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terça-feira, 26 de março de 2013

PERMANECEI AQUI E VIGIAI COMIGO


“Disse-lhes, então: ‘Minha alma está triste até a morte. Permanecei aqui e vigiai comigo’” (Mt 26,38)

Na iminência de sofrer tudo o que haveria de sofrer, Jesus foi a um lugar chamado “Getsêmani” (que quer dizer “lagar do azeite”), situado ao pé do Monte das Oliveiras. Acompanhado dos seus discípulos, ele solicitou destes que se sentassem um pouco, enquanto se afastaria para orar. Entretanto, levou consigo Pedro, Tiago e João (cf. Mt 26, 36-37).

Ali, com seus amigos mais próximos, Jesus parece ter encontrado ambiente para manifestar sentimentos de tristeza e de angústia. Com pavor diante da morte e experimentando o desejo natural de escapar dela, ele requisitou a “vigília”, ou seja, a atenção daqueles que ao longo de aproximadamente três anos havia compartilhado de sua intimidade. Menos ainda: Jesus solicitou a simples presença deles. “Permanecei aqui”, disse, certamente, em tom de quem precisa, com humildade e expectativa de ser atendido.

Os amigos de Jesus não podiam fazer muita coisa. Não podiam evitar que ele fosse preso, torturado e morto. Porém, eles podiam ficar ali, com ele, vigiando. Um pouco de esforço e teriam vencido o sono, conferindo uma presença capaz de atenuar as emoções confusas de quem estava preste a viver uma situação difícil. Com essa requisição, Jesus não estava eximindo-se de suas dores nem de sua obrigação que, sabia, precisava enfrentar sozinho. Ele apenas queria “uma hora” de companhia (cf. Mt 26, 40b).

            Não é muito o que Deus nos pede nesta Semana Santa. Também não somos capazes de alterar a situação de indiferença frente aos mistérios da Paixão de Nosso Senhor, coisa cada vez mais vista em nossos dias e que se exprime nos atos de quem faz pouco caso desses dias sagrados. Mas podemos ficar com Jesus, dar-lhe nossa companhia. Por uma hora que seja. O nosso amor fará uma grande diferença (em contraste com a indiferença).

            Nesse momento, a presença é a principal forma de oração. Até porque, a quem e por quem pediremos? A Deus, por Jesus? Isso não parece razoável. Outrossim, de nada adiantarão nossas reclamações e críticas aos que vivem mal. Importa, antes, que sejamos amigos de verdade. E se queremos pedir algo, que o peçamos à Cruz: que ela abrande as fibras mais duras e minore os sofrimentos do Rei, até que Ele triunfe.

RONALDO JOSÉ DE SOUSA
(Doutor em sociologia e Co-fundador da Comunidade Remidos no Senhor)

quinta-feira, 14 de março de 2013

O PAPA DO “FIM DO MUNDO”


Annuntio vobis gaudium magnum: Habemus Papam

Parece que, de uma hora pra outra todo o mundo (todo mesmo, sem exagero!) passou a entender e se interessar por liturgia, por aprender um pouco de latim, de direito canônico, de cristianismo, de catolicismo. É o poder e dom da figura do Papa que traz com ele toda a beleza da Igreja Católica e do Cristianismo. A beleza do esposo e da esposa. Aquilo que profeticamente o Papa Emérito Bento XVI já nos dizia na Porta Fidei: é “a força e a beleza da fé” (N.º 4).

Pudemos perceber nestes dias que sucederam a renúncia do – agora – Papa Emérito Bento XVI – até o dia da eleição do novo Pontífice, o quanto a Igreja ainda atrai e encanta o mundo, pois mesmo aqueles não simpatizam com a esposa de Cristo se renderam, ainda que por curiosidade, à linda liturgia Romana no seu rito de eleição papal. A grande mídia do mundo inteiro voltou suas lentes e olhares para o Vaticano. Repórteres assumindo publicamente, ao vivo, a sua emoção por estar ali naquele lugar santo.

Sabemos e acompanhamos as liturgias e celebrações em preparação ao Conclave e, de igual modo, os repórteres e o mundo deixando-se encantar pela beleza que é a nossa liturgia e nossa Igreja, rica em sinais, gestos e espiritualidade. Imediatamente surgiu uma curiosidade por aprender os significados, os termos, os gestos, a tradição e, a mídia que por tantas vezes tem sido canal de perseguição da fé terminou por nos dar uma verdadeira catequese, mesmo que não-intencional.

Em poucos dias, os católicos que não sabiam o que o significado de decano, aprenderam que se trata daquele mais antigo do colégio dos cardeais; aprendeu-se que o protodiácono é o cardeal mais velho da ordem dos cardeais-diáconos e que traz a peito a missão de anunciar a nova eleição papal com a tão esperada frase: Habemus Papam, temos um Papa.

Foi interessante ver os noticiários convidando os sacerdotes para suas entrevistas nos telejornais e outros veículos de comunicação a fim de dar as devidas orientações daquilo que seguia em todo o rito do Conclave. O Evangelho penetrou nos milhões de lares em todo o mundo e os apóstolos de Cristo fizeram uma grande catequese a partir da grande mídia para as casas e a todos os homens de boa vontade (pois mesmo os não-católicos também acompanharam com muito interesse).

