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sábado, 2 de outubro de 2010

COMUNICANDO A PALAVRA

Outro dia, ao chegar em casa percebi que o condomínio onde moro estava todo sinalizado com placas de limite de velocidade, locais proibidos de estacionar; placas indicando para não jogar lixo no chão, não buzinar, proibido som e assim por diante. Tudo com o intuito de estabelecer um melhor ordenamento entre os condôminos e comunicar bem as regras de boa conduta interna. Contudo, qual foi minha surpresa ao ver, logo na entrada da portaria, o seguinte aviso: “Cuidado! Crianças no condomínio!”. Inevitavelmente pensei comigo: “Nossa! Elas devem mesmo ser muito perigosas!”

Brincadeiras à parte e fazendo uma analogia com este ocorrido, podemos analisar o fato e tentar aplicá-lo ao nosso ministério de pregadores da Palavra de Deus. Ou seja, como é importante nos comunicarmos bem e transmitir a mensagem do Senhor de tal forma que ela consiga chegar em sua inteireza àqueles a quem ela se destina, a fim de evitar desvios e interpretações distorcidas do anúncio proclamado.

No exemplo acima, a intenção da placa era informar aos motoristas quanto à presença de crianças no condomínio alertando-os, assim, a trafegarem com cuidado nas dependências do mesmo, a fim de evitar acidentes com as crianças que, porventura, estivessem nestes espaços. No entanto, esta mensagem – originalmente bem intencionada – deixou margem para outras interpretações diferentes da que se desejava. Desse modo, a mensagem correu o risco de não comunicar o que se propunha, ou comunicar com ineficiência e ineficácia.

Não podemos correr o mesmo risco quando a mensagem que desejamos transmitir e comunicar é a Palavra de Deus. Evidente que por si mesma ela já comunica e fala aos corações, mas Deus se faz precisar dos nossos lábios para ser anunciado. Portanto, naquilo que competir aos pregadores, precisamos fazer com que a palavra anunciada seja palavra recebida. Esta, por sua vez e com a graça de Deus, se tornará palavra vivida.

Podemos, então, nos perguntar se existe algum método para fazer com que isto aconteça. Ora, a pregação da Palavra de Deus, embora essencialmente deva ser inspirada e conduzida pelo Espírito Santo, também é um método de elocução. Desse modo, o Espírito age por meio das faculdades humanas, com todos os seus limites e potencialidades. Como método, esta forma de elocução (oratória sacra ou homilética) também pode ser composta de alguns recursos e técnicas que auxiliam no momento em que a mensagem é verbalizada.

Como técnica de comunicação, a oratória sacra também trilha um caminho. Sabemos que toda comunicação tem seu ponto de partida no chamado “agente emissor”. Existe, ainda, o “agente receptor”, ou seja, a quem se destina a mensagem. Entre o primeiro e este último existe um espaço intermédio que se poderia chamar de “canal transmissor”. Isto implica dizer que a comunicação para acontecer precisa, fundamentalmente, de três elementos: 1) agente emissor: canal de onde se origina a mensagem (pode ser um quadro, um cartaz, vídeo, música, texto e, no nosso caso, o(a) pregador(a). 2) canal transmissor: o meio pelo qual será enviada, transmitida a mensagem (rádio, televisão, exposição visual ou oral, etc). 3) agente receptor: o objeto de destino da mensagem (no caso da pregação, a assembléia para a qual nos dirigimos). Assim, a comunicação só poderá acontecer se estes três elementos estiverem presentes. A ausência de um deles indica que não houve comunicação.

Não adianta ter um canal de transmissão disponível e um público pronto para receber a mensagem se esta não for comunicada, ou seja, se faltar o transmissor da mensagem. Do mesmo modo, se houver o agente transmissor para enviar a mensagem e um público que a receba, mas se faltar o canal por onde ela seja transmitida – ou se o mesmo não for adequado – a mensagem não chegaria ao destino ou chegaria incompleta, incompreensível e inacessível. Portanto, ainda não haveria se estabelecido uma comunicação.

Se, por fim, houvesse um agente emissor pronto a enviar a mensagem e meios para transmiti-la, mas se faltar quem receba a mensagem, de igual forma, a comunicação seria ausente, pois não haveria um para quem (caráter teleológico da pregação), o destino final da mensagem e início da comunicação. Digo início da comunicação porque, como veremos, a comunicação exige reciprocidade. Ela vai, mas também retorna.

Destes três elementos, apenas um pode ser controlado e trabalhado diretamente pelo pregador. O outro pode ser administrado conforme as circunstâncias, mas ainda foge de seu controle. Por fim, o último elemento não está sob o controle do pregador, tornando-se mesmo imprevisível, mas pode, em contrapartida, influenciar diretamente o pregador no seu anúncio.

O elemento sobre o qual o pregador possui algum tipo de controle e pode realizar algum trabalho para melhorar a comunicação é ele mesmo, ou seja, o transmissor da mensagem. Pode melhorar sua transmissão de inúmeros modos, sobretudo, a vida de oração e abertura ao Espírito Santo. Mas também pode trabalhar sua dicção, a concatenação de suas idéias, a lógica da exposição, a maneira como se relaciona com a assembléia, a projeção de sua voz, o conteúdo de sua pregação, sua postura e etc. Desse modo, se não se tem controle sobre a transmissão da mensagem nem da assembléia que a recebe, o pregador precisa desenvolver ao máximo aquilo que lhe compete e pode melhorar: ele mesmo.

O segundo elemento que se apresenta e sobre o qual não se tem um total controle é o canal de transmissão. Isto se deve ao fato de agentes exteriores que interferem positiva e negativamente na pregação da palavra. Por exemplo, se o local onde acontece a pregação for muito quente, barulhento, dispersivo, o som do microfone não for o adequado, distração, entre outros. Tudo isto pode comprometer a recepção da mensagem, pois o canal por onde ela passa, podemos dizer, não distribui integralmente a mensagem. Um local barulhento, por exemplo, pode impedir a assembléia de escutar tudo que o pregador anunciou. Um local muito dispersivo pode desviar a atenção da assembléia para outras coisas que não a Palavra de Deus anunciada, o que também comprometeria a chegada e acolhida da mensagem.

Por fim, poderíamos dizer que sobre a assembléia não se teria algum tipo de controle no sentido de antecipar sua reação à recepção positiva ou negativa do anúncio proclamado. E, neste sentido, cada pregação reserva uma novidade, pois cada assembléia receberá de um jeito próprio a Palavra que vai ser pregada. Esta resposta da assembléia àquilo que é pregado vai influenciar o pregador durante sua proclamação.

Com estas observações fica-nos evidente dizer que uma vez que não temos como controlar ou prever as condições em que a Palavra será anunciada (barulhos, distrações, interferências) e, tampouco, como a Palavra será acolhida (reação da assembléia), compete a nós – os pregadores – desenvolver, moldar e formar aquilo que nos restou para trabalhar: nós mesmos. Neste sentido, nós somos e precisamos ser cada vez mais a matéria-prima de onde Deus se faz utilizar para anunciar sua Palavra. Somos o barro de onde Deus nos faz novos homens e mulheres. Somos a argila da qual o divino oleiro vai moldando e conformando à sua santa vontade.


Francisco Elvis Rodrigues Oliveira
(Ministério de Pregação – RCC/CE)

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