“Disse-lhes,
então: ‘Minha alma está triste até a morte. Permanecei aqui e vigiai comigo’”
(Mt 26,38)
Na iminência de sofrer tudo o que haveria de sofrer,
Jesus foi a um lugar chamado “Getsêmani” (que quer dizer “lagar do azeite”),
situado ao pé do Monte das Oliveiras. Acompanhado dos seus discípulos, ele solicitou destes que se sentassem um pouco, enquanto
se afastaria para orar. Entretanto, levou consigo Pedro, Tiago e João (cf. Mt
26, 36-37).
Ali, com seus
amigos mais próximos, Jesus parece ter encontrado ambiente para manifestar
sentimentos de tristeza e de angústia. Com pavor diante da morte e experimentando
o desejo natural de escapar dela, ele requisitou a “vigília”, ou seja, a
atenção daqueles que ao longo de aproximadamente três anos havia compartilhado
de sua intimidade. Menos ainda: Jesus solicitou a simples presença deles.
“Permanecei aqui”, disse, certamente, em tom de quem precisa, com humildade e
expectativa de ser atendido.
Os amigos de Jesus não podiam fazer muita coisa. Não
podiam evitar que ele fosse preso, torturado e morto. Porém, eles podiam ficar ali, com ele, vigiando. Um pouco de esforço e teriam vencido o sono,
conferindo uma presença capaz de atenuar as emoções confusas de quem estava
preste a viver uma situação difícil. Com essa requisição, Jesus não estava
eximindo-se de suas dores nem de sua obrigação que, sabia, precisava enfrentar
sozinho. Ele apenas queria “uma hora” de companhia (cf. Mt 26, 40b).
Não é muito o que Deus
nos pede nesta Semana Santa. Também não somos capazes de alterar a situação de
indiferença frente aos mistérios da Paixão de Nosso Senhor, coisa cada vez mais
vista em nossos dias e que se exprime nos atos de quem faz pouco caso desses
dias sagrados. Mas podemos ficar com Jesus, dar-lhe nossa companhia. Por uma
hora que seja. O nosso amor fará uma grande diferença (em contraste com a indiferença).
Nesse momento, a presença é a principal forma de
oração. Até porque, a quem e por quem pediremos? A Deus, por Jesus? Isso não
parece razoável. Outrossim, de nada adiantarão nossas reclamações e críticas
aos que vivem mal. Importa, antes, que
sejamos amigos de verdade. E se queremos pedir algo, que o peçamos à Cruz:
que ela abrande as fibras mais duras e minore os sofrimentos do Rei, até que
Ele triunfe.
RONALDO JOSÉ DE SOUSA
(Doutor em sociologia e Co-fundador da Comunidade
Remidos no Senhor)
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