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terça-feira, 20 de novembro de 2012

SANDY ATRAPALHA ENCONTRO AMOROSO DE MURILO BENÍCIO


Por Ronaldo José de Sousa*


O furacão Sandy foi mais um fenômeno natural que deixou várias pessoas mortas e outras feridas, além de estragos sem conta. Aliás, esse tipo de catástrofe tem acontecido com frequência, fato que, por si só, já questiona a capacidade humana de colocar o desenvolvimento tecnológico, realmente, a serviço do próprio homem. Será possível que o aparato científico que pretende alcançar a imortalidade não esteja em condições de pelo menos prever com mais antecedência uma ocorrência como essa?
Entretanto, o que mais me incomoda não é isso e sim o modo como alguns encaram esse tipo de acontecimento. Fiquei estupefato quando vi, numa rede nacional de televisão, uma manchete em que se destacava que o ciclone tropical havia impedido o encontro amoroso entre os atores globais Murilo Benício e Débora Falabella, que aconteceria em Nova Iorque.
Meu Deus! Ocorreu um desastre que deixou mais de cem mortos! Muitas pessoas perderam casas, móveis e outros bens. Árvores foram arrancadas pelo vento, ruas ficaram alagadas, estradas e pontes foram destruídas. Em Cuba, cerca de 180 mil edificações desmoronaram e mais de 1.000 km² de terras agrícolas foram afetadas. Diversas famílias precisam de abrigo, água e alimento. O transporte público parou de funcionar em muitos lugares. Com a falta de eletricidade, muita gente sofre com o frio. Isso tudo acontecendo e tem gente preocupada com o encontro desses atores!
Na mesma linha, a modelo Nana Gouvêa, conforme foi noticiado em vários sites e em revistas de grande circulação, andou fazendo poses fotográficas entre os destroços deixados pelo furacão, atitude que demonstra nítida indiferença em relação ao sofrimento das vítimas, pois ignora o que aquelas cenas significam para estas mesmas vítimas e privilegiam o culto à beleza.
Fico pensando aonde vamos chegar! Alguns veículos midiáticos agem como se não houvesse nada mais importante do que os romances, os ajustes e desajustes, a beleza e o sucesso dessas celebridades. Não basta que esses meios igualem os acontecimentos, fazendo parecer, por exemplo, que a queda de um grande time para a segunda divisão do campeonato brasileiro é tão grave quanto um desastre ecológico? Agora, não se importam de desviar a atenção das pessoas para suas futilidades em detrimento do que realmente está em questão?
A vida humana é sagrada. Ela ocupa um lugar privilegiado na pregação de Jesus que, ao apresentar o núcleo central de sua missão redentora, disse: “Eu vim para que todos tenham vida, e a tenham em abundância” (Jo 10,10). Conquanto ela só alcance plena realização na eternidade, desde já é condição basilar, momento inicial e parte integrante do processo global e unitário da existência. Hoje, este anúncio a respeito da sacralidade da vida torna-se particularmente urgente, dado a maneira impressionante como novas mentalidades ameaçam a integridade ética dos povos.
A vida – e os acontecimentos que a afetam – deve ser considerada com sentido de responsabilidade. A boniteza de alguém ou o namoro de outrem não podem a ela se sobrepor, sob pena de torná-los, tais acontecimentos (mesmo os trágicos, com pessoas comuns), banais e menos importantes do que os momentos triviais dos famosos.
Não há nada de romântico no sofrimento alheio. Peço a Deus que essa mentalidade não se espalhe ainda mais. Uma insensibilidade exacerbada poderia ser muito nefasta para todos nós. Até mesmo para os belos e para os namorados!


* Doutor em sociologia e co-fundador da Comunidade Católica Remidos No Senhor.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

É PELO NOME DE JESUS QUE SEREIS SALVOS

Por Ronaldo José de Sousa[1]

“Chegaram do outro lado do mar, à região dos gerasenos. Logo que Jesus desceu do barco, caminhou ao seu encontro, vindo dos túmulos, um homem possuído por um espírito impuro: habitava no meio das tumbas e ninguém podia dominá-lo, nem mesmo com correntes. Muitas vezes já o haviam prendido com grilhões e algemas, mas ele arrebentava os grilhões e estraçalhava as correntes, e ninguém conseguia subjugá-lo. E, sem descanso, noite e dia, perambulava pelas tumbas e pelas montanhas, dando gritos e ferindo-se com pedra. Ao ver Jesus, de longe, correu e prostrou-se diante dEle, clamando em alta voz: ‘Que queres de mim, Jesus, Filho de Deus altíssimo? Conjuro-te por Deus que não me atormentes!’. Com efeito, Jesus lhe disse: ‘Sai deste homem, espírito impuro!’. E perguntando-lhe: ‘Qual é o teu nome?’. Respondeu: ‘Legião é o meu nome, porque, somos muitos’. E rogava-lhe insistentemente que não os mandasse para fora daquela região. Ora, havia ali, pastando na montanha, uma grande manada de porcos. Rogava-lhe, então, dizendo: ‘Manda-nos para os porcos, para que entremos neles’. Ele o permitiu. E os espíritos impuros saíram, entraram nos porcos e a manada — cerca de dois mil — se arrojou no mar, precipício abaixo, e eles se afogaram no mar. Os que os apascentavam fugiram e contaram o fato na cidade e nos campos. E correram a ver o que havia acontecido.   Foram até Jesus e viram o endemoninhado sentado, vestido e em são juízo, aquele mesmo que tivera a Legião. E ficaram com medo. As testemunhas contaram-lhes o que acontecera com o endemoninhado e o que houve com os porcos. Começaram então a rogar-lhe que se afastasse do seu território. Quando entrou no barco, aquele que fora endemoninhado rogou-lhe que o deixasse ficar com Ele. Ele não deixou, e disse-lhe: ‘Vai para a tua casa e para os teus e anuncia-lhes tudo o que fez por ti o Senhor na sua misericórdia’. Então partiu e começou a proclamar na Decápole o quanto Jesus fizera por ele. E todos ficaram espantados”.
(Mc 5, 1-20)

