explicou que a teoria do Big Bang não está em pé de guerra com a fé.
Padre Funes assinalou que desde o ponto de vista eclesiástico "o Big Bang não está em contradição com a fé".
"Sabemos que Deus é criador, é um pai bom que tem um plano providencial para nós, que nós somos seus filhos, e que tudo o que possamos aprender racionalmente sobre a origem do universo não está em contradição com a mensagem religiosa da Bíblia", indicou.
A teoria do Big Bang, também conhecida como a grande explosão, é a "melhor teoria que temos neste momento da criação do universo", disse.
De forma muito resumida, esta teoria, explica que provavelmente, a criação começou faz 14 milhões de anos com uma explosão colossal na que foram criados o espaço, o tempo, a energia e a matéria, assim, é como nasceram as galáxias, as estrelas e os planetas, os quais se encontram em contínua expansão.
O padre Funes afirmou, que como astrônomo e católico compartilha esta justificação da criação do universo, apesar de que "há algumas perguntas sem resposta".
Além disso, o astrônomo explicou que os católicos "devem ver o cosmos como um dom de Deus", e "admirar a beleza que há no universo".
"Essa beleza que vemos leva de algum modo à beleza do criador. E também graças a que Deus nos dotou que inteligência, de razão, podemos encontrar o logos, essa explicação racional que há no universo que nos permite fazer ciência também. Fala-nos também do logos criador de Deus".
O sacerdote indicou, que embora não há prova alguma de vida inteligente no universo à parte da nossa, "não a podemos descartar", porque estudos de astronomia mostram que existem ao redor de 700 planetas que giram ao redor de outras estrelas.
"Se no futuro, que me parece uma coisa bastante difícil, pudesse estabelecer-se que existe vida, e vida inteligente, não acredito que isto contradiga que mensagem religiosa da criação porque seriam também criaturas de Deus", acrescentou.
O interesse oficial da Igreja pela astronomia se remonta ao século XVI e em 1891, o Papa Leão XIII decidiu criar oficialmente um Observatório Vaticano para mostrar que a Igreja não está contra o desenvolvimento científico, mas sim promove o desenvolvimento da ciência de qualidade.
Ademais, existe o Observatório Vaticano, com sede em Castel Gandolfo, enquanto que o telescópio que se usa para a investigação, situa-se em Tucson, Estados Unidos.
O padre Funes explicou que exporá a mostra de 10 de março a 1 de julho em Pisa, por ser a cidade em que nasceu Galileo Galilei – pai da astronomia moderna –, e onde o astrônomo propulsor do Observatório Vaticano, Cardeal Pietro Maffi, desenvolveu seu ministério.
A exposição consiste em um percurso no tempo através de imagens, instrumentos de investigação, assim como minerais reais de Lua e Marte que conduzem o espectador a uma fascinante viagem desde a criação do universo e da matéria, até nosso mundo interior e os átomos que nos conformam.
O Papa Bento XVI visitou no ano 2009 o Observatório Vaticano, situado na localidade de Castel Gandolfo. Naquela ocasião, sustentou em suas mãos um dos tesouros do observatório, um meteorito vindo de Marte.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

O HOMO OTARIUS

Como filhos do Ocidente no séc. XXI, não mais herdeiros saudosistas de um tonto racionalismo que nos levou à duas grandes guerras mundiais, menos ainda dispostos a zombar de uma ciência que quis ilusoriamente exterminar a doença e a fome no mundo, mas descendentes da máscara do terror disseminado pelos EUA, pós-11 de setembro de 2001, de onde partiu para o mundo todo imagens fortíssimas de desabamento de uma das mais poderosas potências econômicas da terra, mostrando a nossa real fragilidade, estamos sendo agora tentados a perpetuar a espécie em vários campos da atividade humana. Na ciência ou na política, na ecologia ou na religião, nas artes ou na culinária, na filosofia ou no mundo do trabalho, o discurso é o mesmo: “Que mundo queremos deixar para os nossos filhos?” Isso gera conformismo, passividade política e, ao mesmo tempo, subestima outros povos ao risco, uma vez que odiamos o risco. Queremos controlar a vida, não mais arriscá-la!

