Por Francivaldo da S. Sousa (Vavá Silva)
Consagrado na Comunidade Remidos no Senhor
Para ser honesto, tenho me preocupado
com a situação atual da música católica. Já aludi a isto em artigo anterior,[1] ocasião
em que expressei minha angústia quanto à imigração dos nossos cantores para
gravadoras seculares. Desta vez, porém, a questão é outra. Diz respeito, antes
de mais, à infiltração desacanhada da musicalidade protestante no cenário do
catolicismo.
Há algum tempo, ao se ouvir uma
música cristã sendo cantada em determinado ambiente (praça, trio-elétrico,
igreja), era possível saber facilmente se se tratava de um grupo católico ou
evangélico. De um certo período para cá, isso está ficando cada vez mais
difícil. Qual a razão disto? Um número significativo de canções gospel sendo gravadas
por cantores católicos: Anjos de Resgate, Celina Borges, Padre Marcelo Rossi,
Fábio de Melo e Adriana Arydes, são alguns dos que integram essa lista. Esta
última, inclusive, gravou recentemente um disco quase inteiro com canções
evangélicas. Não só: a produção musical do último CD e DVD ao vivo de Adriana
Arydes também foi encabeçada por um protestante.[2]
Existe algum mal nisso? Em certa medida,
não! Todavia, isso levanta algumas questões: a inserção de composições gospel
nos Cd’s católicos é motivada por razões meramente comerciais, ecumênicas, ou estaria
sinalizando uma crise pela qual passa a nossa música atualmente?
Se a resposta for a primeira
alternativa, significa que não estamos sendo fiéis ao nosso chamado, enveredando
pelo caminho da conveniência. Se for a segunda, estamos entendendo o ecumenismo
de maneira redutiva, pois este não se faz unilateralmente.[3] Caso
concluamos que o problema está numa suposta crise que a música católica
atravessa, precisamos refletir seriamente sobre isso, à luz do evangelho,
buscando identificar onde ela se originou e quais os meios de solucioná-la.
Parece-me que, ultimamente, um
número considerável de nossas composições tem falado mais de seus autores e de suas
crises pessoais do que mesmo de Cristo. Biblicamente, a música deve estar a serviço
do louvor e da adoração, não do artista (cf. Sl 149, 1-3; 150, 3-5; Ap 14, 3).[4] Deveria
ser, portanto, um meio e não um fim em si mesma. Ademais, se os nossos
repertórios musicais não nascerem de uma profunda relação com Deus e do sopro
inspirador do Espírito Santo, não passarão de um “címbalo que retine” (I Cor
13, 1).
O fenômeno ao qual me referi no
início suscita ainda outras indagações: encontramo-nos perante uma “catolização”
da música evangélica ou “protestanização” da música católica? Ambas as opções,
penso eu, colocaria em risco a identidade musical tanto de uma quanto de outra
religião, o que não seria interessante para nenhuma das duas.
Podemos e devemos estar abertos ao
fomento do ecumenismo também na esfera musical? Sem dúvidas. Estabelecer
limites, porém, é imprescindível para uma relação salutar e o enriquecimento
mútuo. Por razões de estima pelo talento do outro, vigiemos para não
desmerecermos aquilo que é nosso.
Email do autor:
vavasilvaremido@hotmail.com
[1]
Disponível em: http://remidosnosenhor.com.br/site/2011/06/14/esse-som-e-livre-mesmo/
[2]
Refiro-me ao Adelso Freire, da Banda Giom. As canções evangélicas gravadas
por Anjos, Celina e, sobretudo, Adriana, são quase todas de sua autoria.
[3]
Ao que me recordo, nunca soube de uma música católica ter sido sequer cantada em
um show evangélico, muito menos gravada em CD ou DVD gospel.
[4]
Apesar da inexistência de um fundamento bíblico explícito, poderíamos, contudo,
acrescentar um terceiro elemento ao
qual a música cristã deve servir: a evangelização.
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