Narrado por três evangelistas, esse episódio foi contado por Marcos com mais vivacidade e maior número de detalhes. Nele, vê-se Jesus acompanhado pelos discípulos cumprindo a sua missão de anunciar o Reino de Deus. Ao atravessarem o Mar da Galiléia, eles encontraram um homem possuído por um demônio a respeito do qual o evangelho dá algumas características. A primeira delas é que se chamava “Legião”.
            Curioso que a expressão utilizada seja “Legião é o meu nome”, tornando difícil compreender quantos demônios realmente possuía o corpo daquele rapaz.  Seria apenas um, mas com poder equivalente ao de seis mil?[2] Ou, quem sabe, dois mil[3] demônios controlados por um mais poderoso? Talvez vários espíritos maus unidos com uma única finalidade. Não se sabe ao certo. O fato é que quem estava ali era tão forte que ninguém conseguia expulsar.
            Marcos oferece outra característica, quiçá a mais importante: tratava-se de um espírito impuro. Os demônios progridem em vícios. De certo modo, eles se especializam. Este era especialista em impurezas, pois vivia em território pagão, habitava o cemitério e, quando percebeu que não poderia resistir à conjuração de Jesus, pediu para entrar em porcos (essas coisas são consideradas impuras pela tradição judaica).
O que esse qualificativo significa? No judaísmo, quem praticava essas coisas não podia se aproximar de Deus. Portanto, esse tipo de demônio é especialista em induzir as pessoas a se afastarem de Deus mediante a prática de impurezas. Existem muitos deles atuando nos dias de hoje. Não há muitas possessões, porque Deus não permite. Mas muita gente cede à tentação, que é, na verdade, não uma força externa ao indivíduo, abstrata e horripilante, mas algo em forma de idéias que se confundem com os pensamentos e que, quando se transforma em convicções, torna-se dificílima de ser renunciada, dado à semelhança que tem com aquilo que a pessoa mesma concebe e que, portanto, não vê sentido em largar.
Os demônios impuros introduzem espécies inteligíveis nas mentes das pessoas, causando confusão de idéias a respeito de Deus e atraindo-as para o sincretismo ou a bricolagem religiosa, ou mesmo para a desordem artística e estética. Sintoma disso são as letras e coreografias sensuais dos “hits” musicais atuais e os estranhos gostos, especialmente da parte dos jovens, por roupas e acessórios que enleia a noção de beleza.
Mas esses espíritos atraem, sobretudo, para a luxúria.[4] A ênfase dos pregadores cristãos nos pecados relacionados à sexualidade, às vezes parece até uma implicância. Não duvido que alguns estejam presos a uma concepção excessivamente escrupulosa nessa matéria, mas o realce histórico não é sem razão. A sexualidade é uma dimensão que, se desestabilizada, causa grande desarmonia, porque constitutiva da identidade da pessoa. Os pecados de luxúria afetam o equilíbrio e a unicidade do ser humano, prejudicando principalmente a sua “capacidade de relacionamento”.
A sexualidade é uma espécie de “porta” mediante a qual os demônios tentam conduzir a pessoa a sucessivas faltas que, acumuladas, terminam por comprometer a sua ordem interior, uma vez que algo do seu núcleo identitário fundamental foi tumultuado, a saber: o ser de homem ou de mulher. São Paulo alerta em 1 Cor 6, 18: “Fugi da fornicação. Qualquer outro pecado que o homem cometa é fora do corpo; mas o impuro peca contra o seu próprio corpo”. Entenda-se: contra si mesmo, profundamente.
De fato, a experiência com o acompanhamento demonstra que é bem mais complicado, por assim dizer, consertar, na interioridade das pessoas, os problemas causados pelos pecados de luxúria. Isso ocorre pelo fato de que, nesses casos, a afetação nos dinamismos psíquicos é muito maior, dificultando a reordenação da “interioridade”. A sexualidade não se “localiza” na periferia da pessoa, como estaria, por exemplo, a sua consciência moral a respeito das virtudes da honestidade ou da bondade. Agindo agressivamente com alguém ou assumindo uma atitude desonesta, ao arrepender-se, o indivíduo se recomporá mais facilmente apenas pela compensação objetiva de seu erro.
Os pecados sexuais fragilizam a vontade de buscar sentido, pois assanham a vontade de prazer. Quanto mais praticar impurezas, mais o homem tenderá ao egoísmo, pois confundirá suas taras com “aquilo que é”. Não verá sentido em renunciá-las e, sem escrúpulo algum, preferirá satisfazer às suas inclinações obscenas a doar-se a si, ainda que seja para pessoas pelas quais sente afeto. Com efeito, uma pessoa desequilibrada sexualmente, mais facilmente age com agressividade para com um filho pequeno que lhe atrapalha uma relação sexual ou trata a esposa como se ela fosse um objeto de desejo. Esses atos, por sua vez, causam estragos igualmente grandes nos que são suas vítimas.
Portanto, não é por preconceito ou puritanismo que os pregadores sóbrios enfatizam o perigo das impurezas sexuais. Tampouco é por ignorância que alertam para a ação dos demônios nessa área. Incapaz de obrigar quem quer que seja a voltar-se contra Deus, o Diabo tenta fazer com que a pessoa mesma renuncie a sua identidade. Ora, o ser humano tem pelo menos dois elementos constitutivos da identidade: a filiação divina e a categoria sexual. Esses elementos foram dados por Deus e permanecem para a eternidade. Renunciar a identidade de filho é a maneira concreta de o homem dizer “não” a Deus, implicando isso num “não” a si próprio. É por isso que quem renuncia voluntariamente à sua identidade sexual, na verdade, deu um grande passo para a perda de si, porquanto abriu mão de uma parte fundamental de sua condição ontológica.
A consequência da impureza é a escravidão. Esse endemoninhado do evangelho é um protótipo. Note-se que o homem tem sua personalidade dividida, suas emoções estão confusas (ele grita e se fere) e seus relacionamentos estão comprometidos. Quantas pessoas estão assim hoje em dia! Não vivem, perambulam. Não têm descanso. Ferem-se si mesmas e às pessoas que ama. A impureza escraviza o homem, fazendo com que ele viva subjugado pelos desejos e paixões da carne.
Mas a boa notícia é que existe um redentor. A entrada de Jesus em território pagão demonstra que ele não se importa muito com a impureza “ritual” e sim com o estrago que o afastamento de Deus provoca. Por isso, Jesus rompe os limites entre o puro e o impuro, realizando, nesse episódio em Gadara, aquilo que Paulo iria explicar: “O que era impossível à lei, Deus o fez. Enviando, por causa do pecado, o seu próprio Filho numa carne semelhante à do pecado, condenou o pecado na carne” (Rm 8, 1-3 – grifo meu).
            A impureza deve ser vencida “na carne”. Alguns cristãos preferiam não ter corpo e fazem de tudo para eximir-se dele e de suas tendências. Ora, a redenção não poderia deixar de atingir uma dimensão tão importante da pessoa humana como a sexualidade. A encarnação do Verbo ofereceu a possibilidade de o ser humano ordenar seus impulsos, não negando seu corpo, mas integrando a esfera erótica ao seu centro de valores. Como Jesus fez. E a harmonia sexual terá consequências maravilhosas nas outras dimensões do indivíduo.
Assim como a tentação não é uma pressão abstrata fora da pessoa, muito menos a redenção é algo poético ou “em tese”. A salvação resultou numa força que atua poderosamente na pessoa e em seu favor, capacitando-a para a liberdade frente ao pecado, pois “ele nos perdoou todos os pecados, cancelando o documento escrito contra nós, cujas prescrições nos condenavam. Aboliu-o definitivamente, ao encravá-lo na cruz. Espoliou os principados e potestades, triunfando deles pela cruz” (Cl 2, 13b-15).
Com o exorcismo em Gadara, Jesus atestou que as pessoas não precisam esperar morrer para experimentar a sua libertação. A salvação é um evento de hoje. Existe um poder que foi dado “em nome de Jesus”. Aliás, da doença e do sofrimento outros podem livrar. Mas do pecado, somente Jesus pode libertar: “É ele a pedra rejeitada por vós, os construtores, mas que se tornou a pedra angular. Pois não há, debaixo do céu, outro nome dado aos homens pelo qual devamos ser salvos” (At 4, 11-12).
O “nome” de Jesus é a sua força, mas é, sobretudo, a sua identidade. Isso significa que, ao concentrar-se num projeto positivo de vida e santidade, o homem remido é capaz de emancipar-se da escravidão do pecado, uma vez que, configurando-se a Cristo, “seremos uma coisa só com ele, (...) sabendo que nosso velho homem foi crucificado com ele para que fosse destruído este corpo de pecado, e assim não sirvamos mais ao pecado” (Rm 6, 5-6 – grifo meu)
O homem salvo não pertence mais ao pecado, pois foi comprado pelo preço do sangue de Cristo. Ele pertence a Deus, portanto, não está submisso ao erro. O homem remido está em condições de se posicionar sempre que for tentado pelos espíritos impuros. A não ser que não tenha experimentado a salvação de modo pessoal. Seria como um herdeiro menor de idade, que não sabe os bens que possui. São Paulo diz que um homem assim em nada se distingue de um escravo, conquanto seja filho, pois embora dono, não tem a posse efetiva do que lhe pertence (cf. Gl 4, 1-2).
            Fiz esta constatação em minha vida: o poder da salvação é maior do que a força do pecado em mim. Por isso, os meus pecados, em última análise, resultam de atos de vontade, pois sinto que não sou obrigado a fazer o que não quero. Por causa disso, tenho para mim que a sensação psicológica que muitos sentem, de que as paixões da carne, especialmente aquelas relacionadas à dimensão erótica, são mais fortes no homem do que as suas convicções religiosas, isso é fruto de uma espécie de ilusão mental causada pelos demônios impuros. Eles conseguem assustar o crente, fazendo alarido e exibindo um poder que não têm.
Note-se o que aconteceu nesse episódio narrado por São Marcos. Quando avistou Jesus, o demônio impuro não correu com medo e sim pra cima dele. Não é curioso? E não só isso, mas o espírito quer expulsar Jesus antes que este o exorcize. A sua intenção fica evidente quando ele chama Jesus pelo nome, que é um modo, segundo os exorcismos antigos, de obter o domínio sobre o outro. O demônio chega a usar o nome de Deus, imitando a fórmula cristã. E argumenta: já somos condenados, por que não nos deixa agir enquanto não acontece o juízo?
É assim que os demônios tentam manter os homens cativos até o último minuto antes da consumação dos tempos: partindo pra cima deles e os assustando. É por isso que muitas pessoas têm a sensação que a sua inclinação ao pecado é maior do que a sua experiência de Deus.[5] Jesus simplesmente ignorou o alarido do demônio, e disse: “Sai deste homem, espírito impuro”. E com isso Ele demonstrou quem é que mandava. É o que deve fazer a pessoa remida em situações críticas nas quais se vê na iminência de pecar: ordenar em nome de Jesus que essa pretensa força seja desvelada. Ela verá que a pressão psicológica ao erro dissipar-se-á como fumaça.
É maravilhoso contemplar o resultado da redenção. Quando encontro, no evangelho, aquele homem “sentado, vestido e em são juízo; aquele mesmo que tivera a Legião”, sinto-me como se estivesse contemplando a mim mesmo após a experiência da salvação. O contraste é muito grande entre a situação anterior e a condição posterior do sujeito. Ele voltou à sua pureza original, como se tivesse recebido uma veste branca, tão alva que nenhuma lavadeira poderia deixá-la igual (cf. Mc 9, 3). Quanto às suas impurezas, ele as deixou para os porcos.
O desfecho desse episódio é ainda mais belo. O ex-endemoninhado quis acompanhar Jesus, mas este não deixou. Alguns comentadores consideram que Jesus negou-lhe o seguimento. Eu acho que não. Pois o seguimento a Jesus consiste em três momentos, descritos nas seguintes proposições: a) Vinde e vede (cf. Jo 1, 39), que é o convite para conhecer a pessoa de Jesus; b) Vem segue-me (cf. Mt 4, 19), que traduz o aprendizado que deve ser feito aos pés do Mestre; e c) Ide e evangelizai (cf. Mc 16, 15), o mandato de cumprir a missão de anunciar a salvação.
Aquele homem, de forma excepcionalmente rápida, já havia passado pelas duas primeiras etapas, pois teve um encontro pessoal com Jesus e, em seguida, sentou-se aos seus pés, ou seja, fez o seu discipulado. Este poderia ser de curta duração, pois ele haveria de pregar uma única coisa: “o que fez por ti o Senhor na sua misericórdia”. Por causa disso, estava em condições de ouvir do Senhor: “Vai, anuncia!”. Ele partiu e falou não somente aos seus, mas em dez cidades da região pagã. E continuou causando espanto nas pessoas, mas desta vez não pelas suas peripécias imundas e sim pela pureza que exalava de sua nova vida.


