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quarta-feira, 17 de agosto de 2011

O TODO É A SOMA DAS PARTES

O TODO É A SOMA DAS PARTES
Vida em comunidade e condomínio
Por Elvis Rodrigues

Viver em condomínio, de fato, não é uma tarefa fácil. Há quem defenda, inclusive, que, idealmente, para se viver em um ambiente assim, deveria haver algum tipo de “seleção”, “entrevista”, para ver o “perfil” do novo morador e sua adequação às regras de convivência ali estabelecidas.
Até certo momento cheguei a concordar com ideias semelhantes, contudo, após mudar de condomínio e ver que os problemas são os mesmos em todos os lugares mudando apenas a proporção, dei-me conta que isto faz parte da natureza humana, o que me faz chegar a algumas reflexões.
Parece que, em certo momento da história, temos perdido o “jeito” de lidar com o outro, de conviver em sociedade e comunidade. É como se o outro humano com quem convivemos fosse um estranho ou mesmo uma ameaça e tendemos a demarcar o nosso limite como sistema de defesa. Por exemplo, se alguém andava pela rua à noite e ouvia passos de outra pessoa se aproximando, imediatamente pensava-se: “Graças a Deus, vem vindo alguém!”, porque se sabia agora acompanhado e aumentava a sensação de segurança. Hoje em dia, se, do mesmo modo, alguém está caminhando à noite pela rua e ouve os mesmos passos, de modo diferente vai pensar: “Ai meu Deus, vem vindo alguém!”.
Veja que há uma total estranheza do indivíduo para com o outro indivíduo. Agora, imagine esse conjunto de estranhezas e temores individuais e você terá um condomínio. Ou, para dizer de outro modo, teremos a figura do vizinho. Este ser que não conhecemos, não queremos conhecer e, por não conhecê-lo, chegamos a pensar que não existe.
Tanto pensamos que não existe que pensamos poder ligar o som de nossos aparelhos às alturas sem o menor receio de incomodar alguém. Por quê? Porque este “alguém” não existe! Podemos falar utilizar ferramentas ruidosas (furadeiras, martelos e congêneres) em qualquer horário, porque não pensamos mais no outro que mora ao lado (ou embaixo, acima, etc.). Tamanha é a arrogância que pode-se cair no risco de pensar subliminarmente que todo o prédio e áreas comuns (o que é comum mesmo? Lembra comunidade. Mas o que é comunidade?) foram feitos para o meu bel-prazer. Isso que é uma incorporadora que entende de custo-benefício: toda uma edificação exclusiva para uma pessoa!
Evidente que escrevo isso em tom jocoso. Mas é preciso que chame a atenção: viver em condomínio, como em qualquer outra vizinhança é um reflexo do nosso agir como cidadãos na sociedade. O tal do “jeitinho brasileiro” fica muito evidente nestas relações mais próximas do dia-a-dia.
Por exemplo, se no estatuto ou convenção coletiva (o que é coletivo mesmo?) proíbe que se use as torneiras do prédio para lavar o carro; andar sem camisa em áreas comuns (elevador, corredor, hall, estacionamento, etc.); som alto ou atividade ruidosa fora de horário; desrespeitar a delimitação das vagas dos automóveis e uma série de outras normas de conduta, o indivíduo “jeitoso” acaba por pensar que tudo está correto e bem elaborado, mas, para os outros. “As normas e leis não se aplicam mim”. Afinal, “vou e volto rapidinho, para quê vestir uma camisa?”, “é só uma marteladinha, uma furadinha, bem rapidinho”. E de “inho” em “inho” o “inho” do vizinho vai sendo perturbado e não tendo seu direito ao silêncio e sossego respeitado. Cabe aqui boa e velha regra de ouro: o meu direito termina onde começa o do outro.
Uma dica de convivência para estes ambientes de condomínio é justamente a informação. Procurar se informar das regras de convivência daquele local. Toda sociedade tem as suas e, o condomínio como uma “sociedade em miniatura” também tem as suas e precisam ser obedecidas. O problema é que, do mesmo modo que no Brasil as penalidades nem sempre são aplicadas, a fim de corrigir os cidadãos infratores, também nestes ambientes de convivência não são diferente. Isto dá uma sensação de impunidade aos que perturbam a ordem e de desgosto e desgaste aos que compreendem, cumprem e exercem seus compromissos.
Quando entramos em um ambiente estranho ao nosso, onde não existe apenas a vontade de um indivíduo, mas de uma coletividade, é preciso adequar-se ao meio e não o contrário. Saber os limites, até onde se pode ir, o que pode se utilizado, o que pode ser feito e como pode ser feito, enfim. São pequenas normas de convivência para qualquer ambiente. Passando pelo ambiente de trabalho, escolar, acadêmico, religioso, partidário entre outros, todos estes espaços terão suas normas e aquele indivíduo, para ser aceito e assimilado pelo grupo deverá adequar-se ao meio. Jamais o contrário. Evidente que ideias, posturas, normas e leis podem ser modificadas, mas nunca unilateralmente. Sempre em conjunto.
Aliás, a própria significação do termo indivíduo é interessante: que dizer não dividido. Portanto, ao nos colocarmos como indivíduos e exigir que nossa individualidade seja respeita não significa somente que tal solicitação recairá exclusivamente sobre aquela pessoa, unicamente, mas, por não ser dividido e fazer parte de um todo, o indivíduo, ao exercer e exigir quaisquer direitos deve ter em mente que o está fazendo, de igual modo para o todo, a coletividade. Não somos divididos. Fazemos parte de um grande todo chamado comunidade, coletividade, ou se preferir, vizinhança, condomínio.

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