Estes apóstolos e pastores, como tais, foram formando o povo de Deus e descobrimos as diferenças entre os cardeais. O senso comum apenas sabia que para se tornar cardeal era necessário ser bispo. Mas outros meandros compõem esta hierarquia: compreendemos, então, que existe o Cardeal-bispo, que são aqueles tem por responsabilidade uma das sete dioceses suburbicárias em Roma; já os Cardeais-presbíteros são os cardeais que comandam as diversas dioceses e arquidioceses fora de Roma, pelo mundo afora, onde eles servem como pastores, mas quando estão em Roma possuem uma titularidade em uma das igrejas na diocese de Roma. Por exemplo, o então Cardeal Jorge Mario Bergoglio, o Papa Francisco, antes do pontificado detinha a titularidade da igreja S. Roberto Bellarmino; por fim, os Cardeais-diáconos são os prelados que auxiliam o Papa de perto, geralmente assumindo os dicastérios romanos, como os Conselhos Pontifícios.

Por outro lado, não poderia deixar de dizer também sobre a enorme onda de especulação feita pela mesma grande mídia. Em alguns países houve até quem ganhasse dinheiro fazendo “bolão” de apostas. Aprendemos, ainda, que momentos assim não são para especulação, mas para oração. E isso nos ensinou o Santo Padre ao pedir que seus fieis orassem por ele. Num gesto de extrema humildade, quebrando todos os protocolos, aquele que, a rigor, deveria nos abençoar pede que nós o façamos por ele, pela sua missão e ministério. Somente após e então, ele, “confirmado pelos irmãos” (Cf. Lc 22,32), Lança a todo o mundo a bênção Urbi et Orbi, um outro termo que também aprendemos nas catequeses televisionadas por tantos e tantos sacerdotes convidados pelos mais diversos programas.

Por falar em especulações você pode estar se questionando sobre o título deste artigo e o porquê de até agora não ter tocado no assunto. A verdade é que sempre e a cada novo pontificado muitos “especuladores” e “teóricos da conspiração” procuram enxergar nestas mudanças o anticristo e o fim do mundo, alguns se valem das tais “Profecias de São Malaquias” para justificarem suas teses. Gostaria de dizer que estes “conspiracionistas” cometeram um erro grave de interpretação e, a mídia, uma gafe no que toca à verdade dos fatos.

O “fim do mundo” pregado por tantos somente agora podemos ter compreensão do que se tratava: da terra de onde veio o nosso, já, querido Santo Padre, a Argentina. Por se tratar da terra mais austral do globo ela recebeu este apelido, ou seja, ela está mais ao sul, diria, na “extremidade” do globo. Disse-nos o Papa:

Vós sabeis que o dever do Conclave era dar um Bispo a Roma. Parece que os meus irmãos Cardeais tenham ido buscá-lo quase ao fim do mundo”.

Apenas isso. Sem apocalipse, sem alarde, sem fogo nem enxofre, mas um verdadeiro Evangelho, uma Boa-Nova foi anunciada com e pelo Papa Francisco. E “bendito seja aquele que vem em nome do Senhor” (Sl 117,26; Mt 21,9. 23,39; Mc 11,9; Lc 13,35. 19,38; Jo 12,13). A propósito, seu nome será tão somente Papa Francisco. Não tem o “primeiro”, exceto quando, no futuro algum outro Pontífice queira ser chamado também por Francisco, então este se tornaria Francisco II, ao que o atual Santo Padre passaria a ser chamado Francisco I. Portanto, apenas Francisco. Simples como é a pessoa que carrega o nome. Sem báculo, sem ouro, sem carro oficial, apenas um Francisco entre tantos Franciscos (que orgulhosamente também o sou).

No entanto, não há como fazer comparações entre ele e os antecessores, não é melhor nem pior, apenas cada um tem seu carisma que lhe é próprio. Podemos dizer que o Papa João Paulo II era o homem dos grandes gestos, carismático; Já o Papa Bento XVI pode ser caracterizado como o homem de grande intelecto; Papa Francisco, a contar pelo seu primeiro dia, começa a ser marcado como o homem de grande afeto. Cada um a seu modo conquistou e serviu o povo de Deus. Cada um a seu modo, grande. Cada um com seu carisma conduziu a barca de Pedro, a Igreja, rumo à vontade de Deus e não será diferente agora, porque a barca é do Senhor!

De fato, Deus nos ama tanto que vai até aos confins do mundo resgatar seu povo. Vejo como um grande símbolo de seu pontificado esta afirmação, que sem intenção, termina por indicar a urgência da Nova Evangelização e nós, leigos, devemos tomá-la por nossa responsabilidade. Um Papa do Novo Mundo para evangelizar o Velho Mundo. Um Papa da Nova Evangelização, em tempos de urgente evangelização.


Irmãos e irmãs, tenho de vos deixar. Muito obrigado pelo acolhimento! Rezai por mim e até breve! Ver-nos-emos em breve (...). Boa noite e bom descanso!”.
(Papa Francisco).



Por
Francisco Elvis Rodrigues Oliveira
(Ministério de Pregação – RCC/CE)
elvisroliveira@hotmail.com