*Texto cedido com as devidas licenças pelo autor.


[1] Formador geral da Comunidade Remidos no Senhor.
[2] “Seis mil” era a quantidade de soldados de uma “legião” do exército romano.
[3] Número de porcos que se precipitou no mar.
[4] Chego a essa conclusão, a despeito do fato de que, no evangelho, o possesso geraseno não se demonstra lascivo. Entretanto, a luxúria é a maior impureza de hoje.
[5] Aqui, considero as duas realidades (pecado e experiência de Deus) em si mesmas, a despeito das circunstâncias concretas que determinam a intensidade com que cada pessoa vive as duas coisas. Não ignoro que certas situações sejam mais difíceis do que outras de serem superadas, inclusive por causa de patologias do psiquismo ou do corpo; entretanto, estou convencido de que o poder da salvação, como evento de hoje, é suficiente para conduzir o homem à superação do erro.

domingo, 29 de julho de 2012

Meditando com os ícones: PENTECOSTES


A Festa

A Festa de Pentecostes ou das "Semanas", como a chama o Pentateuco, era para os judeus a «Festa das Primícias» de trigo ou a "Festa da colheita". A Festa, de origem estritamente agrícola, assumiu sucessivamente um sentido histórico-salvacional, ligado às Alianças. Esta acepção, a partir da segunda metade do século II a. C, foi assumida pela Sinagoga que, por sua vez, centrou memória na Aliança do Sinai.