A notícia de que assumimos a colocação de 6ª economia mundial nos deixou meio tontos, senão bestas. O tão almejado sonho de viver uma realidade econômica semelhante ao dos países mais desenvolvidos sempre foi uma marca presa ao imaginário cultural coletivo de nosso povo. A cultura do conforto e da pasmaceira ideológica de que está tudo bem, três refeições ao dia, salário no final do mês, estabilidade econômica, casa própria, emprego e renda sendo criados, dinheiro no bolso 24 horas, “nunca antes na história desse país”, enfim, toda essa zona de conforto e “calmaria” apenas nos afoga numa dimensão de “sobrevivencialismo” , cuja ideia importo aqui da filosofia de Zizek:

“(...) Parece que a divisão entre o Primeiro Mundo e o Terceiro está mais na oposição entre viver uma vida longa e satisfatória cheia de riqueza material e cultural e viver uma vida dedicada a uma Causa transcendente(...). Duas referências filosóficas se apresentam imediatamente a propósito do antagonismo ideológico entre o modo de vida consumista do Ocidente e o radicalismo muçulmano: Hegel e Nietzsche. Não seria esse antagonismo o que existe entre o niilismo 'passivo' e o 'ativo' de Nietzsche? Nós, no Ocidente, somos os Últimos Homens de Nietzsche, imersos na estupidez dos prazeres diários, ao passo que os radicais muçulmanos engajados na luta estão prontos a arriscar tudo, até a autodestruição(...)”(S. Zizek, Bem-vindo ao Deserto do Real, São Paulo, Boitempo, 2003, p. 57).

Segundo Zizek, paira sobre nós uma distorcida ideologia de que o bom mesmo é prolongar a vida, conservá-la ao máximo e purificá-la. Esse falso clima de sustentabilidade econômica e tudo mais é gritante em nossos dias. As pessoas estão estagnadas no conforto e na burocracia. A fajuta ideia de zona de conforto econômico pelo estado brasileiro está produzindo pessoas não só sedentárias, cômodas e preguiçosas, mas indivíduos bestas que renunciaram sua subjetividade em função de um estado de coisas prontas, dotadas do espírito do capitalismo, cheias de fantasias, insensíveis ao que há em volta, amargas com a realidade, seduzidas pelo virtual. É tão patente essa mentalidade que o próprio Zizek expressou-se assim sobre a importância que damos ao virtual:

“Hoje encontramos no mercado uma série de produtos desprovidos de suas propriedades malignas: café sem cafeína, creme de leite sem gordura, cerveja sem álcool, sexo sem sexo, guerra sem guerra, a realidade virtual é sentida como a realidade sem o ser. Mas o que acontece no final desse processo de virtualização é que começamos a sentir a própria 'realidade real' como uma entidade virtual” (idem, p. 24-25).

É o que está acontecendo conosco no Brasil. Vivemos uma certa satisfação econômica sem saber até quando e qual a real implicação que tem tudo isso para a totalidade da população e não apenas para uma parte.

O mais engraçado disso é que achamos que conquistamos algo. Não conquistamos nada ainda, basta olharmos o nosso mais recente IDH, a infraestrutura de nossos municípios, as estradas, a educação que não avança, os serviços públicos à saúde que sucumbem diariamente, altos gastos em campanhas eleitoreiras para políticos corruptos e analfabetos, pousando de letrados. Além de acharmos que somos a 6ª, porém falsa economia mundial, ainda criamos o engodo de que vivemos o melhor dos mundos possíveis. Não temos vida boa coisa nenhuma. Estamos sendo enganados o tempo todo por discursos políticos desgastados e por índices de pesquisa que não sabemos se correspondem aos fatos.

Somos esses homens prenunciados por Nietzsche, o “homo otarius”, que não sabe realmente a vida que tem, a vida que leva, a vida sem vida talvez. Vejamos o que diz Slavoj Zizek ao retomar a pergunta paulina, “Quem está realmente vivo hoje?”:

“E não se percebe claramente a mesma reversão no impasse dos Últimos Homens, indivíduos pós-modernos que rejeitam como terroristas todos os objetivos mais altos e dedicam a própria vida a sobreviver, a uma vida cheia de prazeres menores cada vez mais refinados e artificialmente excitados?(...) O que torna a vida digna de ser vivida é o próprio excesso de vida: a consciência da existência de algo pelo que alguém se dispõe a arriscar a vida(podemos chamar esse excesso de liberdade, honra, dignidade, autonomia, etc.). Somente quando prontos a assumir esse risco estamos realmente vivos” (idem, p. 108-109).

Deixamos o risco de vida pra lá e optamos por essa pasmaceira econômica que camufla a vida até a raiz da sua realidade, de tal modo que está anestesiando as nossas condições subjetivas de fazer a clínica, a análise da existência com toda sua carga de dramaticidade, transformando-nos em “homo otarius”.


Prof. Jackislandy Meira de M. Silva
Especialista em Metafísica, Licenciado em Filosofia, Bacharel em Teologia