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segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Como fazer uma leitura orante da Bíblia?

A utilização da Escritura para oração remonta os tempos das primeiras comunidades cristãs, que se reuniam em assembleia para ler, escutar, meditar e interpretar os textos à luz da morte e ressurreição de Jesus, ansiando também a compreensão desse evento e sua incidência nas próprias vidas.

Deus também deseja que você tenha a experiência que os primeiros cristãos tiveram e transmitiram. Jesus Cristo não é um simples personagem do passado, mas é alguém que vive hoje no nosso meio, ressuscitado e ressuscitante, que, como diz Ap 3,20, está a porta batendo para entrar e permanecer em comunhão como você. Se você aceita, sua vida será diferente, não se contentará em conhecer Deus só de ouvir falar, mas o experimentará pessoalmente (cf. Jó 42,5).

Primeiramente, crie condições para que esse encontro com Deus aconteça e seja bem proveitoso. Escolha um bom lugar, reservado, silencioso e tranquilo; poste-se de maneira a se mexer o mínimo possível; determine no seu dia um tempo (inicialmente, pelo menos 30 minutos) para encontra-se com Deus que te fala na Escritura. Com a Bíblia em mãos e essa predisposição para a oração, deve-se iniciar.

A leitura é o ponto de partida. Como se trata de um momento de oração, a leitura deve ser mais atenta, se quiser, em voz audível para ajudar a compreensão do trecho escolhido. Preocupe-se em perceber a mensagem do texto, verificando os personagens, os gestos e sentimentos que cada um transmite, o cenário do enredo, o porquê de cada expressão dos personagens, os possíveis paralelos com outros textos bíblicos e qual a mensagem do autor. Esse primeiro momento é para captar o que o texto diz.

Segue-se a meditação, momento no qual se confronta o texto sagrado com a sua vida. Se a Bíblia diz algo, é a alguém que ela o diz, esse alguém é você, que é um ouvinte da Palavra nesse momento. Então, acolha o que o texto provoca, destaque uma frase, ou versículo, ou gesto de algum personagem que mais toca seu íntimo, permita que a voz de Deus ressoe forte e repetidamente em ti. Deus fala a sua vida e isso deve ser percebido por você.

Quem fala, espera uma resposta e a oração é como respondemos ao que Deus inicia a relação. Ouvindo e sentido a voz de Deus, reagimos orando, dirigindo-se a Ele, guiados e interpelados por Ele. Não se trata de rezar uma fórmula comumente recitada (Pai-Nosso, Ave-Maria etc), mas de se expressar espontaneamente, conforme o Espírito Santo inspirar: agradecimento, súplica, pedido de perdão entre outros. Importante é que essa oração seja sincera e expresse a sua intimidade mais profunda, sem receios de Deus, pois Ele é amor.

Consequente à oração surge a experiência de contemplação. É um momento, no qual cessam as palavras e se sente, de maneira profunda, essa pessoa que lhe falou e a quem você correspondeu. Nossa atitude é de docilidade ao que Deus deseja realizar, fazendo em nós sua morada (cf. Jo 14,23).

Uma dificuldade que comumente aparece é a de silenciar. Estamos em constantes agitações e sem tempo para encontrar-se consigo mesmo, logo, um instante desses, percebemos o mar tempestuoso da nossa interioridade. O mais aconselhável é enfrentar nossas perturbações e tranquilizar-nos no Espírito Santo, conforme o Salmo 131, 2: “como uma criança desmamada no colo de sua mãe”.

Contemplação é uma passividade a Deus que age em nós, mas que também nos impulsiona a agir. Muitos têm uma incompreensão da contemplação como algo alienante e paralisante, entretanto, a autêntica contemplação cristã é verificável na práxis cristã, isto é, no amor e serviço aos irmãos a exemplo de Cristo que nos amou até o fim. A contemplação deve ser vivida cotidianamente e a vida cotidiana contemplada frequentemente como interação entre oração e vida.

O seguimento de Cristo só é possível a partir de uma experiência autêntica com amor de Deus, dessa forma, o serviço pastoral se torna uma derivação do encontro pessoal com Deus que atingimos nessa leitura orante da Bíblia. Que nossa vida seja como a Escritura, na qual se encontra a Deus vivo e verdadeiro.

Por Ir. Pe. Marcus Mariano, NJ
  (Graduado em Filosofia pela UECE e em Teologia pela FAJE, onde também cursou mestrado  em Teologia Bíblica. É recém-ordenado sacerdote do Instituto Religioso Nova Jerusalém, onde também exerce a função de mestre de noviços)

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