A Igreja Primitiva, por sua vez, não preservou para si estas memórias judaicas, porque teve sua experiência própria: a descida do Espírito Santo. O período sagrado dos cinqüenta dias, recorda o tempo de espera e a efusão do Espírito Santo sobre os Apóstolos, ocorrida no qüinquagésimo dia após a celebração da Páscoa da Ressurreição, marcando o inicio da missão evangelizadora.
O Pentecostes, dia do nascimento da Igreja, é o momento em que o verdadeiro significado da Cruz e da Ressurreição de Cristo se manifesta e a nova humanidade retorna à comunhão com Deus.

A Festa da Aliança do Sinai, que se celebra no mundo hebreu, recordando a entrega das Tabuas da Lei, se converteu, com o cristianismo, na festa dos Dons das Línguas, porque, através delas, cada povo ou nação pode receber o anúncio e retornar à primitiva unidade que se rompeu em Babel. Desde o dia de Pentecostes, a Igreja tomou consciência da Nova Páscoa, segundo havia predito o próprio Senhor: «O consolador, o Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, vos ensinará cada coisa e vos recordará tudo o que eu vos disse».
Pela herança da tradição primitiva da Igreja, os cinqüenta dias, após a Páscoa constituem uma só festa, celebrados com grande júbilo, porque formavam um único acontecimento e tinham a mesma importância do domingo em que celebramos a Ressurreição com toda a solenidade.

Na segunda metade do século IV, a celebração indiferenciada do Mistério pascal, sofreu algumas modificações, obedecendo a ordem cronológica dos eventos da salvação, segundo a narração dos Atos dos Apóstolos. Naquela época, como se deduziu do relato de Egeria, em Jerusalém, o ultimo domingo da cinquentena se celebrava, conjuntamente, tanto o envio do Espírito Santo sobre os Apóstolos, como a Ascensão. Em outras Igrejas, contudo, ia-se estabelecendo a festa da Ascensão no quadragésimo dia após a Páscoa e no qüinquagésimo dia, a Festa da descida do Espírito Santo.

A Iconografia

A iconografia, para a Festa de Pentecostes, é constante, ainda que se registrem variantes mais ou menos significativas, que foram discutidas por teólogos e historiadores da Arte. A mais importante é a presença da Mãe de Deus no centro da reunião dos Apóstolos. A presença da Mãe de Deus no cenáculo é encontrada inicialmente na iconografia dos primeiros séculos como, por exemplo, no Evangeliário sírio de Rábula de 587 e que, mais tarde, foi proposta novamente ao final do século XVI. Sua presença tem sido explicada de diversos modos: referindo à narração dos Atos dos Apóstolos ou no sentido dedutivo, isto é, tendo presente que o evento aconteceu em Sião, lugar onde a Virgem vivia, supõe-se que ela participava do grupo dos Apóstolos.

As razões de sua ausência na iconografia bizantina e na ocidental, durante muito tempo, também têm suas explicações: Maria concebeu pelo Espírito Santo, logo foi transformada por ele, estando plena do Espírito Santo; os textos litúrgicos não oferecem indicações relacionadas, de forma clara e pontual sobre a sua presença e papel, no momento da descida do Espírito Santo. Posteriormente, a re-introdução da presença de Maria na Descida do Espírito Santo, pelo Ocidente e sucessivamente por alguns filões iconográficos bizantinos, trouxe como conseqüência novo significado para o Ícone de Pentecostes e o crescimento do culto mariano.

O Cenáculo e as línguas de fogo

Na parte superior do ícone estão pintadas duas casas, semelhantes a torres. Desde modo, quer se dar a entender que a cena se desenvolveu no piso superior, onde aconteceu a Ultima Ceia, que após a Ressurreição do Senhor se converteu em lugar de encontro dos discípulos e de reunião e de oração dos Apóstolos.

Os edifícios, simétricos, apresentam aberturas somente na parte superior, seguindo as direções das línguas de fogo que são emanadas da esfera celeste, donde partem doze raios.

“Aparecendo em línguas de fogo, o Espírito o faz recordar as palavras de salvação que Cristo recebeu do Pai e transmitiu aos Apóstolos”. Assim se entoa no Cânon das Matinas da Festa.

Os Apóstolos começaram a anunciar a Palavra a partir do momento em que receberam o Espírito Santo e, por estarem unidos, representavam a unidade espiritual dos Sínodos futuros. De forma análoga os ícones que representam os Concílios Ecumênicos reproduzem o mesmo esquema iconográfico.

O Rei

No centro do semi-circulo, imerso na obscuridade, aparece um ancião, com trajes régios e que segura entre suas mãos um grande lenço branco. Em alguns ícones, sobre ele, aparecem doze rolos que simbolizam as pregações apostólicas. O significado desta figura não é unívoco. Parece ter tomado forma a partir do século X. Anteriormente, em seu lugar figurava um aglomerado de povos, de distintas línguas e nacionalidades, como narra os Atos dos Apóstolos. Quando seu nome é indicado, é chamado de “O Kosmos” (o mundo). O velho Rei, pretendia representar o conjunto dos povos e nações que tinham na pessoa do Imperador Bizantino, seu ponto de referência. Tal significado, fruto da evolução conceitual de caráter histórico-político, pode ser mais direto e imediato se o enquadrarmos na estrutura que a rodeia, na assim chamada “Bema Sírio”.

Na tradição arquitetônica das Igrejas Sírias e caldéias, encontramos, com efeito, um elemento do qual resta hoje somente algum sinal: o ambão ou o bema no centro da Igreja. Trata-se de uma tribuna em forma de ferradura colocado no centro da Igreja em frente ao abside e o santuário. Sobre este acontecia a liturgia da Palavra, o anuncio à Jerusalém e ao mundo, onde tomavam acentos os celebrantes. O Rei, então, no centro do semicírculo é o mundo, posto que ele detém o mandato celeste sobre a terra.

O ancião está representado de forma a lembrar a figura do rei David, que representa os “muitos profetas e justos que desejaram ver o que vistes e não viram, e escutar o que escutastes, e não escutaram”.

Em outros casos, o Rei é identificado com o Profeta Joel. O motivo é de natureza litúrgica. Pois, na grande vésperas de Pentecostes, a segunda Leitura vetero-testamentária está extraída precisamente de Joel: «Eu infundirei meu espírito sobre vós, e profetizarão vossos filhos e vossas filhas, e vossos anciãos terão sonhos, e vossos moços terão visões». Profecia esta que foi mencionada por Pedro para justificar o comportamento dos Apóstolos frente aos “homens da Judéia” e a todos aqueles que se encontravam em Jerusalém depois da descida do Espírito Santo.

Os Doze

Os doze estão em geral dispostos nas duas alas do semicírculo e entre os dois grupos está um lugar vazio. O trono vazio simboliza o trono preparado para a segunda vinda de Cristo. Neste caso, a representação assume o significado do Juízo Final, onde os doze se sentarão para julgar as tribos de Israel. Há ícones onde aparece a pomba, símbolo do Espírito Santo; ela é o sinal tangível da realização da economia da salvação com a manifestação trinitária.
O Mistério de Pentecostes, com efeito, não é a encarnação do Espírito, mas a efusão dos dons que comunicam a graça incriada à pessoa humana, a cada membro do corpo de Cristo. A unidade que se realiza na comunhão eucarística é por excelência, um dom do Espírito Santo.


Tradução: Pe. Pavlos, Hieromonge 
Comunidade Monástica São João, o Teólogo

terça-feira, 24 de julho de 2012

DEFININDO O DIREITO À OBJEÇÃO DE CONSCIÊNCIA

Moção na câmara dos deputados insta o governo italiano

ROMA, segunda-feira, 23 de julho de 2012 (ZENIT.org) - A deputada italiana Laura Molteni apresentou à câmara do país, em 24 de maio, o texto que reproduzimos abaixo, sobre o direito à objeção de consciência de médicos e enfermeiros.
Moção 1-01049, por Laura Molteni, 24 de maio de 2012, nº 638.

A Câmara,
dado que:
a Declaração sobre os Direitos da Criança, adotada pela Assembleia Geral das Nações Unidas, em 1959,em Nova Iorque, estabelece no preâmbulo que "a criança precisa de proteção e cuidados, incluindo a proteção legal apropriada, antes e após o nascimento";
no âmbito europeu, a Convenção Europeia dos Direitos Humanos, no artigo 2º, afirma: "o direito à vida deve ser protegida por lei";
a Convenção sobre Direitos Humanos e sobre a Biomedicina, assinada em Oviedo em 1997, traça uma espécie de constituição europeia em matéria de direito de nascer;
a Carta Europeia dos Direitos Humanos, adotada pelo Conselho Europeu de Nice, em 7 de dezembro de 2000, e à qual o Tratado de Lisboa atribui a mesma eficácia jurídica das normas dos Tratados, prevê no artigo 2º, após afirmar no artigo 1º a inviolabilidade da dignidade humana, que "toda pessoa tem direito à vida";
o nosso sistema jurídico, ao estabelecer, nos termos do artigo 10º da Constituição, a obrigação de observarem-se os princípios e acordos internacionais, atribui relevância constitucional aos atos que tutelam o direito à vida desde a concepção;
a Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa reiterou, recentemente (Recomendação nº 1763, aprovada em 7 de outubro de 2010), que nenhuma pessoa, hospital ou instituição será obrigada, responsabilizada ou discriminada de qualquer forma por recusa a cumprir, acolher, assistir ou submeter um paciente a um aborto ou à eutanásia, ou a qualquer outro ato que possa causar a morte de um feto ou embrião humano, por qualquer motivo;
a Assembleia Parlamentar salientou a necessidade de afirmar o direito à objeção de consciência, juntamente com a responsabilidade do Estado de garantir que os pacientes sejam capazes de aceder a cuidados médicos legais em tempo hábil;
A Assembleia convidou o Conselho da Europa e os Estados-Membros a desenvolverem normativas completas e claras que definam e regulem a objeção de consciência em matéria de saúde e de serviços médicos, principalmente destinadas a assegurar o direito à objeção de consciência em relação à participação no procedimento médico em questão e a garantir que os pacientes sejam informados de qualquer objeção de consciência de forma tempestiva e recebam tratamento adequado, especialmente em casos de emergência;
a objeção de consciência exige que sejam levadas em consideração as indicações contidas: no artigo VI dos princípios de Nuremberg; no artigo 10º, parágrafo 2º, da Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia; nos artigos 9º e 14 da Convenção Europeia dos Direitos Humanos; no artigo 18 da Convenção Internacional dos Direitos Civis e Políticos;
o tribunal da Puglia anulou com a sentença nº 3477 de2010 adeliberação do Conselho Regional e os atos relativos da ASL de Bari, que excluía dos ambulatórios a presença de médicos objetores de consciência, considerando que, para os juízes administrativos, a medida viola o princípio constitucional da igualdade, bem como os princípios que constituem a base da objeção de consciência;
mesmo enfatizando-se o valor histórico representado pelos consultórios familiares para a nossa sociedade, é necessário, após mais de 35 anos desde que foi aprovada a lei que previa a sua criação, reconsiderar o seu trabalho e o seu papel atual em nosso país. À luz das mudanças significativas que ocorrem no contexto sócio-cultural atual, é preciso dar nova vida ao que já estava claramente explicado nas intenções do legislador que, em 1975, promulgou a Lei nº 405 (do apoio à família, da educação para a maternidade e paternidade responsáveis, da educação para o desenvolvimento harmonioso tanto físico quanto mental das crianças e da realização da vida familiar), mas que, na prática, foi implementado residualmente, inclusive, por vezes, devido à função meramente burocrática dos consultórios, reduzidos, amiúde, a pura assistência sanitária, carentes da necessária sensibilidade e competência nas questões sociais para as quais foram estabelecidos.
Nesta perspectiva, deve ser considerado como força ativa também o papel dos médicos objetores de consciência dentro dos princípios sócio-sanitários dos consultórios familiares, a fim de se aplicar integralmente a primeira parte da Lei nº 194, de 1978, por meio do real cuidado da mulher a fim de ajudá-la a superar as causas que a levam à decisão de interromper a gravidez, insta o Governo a promover a completa implementação dos princípios de direito descritos na recomendação do Conselho da Europa, definindo o direito à objeção de consciência na área médica e de enfermagem.
(1-01049)
Laura Molteni, Fabi, Rondini, Fedriga, Fugatti, Torazzi, Maggioni, Vanalli, Simonetti, Allasia, Isidori, Consiglio, Negro, Bragantini, Callegari, Desiderati, Cavalotto, Paolini, Meroni, Polledri.
(Tradução:ZENIT)

sábado, 23 de junho de 2012

Olá, amigos.

Gostaria de recomendar o livro Carta ao pai, de Franz Krafka. Acabo de fazer sua leitura e, como todas as obras deste autor, traz uma carga emocional muito forte, ademais, a coragem dele em expor deste modo seu relacionamento do seu pai.

Apesar do título e do estilo ser, da fato, uma carta, Kafka jamais chegou a enviar a missiva.
Penso que todos os pais deveriam ler esta obra. Talvez para evitar que causem os mesmos males e traumas que o pai de Kafka lhe causou. Talvez até mesmo inconscientemente.

Tal foi a marca deixada pelo pai nele, que Kafka chega a dizer: “Meus escritos tratavam de você, nele eu expunha as queixas que não podia fazer no seu peito”.

O intrigante deste livro é o tom triste com que ele fala do pai, mas ao mesmo tempo, sem rancor e mesmo com grande carinho e amor.

Abaixo, transcrevo um trecho que muito me chamou a atenção:

A dá a B um conselho franco, correspondente à sua concepção de vida, não muito bonito, mas de qualquer modo ainda hoje perfeitamente usual na cidade e que talvez impeça prejuízos à saúde. Moralmente esse conselho não é  muito reconfortante para B, mas não há razão alguma para que, no curso dos anos, ele não se recupere do dano; de mais a mais, ele certamente não precisa seguir o conselho e, seja como for, não há no próprio conselho nenhum motivo para que todo o mundo futuro de B desmorone. E, no entanto, alguma coisa assim aconteceu... mas só porque você era A e eu sou B”.

(Carta ao pai, p. 63).

quinta-feira, 21 de junho de 2012

FAMOSO EXORCISTA PE. FORTEA: SACERDOTES DEVEM VESTIR-SE COMO TAL

O famoso sacerdote exorcista espanhol José Antonio Fortea remarcou a importância de que os sacerdotes vistam a batina, como um sinal de consagração a Deus e de serviço aos fiéis.
Numa entrevista concedida ao grupo ACI, durante sua visita ao Peru, onde participou da solenidade de Corpus Christi na cidade de Trujillo, na costa norte do país, o Pe. Fortea indicou que "os clérigos devem vestir-se da mesma forma que os sacerdotes mais exemplares se vestem nessas terras, porque ir identificado é um serviço".
Depois de destacar que é obrigação da Conferência Episcopal de cada país determinar qual é o melhor sinal sacerdotal, o Pe. Fortea indicou que "a minha recomendação a respeito deste tema é que o sacerdote se identifique como tal".
Em efeito, o Código de Direito Canônico, no artigo 284 indica que "os clérigos têm que vestir um traje eclesiástico digno, segundo as normas dadas pela Conferência Episcopal e segundo os costumes legítimos do lugar".
Por outra parte, a Congregação para o Clero, no seu "Diretório para o ministério e a vida dos presbíteros", expressou "que o clérigo não use o traje eclesiástico pode manifestar um escasso sentido da própria identidade de pastor, inteiramente dedicado ao serviço da Igreja".
"Numa sociedade secularizada e tendencialmente materialista, onde tendem a desaparecer inclusive os sinais externos das realidades sagradas e sobrenaturais, sente-se particularmente a necessidade de que o presbítero, homem de Deus, dispensador de Seus mistérios, seja reconhecível aos olhos da comunidade, também pela roupa que leva, como sinal inequívoco da sua dedicação e da identidade de quem desempenha um ministério público", assinala o documento vaticano.
O Pe. Fortea destacou que "não vamos identificados porque gostamos. Pode ser que gostemos ou não. Vamos (identificados) porque é um serviço para os fiéis, é um sinal de consagração, ajuda a nós mesmos".
O presbítero reconheceu a dificuldade de que a um sacerdote a quem desde o seminário não lhe ensinou sobre o valor do hábito de usar a batina, mude depois, entretanto precisou que nos últimos isto anos "foi mudando para melhor".
"É fácil mantê-lo (o hábito), é difícil começá-lo. Mas o sacerdote deve ir identificado", assinalou.
Ao ser consultado se o costume de não usar a batina guarda alguma relação com a Teologia Marxista da Libertação, o Pe. Fortea assinalou que "agora as coisas já mudaram".
"Foi nos anos 70, 80, onde todos estes sacerdotes se viam a si mesmos mais como pessoas que ajudavam à justiça social. Ali não tinha sentido o hábito sacerdotal, o hábito sacerdotal tem sentido como sinal de consagração".
Para o famoso exorcista, "agora já passou isso, mas ficou o costume de não vestir-se como tal e claro, é difícil, eu entendo que é difícil. Mas estas coisas estão mudando pouco a pouco".

Fonte: www.acidigital.com

RIO+20: RESPONSABILIDADE COMUM PELO MUNDO DE AMANHÃ

Declarações do presidente do episcopado europeu sobre a conferência ambiental

ROMA, quinta-feira, 21 de junho de 2012 (ZENIT.org) - O presidente da Comissão dos Episcopados da Comunidade Europeia (COMECE), cardeal Reinhard Marx, arcebispo de Munique, na Alemanha, divulgou a declaração “Nossa responsabilidade comum pelo mundo de amanhã”, a propósito da conferência da ONU sobre o desenvolvimento sustentável, Rio+20.
Em sua declaração, o cardeal Marx relembra o encontro acontecido vinte anos antes, também no Rio de Janeiro. “Inumeráveis pessoas esperam medidas concretas desta conferência, para avançarmos rumo a um modelo de desenvolvimento mais equitativo e duradouro. Num mundo em que milhões de pessoas não têm acesso a uma alimentação suficiente, a água potável, a energia, aos serviços de saúde e de educação, e que além de tudo está ameaçado pela mudança climática provocada pelo aquecimento global, estas medidas concretas são mais urgentes e necessárias do que nunca”.
O cardeal destaca que já na Rio 92 o conceito de “sustentabilidade” era central. Neste sentido, aponta que “o reconhecimento da dignidade do homem está na base de todo desenvolvimento sustentável”. A conferência de 1992, na opinião dele, “já tinha enunciado como princípio de base que o homem deveria estar no centro das reflexões sobre o desenvolvimento sustentável. Ele tem direito a uma vida sadia, em harmonia com a natureza”.
O presidente da COMECE enfatiza que “a sustentabilidade, vista como princípio do desenvolvimento humano integral, tem como objetivo um equilíbrio entre as necessidades essenciais da geração atual e a vida das gerações futuras. A sustentabilidade se torna solidariedade, independentemente de espaço e de tempo. Os esforços para desenvolver 'uma economia verde no contexto do desenvolvimento duradouro (GESDPE)' e as políticas correspondentes, nas quais a conferência atual trabalha, devem ser julgados à luz da sua capacidade de responder às necessidades essenciais de todos os homens, especialmente dos pobres, dos marginalizados e das gerações futuras”.
Além da sustentabilidade, o presidente da COMECE aborda em seu discurso a responsabilidade: “Somos todos responsáveis pela proteção e pelo cuidado da criação. Esta responsabilidade não tem fronteiras. De acordo com o princípio da subsidiariedade, é importante que cada um se comprometa no seu próprio nível, trabalhando para superar a supremacia dos interesses particulares”, afirma, citando Bento XVI na sua mensagem da paz de 2010.
O cardeal Marx trata ainda do desenvolvimento: “A alimentação é o primeiro meio para combater a pobreza e nutrir uma população mundial crescente. É primordial desenvolver um setor agrícola sustentável e regimes de propriedade da terra justos e eficazes”.
O arcebispo alemão também observa que “a emergência de uma 'era pós-petróleo' pesa sobre a utilização das terras agrícolas férteis. Estamos assistindo nos últimos anos a uma competição crescente entre 'colheitas alimentares' e 'colheitas de biocombustível', o que vem levando ao aumento nos preços da comida. Nosso estilo de vida, baseado em consumo perdulário de energia, combinado com a necessidade de reduzir as emissões de CO2 de carburantes fósseis, ameaça a segurança alimentar dos países emergentes. Por isso, 'a economia verde e sustentável' deveria se dedicar intensivamente ao desenvolvimento de produções energéticas próprias e inteligentes, que não causem impacto na produção de alimentos”.
O presidente da COMECE aborda também a cooperação, que “será imperativa no futuro. As instituições deveriam, em todos os níveis de decisão, melhorar a sua cooperação para chegar a um sistema de governança mundial sólida e capaz de assegurar a coerência das políticas empreendidas”.
Reinhard Marx sugere, como encerramento, “uma conversão dos corações e dos espíritos”: “O desenvolvimento não é unidimensional. Não se trata só de lutar com determinação contra a pobreza e contra a fome, pelo acesso à água potável e aos cuidados de saúde e educação para mais de dois bilhões de seres humanos. Depende também do compromisso crucial para desenvolvermos mundialmente um modo de vida sustentável, que contribua para 'a conversão fundamental dos corações e dos espíritos nos países ricos e desenvolvidos'”.
“Em vez de nos deixarmos guiar pelo materialismo e pelos nossos interesses individuais, estamos chamados a nos mostrar generosos e solidários. Temos que trabalhar por uma nova cultura de respeito pela criação, de solidariedade e de justiça, com a meta de conseguir um desenvolvimento humano verdadeiro e autêntico”.
O cardeal conclui o discurso com um apelo à Rio+20: “O mundo espera dos seus dirigentes, reunidos no Rio, que eles se mostrem à altura da sua responsabilidade e prestem contas dos seus compromissos. A Comissão dos Episcopados da União Europeia lhes deseja coragem para escolher as soluções justas”.

terça-feira, 19 de junho de 2012

LANÇADO CLUBE DE LEITORES CATÓLICOS NA INTERNET


Projeto é de editoras do Panamá

PANAMÁ, segunda-feira, 18 de junho de 2012 (ZENIT.org)- As Edições Anab e a Livraria Católica San José se unem para lançar um Clube de Leitores Católicos na América Latina, coordenado a partir do Panamá.
O projeto, segundo os criadores, é “uma rede social, um ponto de encontro na internet, composto por pessoas que apreciam bons livros e a companhia de outros católicos, com interesses e assuntos para intercambiar. No clube nós podemos ler, comprar bons livros e vídeos católicos, compartilhar testemunhos, procurar respostas, expressar pensamentos, nos distrair ou apenas navegar e descansar depois de um dia pesado”.
“Queremos que ele seja um lugar confortável, que facilite a compra de livros e vídeos católicos, com ofertas especiais. Haverá blogs católicos para trocar experiências, reflexões para termos famílias melhores, conselhos para os pais sobre seus filhos. Um círculo de leitura em que comentaremos os livros em grupos toda semana. Haverá livros gratuitos para ler online e links para muitos sites de interesse”.

Para mais informações: www.clubdelectorescatolicos.com

PENSAMENTO DE BENTO XVI É PROMOVIDO NA POLÔNIA


Cardeal Tarcisio Bertone inaugura Centro de Estudos Joseph Ratzinger
Pe. Mariusz Frukacz

ROMA, segunda-feira, 18 de junho de 2012 (ZENIT.org) - Com a participação do Secretário de Estado vaticano, cardeal Tarcisio Bertone, dos membros do episcopado polonês e de representantes da cultura e da ciência, foi inaugurado na cidade polonesa de Bydgoszcz, neste 11 de junho, o Centro de Estudos Joseph Ratzinger.
A inauguração foi acompanhada por uma conferência internacional sobre a encíclica Caritas in veritate, ao mesmo tempo em que era celebrada a XXV Jornada Social em Bydgoszcz.
O objetivo da fundação é dar continuidade ao pensamento teológico de Bento XVI, para difundir a doutrina social da Igreja e refletir sobre os modernos desafios pastorais e sociais.
"A abertura deste centro para o estudo do pensamento de Ratzinger é um marco importante não só na história da universidade Kujawy e Pomorze e na história de Bydgoszcz, mas na história de toda a Polônia", disse Bertone.
O Secretário de Estado comentou que "o centro iniciou suas atividades refletindo sobre a caridade, valor mais alto de todos e base de todas as virtudes. A caridade leva as pessoas a lutar com coragem e abnegação pela justiça e pela paz".
Uma das funções do novo centro é contribuir para estimular a comunidade acadêmica a encarar novos desafios. O cardeal afirmou que "a universidade deve sempre ser capaz de fazer perguntas, como fez o papa Bento XVI: ‘será verdade o que dizem aqui? Se é verdade, como ela me afeta? E como se aplica?’ ".
O secretário de Estado destacou que "a Igreja não tem medo de falar das grandes questões humanas, que se relacionam com a verdade e com o futuro. Entre essas perguntas, temos também as que se relacionam com a economia".
O cardeal explicou que "a reflexão sobre a ética e a economia precisa colocar o homem no centro, para avaliar o progresso da sociedade".
No final do seu discurso, Bertone destacou que a dignidade humana é reconhecida à luz da fé e da razão, dois faróis para a ciência social e no pensamento de Joseph Ratzinger.
Para o bispo de Bydoszcz, dom Jan Tyrawa, o novo centro será um lugar de construção da cultura, que promoverá a compreensão e o estudo da teologia de Joseph Ratzinger, organizando conferências e dando destaque ao prêmio "Master de Ratzinger". O centro tem ainda o objetivo de coordenar e aumentar a cooperação entre universidades polonesas e estrangeiras.

domingo, 6 de maio de 2012


"APASCENTA AS MINHAS OVELHAS" (Jo 21, 17)


Tema da RCC 2012
Para este ano de 2012 a Renovação Carismática Católica tem como inspiração a passagem do Evangelho de João, capítulo 21, versículo 17: “Apascenta as minhas ovelhas”. De início, podemos perceber o que o Senhor quer dizer ao movimento para este ano. Trata-se sobre do carisma do cuidado, do pastoreio, do zelo apostólico que cada cristão é chamado a desenvolver.
De um modo particular, para nós que fazemos este curso de liderança, esta passagem nos diz muito. Podemos tomar toda a narrativa bíblica para esclarecermos melhor esta passagem:

“Tendo eles comido, Jesus perguntou a Simão Pedro: Simão, filho de João, amas-me mais do que estes? Respondeu ele: Sim, Senhor, tu sabes que te amo. Disse-lhe Jesus: Apascenta os meus cordeiros. Perguntou-lhe outra vez: Simão, filho de João, amas-me? Respondeu-lhe: Sim, Senhor, tu sabes que te amo. Disse-lhe Jesus: Apascenta os meus cordeiros. Perguntou-lhe pela terceira vez: Simão, filho de João, amas-me? Pedro entristeceu-se porque lhe perguntou pela terceira vez: Amas-me?, e respondeu-lhe: Senhor, sabes tudo, tu sabes que te amo. Disse-lhe Jesus: Apascenta as minhas ovelhas” (Jo,15-17).

Esta passagem costuma ser interpretada – e acertadamente – como sendo a “remissão” de Pedro. Ou seja, Jesus pergunta três vezes a Pedro em virtude da tripla negação que este fizera anteriormente ao ser perguntado se era discípulo de Jesus (Cf. Mt 26,69-75; Mc 14,66-72; Lc 22,31-37). No entanto, gostaria de dar aqui uma outra interpretação feita pelo então Cardeal Ratzinger, Papa Bento XVI, no livro Os apóstolos.
Se tomássemos o texto no seu original grego, na realidade, veríamos um jogo de palavras que Jesus faz neste diálogo com Pedro. Além de Pedro retratar-se com o Mestre, esta passagem nos mostra Jesus ensinando o apóstolo a medida correta do amor e do pastoreio deseja por Ele.
Quando da primeira pergunta feita a Pedro se ele amava a Jesus, o Mestre utilizou o verbo grego agapâs-me, que significa o amor incondicional, totalizante. Ao que Pedro responde: filô-se. Portanto, o amor imperfeito, condicional, meramente humano. “Te amo, com meu pobre amor humano[1].
Jesus, uma vez mais pergunta a Pedro se ele O amava (agapâs-me?) e Pedro, na tentativa de alcançar a exigência de amor a qual Nosso Senhor o chamava responde “Kyrie, filô-se” (“Senhor, te quero como sei querer”[2]).
Jesus, ao perceber que Pedro ainda não estava pronto para responder à medida exigida por Ele, como que aceita este pobre amor humano e o torna suficiente para conferir o ministério petrino ao apóstolo. Jesus muda o verbo para Pedro “caber” no amor divino. Ele pergunta uma terceira vez: “Fileis-me?”. Por isso Pedro ficou triste, por não corresponder à medida do Senhor.
Jesus sabe de nossas fraquezas e limites. Embora nos coloque como meta o seu amor incondicional (Ágape), se rebaixa ao nosso Filia, aceitando-o e transformando-o.
Assim deveria ser o nosso pastoreio. O líder deve saber impor metas ousadas aos seus, mas ao mesmo tempo, saber esperar o tempo de cada um em responder a este apelo. O líder deve constantemente “mudar o verbo” a fim de não perder as pessoas a quem o Senhor nos confiou.
Evidente que no fim da vida, Pedro mostrou que havia aprendido a lição e amou Nosso Senhor até o fim, ao ser martirizado e crucificado.
Mas afinal, qual a medida de amor? O próprio Jesus nos dá esta resposta alguns capítulos antes:

“Eu sou o bom pastor. O bom pastor expõe a sua vida pelas ovelhas. O mercenário, porém, que não é pastor, a quem não pertencem as ovelhas, quando vê que o lobo vem vindo, abandona as ovelhas e foge; o lobo rouba e dispersa as ovelhas. O mercenário, porém, foge, porque é mercenário e não se importa com as ovelhas. Eu sou o bom pastor. Conheço as minhas ovelhas e as minhas ovelhas conhecem a mim, como meu Pai me conhece e eu conheço o Pai. Dou a minha vida pelas minhas ovelhas. Tenho ainda outras ovelhas que não são deste aprisco. Preciso conduzi-las também, e ouvirão a minha voz e haverá um só rebanho e um só pastor” (Jo 10,11-16).

Portanto, o bom o bom pastor dá a vida por suas ovelhas. Esta é medida de amor que nós, enquanto lideres, precisamos ter como meta. Mas, o que significa dar a vida? Não que necessariamente que seja o caso derramar o sangue, mas dar a vida pode assumir formas as mais variadas em nosso dia-a-dia: um simples olhar dirigido ao irmão que precisa, gastar um pouco de tempo escutando e acolhendo o outro, uma ligação, visita a quem está doente ou afastado, preparar bem a acolhida e todo o momento do grupo de oração. Enfim, trata-se de ter o cuidado necessário para com as ovelhas do Senhor.
Um outro aspecto que chama a atenção nesta passagem é que Nosso Senhor chamar o pasto de bom. Se observarmos bem, são três as principais atividades econômicas no tempo de Jesus e, ele mesmo, se vale delas para explicar sobre o Reino de Deus: o pescador, o agricultor e o pastor.
Mas apenas no pastoreio Ele utilizada o qualificativo bom. Naquele tempo, tanto os pescadores quanto os agricultores gozavam de boa reputação perante a comunidade. O que não acontecia com os pastores. Nem todos eles eram boas pessoas. Muitos daqueles que exerciam tal função eram marginais e criminosos que, fugidos, viviam nas montanhas e sobreviviam desta atividade. Jesus, então, redime a função de pastor ao dizer que ele é bom. Sua intenção era, justamente, mostrar que o Evangelho é para todos, sobretudo, os pecadores.
Ele se diz bom pastor ainda porque aqueles maus pastores, por terem o único desejo de fugir das autoridades, ao verem o lobo, imediatamente fugiam e deixam os rebanhos[3] à mercê dos predadores. Este não era o pastor, mas mercenário. Em vez de olhar o rebanho, dormia junto à porta e não saberia diferenciar a quem pertenciam as ovelhas que deveria cuidar.
Jesus, ainda, se compara com a porta. Ou seja, além de ser Ele o Bom Pastor, que expõe a vida pelas ovelhas e que as conhece, ao dizer que é a porta, significa o mesmo que “eu defendo você”[4]. A porta oferece segurança. Esta comparação diz muito à liderança. A nossa medida de amar é o amor de Deus, incondicional, Ágape, fruto do nosso amor a Deus.
Ao mesmo tempo, se quisermos ser bons pastores, devermos ser como a porta do aprisco, defender nossas ovelhas. Evidente que não significa não ver os erros dos irmãos e “passar a mão da cabeça” deles. Significa protegê-los do lobo, do inimigo, do pecado e das ocasiões de pecado, formando-os à luz da Palavra de Deus e do Magistério. Significa, ainda, defender a Igreja e seus ensinamentos.
Por fim, ser o bom pastor é alguém que tem zelo pelo ministério confiando por Deus. A palavra zelo vem do grego zelos e significa “chegar ao ponto de ebulição”[5]. Em outras palavras, o pastor zeloso é alguém inflamado por aquilo que faz.


Francisco Elvis Rodrigues Oliveira


[1] BENTO XVI, Os apóstolos, p. 50.
[2] Ibidem.
[3] Utilizo rebanhos, no plural, pois naquele tempo, os pastores usavam um aprisco em comum e contratavam alguém para vigiá-los a noite (o mercenário).
[4] VELLA, Frei Elias. O líder de fé, p. 64.
[5] Ibidem, p. 21.